Tuesday, January 30, 2007

O Espelho Do Banheiro

Às vezes as pedras são o caminho.
A sua estupidez sóbria
ou mais um copo de vinho?

Amor é uma palavra que alguém inventou.
E agora você usa o nome
para essa tua pequena dor tão comum.

Não há como conviver com sonhos que se realizam.
Melhor assim não é o mesmo que podia ser pior.
Quem sabe da tua vida é o espelho do banheiro.

Monday, January 29, 2007

Aprenda Com Os Gatos, De Novo

Acima, Ceará, um gato pop, mas
razoavelmente cético quanto ao
futuro dessa josta toda

William Burroughs escreveu sobre suas experiências com os gatos, no adorável "The Cat Inside", tirando qualquer possibilidade de originalidade que eu pudesse vir a ter, mas jamais me pretendi original. No post anterior eu mencionei minhas lições com os gatos, tentando jogar um gancho sobre a "outra lição" que não mencionei, mas não funcionou, ninguém ficou curioso. (Anteriormente secretamente desejei derrubar a cristandade com meu gracejo sobre Jesus, mas foi igualmente ignorado. O terrorismo jamais pode ser sutil).
Mas lá vai o que ninguém quer saber. Estava eu na minha boçalidade humana, tão humana, mostrando uma imagem de um gatinho na TV para meu gatinho caçula, o Ceará. Consegui até fazê-lo olhar para a figura, mas foi tudo. Ele olhou para mim em seguida, impaciente e entediado com meus equívocos, e disse, mudamente, ao modo dos gatos, com seus olhos: "Um gato é um gato, não a imagem de um gato".
E aí lembrei de todos nós que levamos mais a sério a imagem distorcida do que chamamos de espelho (ou você acha que os espelhos refletem fielmente a realidade?) do que aquilo que realmente somos. E lembrei dos meus amigos que constroem suas vidas em cima de personagens supostamente cults de filmes pretensamente artísticos (meus amigos não fazem isso, só meus inimigos). E minha mente não parou mais de lembrar de pobres mulheres enlouquecendo com seu fracasso por não atingir as curvas de mulheres retratadas em telas de TV, computador ou em reproduções fotográficas. Meu gato me inrterrompeu com um olhar no qual me chamava de babaca, nessa mania de criticar o comportamento alheio.
Se Moisés houvesse ficado só mais um minutinho em cima da montanha, teria tomado nota do décimo-primeiro mandamento,"Deixa o cara". Ou seja, se o cara está feliz, deixa ele lá. Deixa ele lá mastigando tachinhas, ouvindo Jethro Tull ou pulando da janela do décimo terceiro andar. EU SEI EU SEI EU SEI.
Aliás, Ceará está aqui no meu colo nesse momento e pede a palavra:
" Esqueçam tudo que meu dono disse. No calor ele fica assim mesmo, meio insuportável. Só não esqueçam do que realmente importa, a saber. A imagem de uma coisa e a coisa são coisas diferentes. Miau."

Sunday, January 28, 2007

Fatter Happier

Olho para a minha barriga que cresce. Férias é um bom período para engordar. Já disse mil vfezes e digo de novo, minha barriga reflete meu lifestyle, se gosto do modo como vivo, gosto da minha barriga. Poderia malhar e perdê-la, mas detesto esforço físico inútil. Além do mais, estaria fazendo isso por quem? Não por mim, na boa.
Essa loucura por padrões estabelecidos sabe-se lá por quem. Um exemplo: minha gatinha Miss Kittin fez uma operação, para tirar um granuloma nas costas e foi castrada também. Meia dúzia de pessoas pareceu muito preocupada com a possibilidade de que não cresçam mais pêlos nos locais das incisões. Eu me toquei que ela não se importa nem um pouco com isso. Nem eu me importo.
Parece tão óbvio que se alguém é tonto o suficiente para ter alguma opinião a respeito da barriga alheia, esse alguém deve ser mantido à distância, não?
Mais uma lição dada pelos meus gatinhos. Depois falo da outra lição.

Monday, January 22, 2007

Tudo É Impossível ou Nada É Possível

Não, não é só a música que é impossível. Claro que o problema é comigo, até esse blog eu não uso da maneira certa. Eu sou pessoal, faço referência a pessoas que existem de fato, depois misturo isso com as minhas mentiras de sempre.
É tudo claro para mim, eu sempre sou direto, mas toda vez me pego tendo que explicar mais uma vez, explicar mais uma vez que os erros fazem parte do processo. Que eu gosto dos erros. OK, acabei de descer da montanha com minhas mais de 10 idéias favoritas, a saber:
- Música é tudo. O resto vem depois, porque o resto eu não entendo e em algum momento me chateia. Música também me chateia às vezes, mas quando isso acontece, eu é que estou mal.
- Em tempos de cinismo é preciso ser absurdamente romântico, mas não no sentido "novela das 8" do termo, afinal essa concepção de romantismo também é cínica. É preciso sentir as coisas com muuita força, de olhos fechados, como eu já disse aqui antes em algum lugar.
- Os gatos são seres superiores.
- É um perigoso sinal de decadência de uma sociedade quando a geração atual idolatra a geração passada. Devemos odiar nossos pais, senão somos uma farsa.
- Todas as mulheres são loucas.
- É preciso estabelecer uma definição absoluta do que é amor que seja universal, para acabar com todos esses equívocos.
- Tem gente demais no mundo.
Vou parar por aqui, senão eu digo tudo que tem na minha cabeça e esgoto as possibilidades desse blog.

Saturday, January 20, 2007

A Música Impossível

Quando eu era um adolescente trancado no meu quarto numa eterna tarde cinzenta e abafada, eu li uma frase do Lou Reed numa revista de rock (E olha só a sucessão de erros: um adolescente trancado no seu quarto numa cidade em que a proporção de meninas é de 7 para cada homem segundo pesquisas não-oficiais fraudulentas e pocuo confiáveis; levando a sério uma revista de rock; e finalmente dando crédito ao que o Lou Reed fala) em que ele dizia "As pessoas morrem por razões tão estúpidas, elas devia morrer pela música!". Isso somado ao verso de When The Music It's Over dos Doors "A música é sua única amiga/Até o fim" me convenceram, me convencem até hoje de que tudo que tenho é a música. Todo o resto é tatear no escuro. Andar vendado à beira do precipício. Correr na névoa. Essas diversões de fim de tarde.
Só consigo me comunicar com os outros realmente (até certo ponto. Quem me conhece sabe da minha idealização da comunicação) através da música. Outro dia conheci uma pessoa pela internet, ela me mandou uma foto e eu uma cover do Bowie cantada por mim. Eu cantando Bowie é uma expressão muito mais fiel (e charmosinha) do que uma foto qualquer, na qual invariavelmente saio com cara de panaca.
Só que é tão difícil. Fazer música não, quando estou inspirado eu me sinto como Deus, mas, todo o resto do processo. Músicos, gravações, essas coisas. Os músicos são seres muito diferentes de mim e eu mal consigo dizer bom dia a eles. Por outro lado, a opção de fazer música é masturbatória demais para mim, e esbarra nas minhas limitações, que não são poucas e se espalham por todos os lados.
Eu sei como as músicas soam dentro da minha cabeça, mas tenho uma tremenda dificuldade em dar forma às coisas. É diferente de escrever, porque eu não me importo com meus escritos, por exemplo. Escrevo aqui como quem picha num muro, só que é seguro. Um blog é uma coisa meio idiota e isso me liberta, porque não fica aquela coisa pedante de Grande Arte, nem nada assim.
Com a música é diferente. Sou capaz de brigar com alguém de quem eu gosto muito por ela não ver graça no "What's Going On" do Marvin Gaye. Tenho essa visão ultrapassada, totalmente do século XX, de que a música é algo sério. A música pop mudou minha vida, desculpe se entendi errado.
Acaba aqui o post, mas o assunto continua dentro da minha cabeça.

Monday, January 08, 2007

Se quiseres confia na cruz: mas lembre-se de que ela não deu sorte a Jesus.

Voadora

Se há uma coisa que não colabora de forma alguma com a beleza e a elegância feminina, essa coisa é pular da janela do décimo-terceiro andar. Aliás, pular da janela não é exato, ela despencou da sacada, mas não se diz "pulou da sacada". Não se diz o que se deve, e talvez a culpa toda seja das palavras, imprevisíveis. Será que ela gostaria que eu contasse sua história ou o salto mudo é a sua história e o resto todo prólogo longo demais? Dizer nada seria mais seguro, mas conforto é para os canalhas, e eu já ia dizendo antes das palavras entrarem no caminho de qualquer jeito.
Ela que sempre foi tão graciosa, sempre tão senhora dos seus movimentos, desabou sem a menor cerimônia e se espatifou na calçada, alheia aos sentimentos dos transeuntes. Definitivamente o ato não era de seu feitio, desconfio que estivesse alguns passos além de seus limites normais. Eu só posso supor, porque ela não vai falar nunca mais.
Observei sua queda com as duas mãos postas sobre o parapeito, sem palavras. Tive a impressão então de que jamais as usaria novamente, permaneceria mudo até que caísse de minha sacada também. Entretanto, quando ela se dissolveu numa mancha vermelha lá embaixo, uma frase se formou nos meus lábios: "Que coisa desagradável!"
Não posso admitir que ela tenha feito o que fez com aquele corpo dela. Aquele corpo que há cinco mil anos atrás me fizera vencer minha habitual timidez e abordá-la numa festa, mal contendo a saliva. Não só a saliva, um homem inflamado de desejo quer transbordar-se por toda a parte, toda a sorte de secreções luta para encontrar uma saída. Eu disse homens, mas acho que mulheres também. Talvez a paixão seja líquida.
Na mesma noite em que a conheci já estava completamente apaixonado por aquele ser. Todo o meu corpo fervia com a ânsia de tomar aquele corpo para mim até o fim da minha vida. E destruí-lo lentamente a cada dia, como deseja todo homem sinceramente apaixonado. Aqui eu digo homem, mas não sei quanto às mulheres. Da última vez que perguntei a uma delas, ela disse que o amor pelos homens tinha a ver com o espírito maternal, algo assim. Daqui a pouco eu vou ligar para ela, porque me ocorreu que ela pode ter pulado da janela também. Ou da sacada.
Tive vontade de rir do horror das pessoas lá embaixo diante do cadáver despedaçado. Porque, pense bem, e se o verdadeiro riso for o choro? Vou repetir porque deu vontade. E se o verdadeiro riso for o choro? Me deu essa impressão agora de que nada é possível.
Ela tinha sido meu amor já, naquela época muito distante de que falei antes. Sempre achei que na sua perfeição faltava uma cicatriz, mas acho que hoje ela foi longe demais. E se eu houvesse dito a ela que estava do seu lado? Teria que descobrir antes de que lado estou. Acabaria pulando junto e quem contaria a história? Essas cortinas?

Sunday, January 07, 2007

Essa palavra não existe.
Mesmo que tentasse inventar, ninguém entenderia.
Tanto sangue pra provar alguma coisa vã.

Essa palavra é um disfarce.
Se todo mundo soubesse que debaixo da máscara
há outra máscara.

E assim por diante.

Mas você insiste.

Friday, January 05, 2007

Saco de mentiras Capítulo 6

- Em noites como essa eu me lembro muito da tua mãe, sabia?
Não, não sabia pai. Eu nunca sei, eu nunca soube, eu sei lá o que se passa nessa tua cabeça de velho. Eu acho que você é louco, pai. E eu acho que estou ficando um pouquinho mais louco a cada dia que passa, porque a gente sempre se torna aquilo que mais odeia nos nossos pais. O que há nessa noite? Olho em volta e não vejo nada de especial. Eu sempre tenho esse pesadelo em que é o fim do mundo e todos olham para o céu e vêem que é o fim e ninguém faz nada, ninguém faz nada, ninguém se importa e ninguém se importa com isso, a apatia anestesia. Um dia eu faço uma canção louca e repito isso até cair duro, morto, louco de pedra igual meu pai sentado junto à janela numa noite qualquer, tão qualquer que tudo que se pode dizer é que ela possivelmente seja imperceptivelmente mais comum do que qualquer outra, o que eu não saberia explicar, porque sou um jovem ficando velho e ficando louco.
- Sua mãe adorava noites de lua cheia...
Ah, o céu...
- Era só ver a lua cheia no céu e saber que ela me esperava, cheia de amor para dar...
Não é todo dia que falam desse jeito da sua mãe morta, então sentia-me muito desconfortável com aquela súbita demonstração de intimidade.
- Mas depois...você nasceu...hmpf...nunca mais foi igual...
Velho, você me odeia.Eu te roubei ela. Eu nunca aprendi nada com você, quando você morrer eu vou queimar seu violão, vou retalhar suas roupas, vou cuidar para que sua morte te apague da existência. Olha só eu, achando que você vai morrer...Como se você não fosse eterno, desde que eu me lembro você existe!
- Você devia ter me afogado na banheira quando eu era um neném - eu disse. Disse. Mentira. Disse nada. Só pensei. E nem foi na hora, foi bem depois. Na hora, o silêncio tomou conta, exceto pelo ruído nada agradável de meu pai puxando o ar para dentro da boca por entre o espaço dos dentes da frente, numa espécie de assovio distorcido. Naquela noite em que Deus definitivamente não existia eu fui para a cama com meu ódio e uma frase que o velho adorava atirar na minha cara quando eu "cantava de galo", como ele dizia:
- Não se esqueça de que você saiu do meu saco, seu merdinha!!
Eu tinha trabalho no dia seguinte, mas não conseguia dormir. Fiquei viajando nos meus pensamentos prediletos antes de cair no sono. Quando eu era um moleque cabeçudo e trêmulo, gostava de me imaginar como um talentoso e bem-sucedido jogador de futebol, o novo Pelé. Ouvir a multidão em êxtase gritando o meu nome após um gol de placa, me ajudava a dormir. Todavia agora eu era um homem crescido e me divertia de outro jeito. Eu imaginava ter um sítio num lugar bem distante, o mais longe, sem vizinhos de qualquer espécie. Então eu sequestraria minhas colegas de escritório e as torturaria até a morte, uma por uma. O método de tortura predileto seria essa edificante e injustamente abandonada tradição romana, a crucificação. Eu as crucificaria nuas nas paredes da casa de meu sítio distante, e os cães uivariam, morcegos voariam baixo por entre as amendoeiras.
Depois de ter assassinado umas cinco garotas da recepção, duas digitadoras e uma funcionária do Setor de Compras, adormeci. Os pensamentos a respeito do escritório de certa forma me acompanharam, pois sonhei repetidas vezes que era um envelope de papel pardo. O que também pode ser interpretado como um péssimo presságio, pois no dia seguinte o dia desabou sobre mim.

Blake escreveu

Blake escreveu: "Pense de manhã, aja à tarde, durma de noite". Não tenho certeza, talvez ele não tenha escrito isso. Mas acho que devia ter escrito.

Post Modern

A garota dorme, a gata dorme, o gato dorme, meus vizinhos dormem, Magnetic Fields toca, a pia pinga, mas o vento não sopra. Não tenho absolutamente nada a dizer, nunca tive, nunca terei.
O que eu vejo? Quer saber? Uma parede branca, pendurada nela um quadro de cortiça com diversas fotos da mesma garota, algumas da minha família, algumas minhas. As minhas são feias. Na parede ainda uma pintura de Interstella Urso Overdrive, um poster do Batman do Frank Miller, o cartaz do longa do South Park, um coração quebrado do avesso, um retrato meu pintado por Crissssssssss Ssssssssssssssss, um desenhob de minha gatinha Miss Kittin feito por mim, dois desenhos de meu gatinho Ceará feito por Crisssssssssssssssss Sssssssssssssss, um quadro com colagens, outro quadro com colagens.
Estante com cds, estante com cds, sofá azul, sofá amarelo, almofada rôxa, amplificador pifado, mesa bagunçada, mesa do computador bagunçada, computador. Essa casa não é minha só porque vivo aqui.
Penso numa frase "Então um trem levou seu bem e agora você culpa o trem", não é boa, mas eu gosto. Eu gosto mais das coisas que quase ninguém gosta, porque assim meu gostar parece maior. Feio isso meu gostar, tão feio quanto dizer meu viver, meu sonhar. Parece coisa de letra ruim de música brasileira tentando parecer boa.

Wednesday, January 03, 2007

Enfim

Pobre blog solitário que ninguém lê. Já gostaram mais de mim, mas tudo bem. Enfim eu ouço um cd bom, nesse marasmo que foi 2006. Seriam já os ares de um 2007 mais interessante? Não, me recuso a ser otimista, não pega bem, hj em dia você tem que ser irônico.
"Sound Of Silver" do LCD Soundystem. E olha que já fui para esse CD muito desconfiado, depois do fiasco do show "rock and roll" deles no Skol Beats do ano passado, sob a garoa infernal da dantesca São Paulo. Mas depois da música-título, com uns versos que falam mais ou menos assim "Sons de prata - sei lá o que são sons de prata, se algum dos meus inteligentíssimos leitores souber, por favor, ilumine minha vasta ignorância - te fazem querer ser adolescente de novo. Mas aí você lembra como são os sentimentos de um adolescente de verdade. E você repensa". Coisa linda.
Tá mais do que na hora de alguém dar umas chapuletadas na adolescência. Adolescentes são feios, inconvenientes. São seres em formação, algo que ainda vai ser, tipo uma massa disforme. Lolita nem a do livro. Vamos parar com esse fetiche burro.
Ou então continuem. Eu fico com os adultos.
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