Wednesday, June 27, 2007

Canções Como Tortura

Existe também o outro lado, aquelas músicas que fazem sua vida pior. Aquelas que seus vizinhos tocam em altíssimo volume em aparelhos de som de péssima qualidade no domingo de manhã. Ou as que tocam no som ambiente de algum ambiente do qual por uma circunstãncia qualquer você não pode sair.
Esse tipo de lista pode ocupar uma vida inteira, e como não desejo terminar meus dias de modo tão sórdido, vou incluir nesse post apenas as que me ocorrem no momento.
"We Are The World", USA For Africa. Dane-se a causa. Engajamento geralmente leva aos piores desastres na arte. Lionel Richie e Michael Jackson, dois ícones da música pop melosa dos anos 80 se juntam e obrigam nomes, alguns até bastante respeitáveis dentro do cenário pop (Stevie Wonder, Dylan, Ray Charles) a passarem o maior ridículo de suas vidas. Letra e música hors-concours no quesito monstruosidade. A letra começa com "Chega uma hora...", daí pra frente, nada se salva. Realmente chega uma hora em que não dá mais. É o refrão "Nós somos o mundo, nós somos a crianças/Nós somos aqueles que trarão um dia melhor (aproximadamente isso)/Então vamos começar a dar". Vamos começar a dar, Michael Jackson? Deixa pra lá. ruim, ruim. E teve uma época em que essa música foi onipresente. A música pop piorou depois dessa música e a situação na África idem.

"Faroeste Caboclo", Legião Urbana. Claro, a Legião Urbana merece um capítulo a parte no que se refere a crimes contra o ouvido alheio. Mas "Faroeste", sintetiza (sintetiza? Sintetiza nada, são nove minutos e porrada...!!!) aquele espírito adolescente oitentista, garrafões de vinho barato, vida sexual mal-resolvida e violões de cordas de nylon desafinados. Que inferno, meu Deus! A coisa começa meio folk, meio modinha, contando a história do tal João de Santo Cristo. que numa história mal-explicada consegue uma viagem para Brasília, depois de uma adolescência problemática. (Adolescentes problemáticos de todo o Brasil instantaneamente se identificam e se prontificam a decorar a quilométrica letra). O instrumental varia do punk rock de mentira com base num violão batido para um folk de mentira, com o insistente violão e a voz de crooner messiânico dono da verdade do ainda não canonizado pelo vaticano, São Renato Russo. A maçaroca da letra faz ainda referências a drogas e a generais atrás da mesa com o cu na mão (Aí os adolescentes choram. Dá pra falar palavrão alto e tudo - ainda tem um filho da puta no final). Entra um antagonista que rouba a mulher do herói, rola um duelo, o herói se fode, e aí, mas a "menina falsa", se volta de novo para nosso herói e ele consegue sua vingança. A coitada também morre, não fica claro como.
Aí finalmente essa coisa modorrenta se aproxima do final, e um inevitável alívio toma conta de nossos ouvidos fatigados com essa merda longuíssima, uma espécie de monstro punk-folk-progressivo. (Progressivo por causa da duração, me perdoem). E a gente descobre que o João queria "era falar com o Presidente". Peraí! Ele não tinha ido para Brasília acidentalmente ("Eu fico aqui, você vai no meu lugar", etc.?). Eu nem vou falar de coisas como "destemido e temido". Nem vou falar mais nada para falar a verdade.

Monday, June 18, 2007

Canções Como Balinhas

Tem um lado de bom nesssa nossa época de mp3 e esfacelamento das velhas estruturas de consumo e do modo de se ouvir música. De certa forma temos a volta da canção isolada e o fim dos álbuns de conceito (não necessariamente os conceituais, que, a propósito, merecem, mereciam já ter morrido desde sempre), o retorno à supremacia do single, a despeito da sanha assassina monetarista das gravadoras que fizeram o que puderam para enterrar o coitado.
Algumas canções, mais do que álbuns inteiros, eternizaram determinados momentos de minha vida. Vamos a eles.
- "This Night Has Opened My Eyes", The Smiths. Eu era um adolescente feio, emburrado e cabisbaixo, achando que o mundo desabava sobre a minha cabeça (que presunção, como se ele não desabasse um pouco sobre todos), até que essa música, ê obviedade, abriu meus olhos. Os dedilhados do seu lindíssimo arranjo de guitarra me fizeram pensar que talvez tocar guitarra pudesse me dar tanta algeria quanto cantar. Acho que sou o único fã dos Smiths que curte mais Marr do que Morrissey.

- "The Way Young Lovers Do", Van Morrison. Já falei do Astral Weeks aqui, mas só para reforçar, a mesma história de novo. Quando se está amando, ou quando se acha que se está amando, ou ainda quando se acha que se devia se estar amando (dá pra seguir indefinidamente assim), geralmente o ridículo domina. Melhor, o ridículo dança ao redor. Fiz muita coisa babaca nos anos 90 (não me arrependo dos grunge years...talvez só um pouquinho, eu era jovem, tinha o melhor álibi), mas numa tarde de nuvens muito pretas, na realidade paralela daquela Ilha do Fundão, quase me redimi. Van Morrison com nsua voz sempre no limitedo desespero me jogou no chão e não tenho certeza de que tenha me levantado depois daquele dia. Se algum dia compuser algo tão bonito, me suicido em seguida.

- "Down In The Street", The Stooges. De volta à adolescência e ao som abafado e cheio de chiados das velhas fias K7. Esse amigo meu, Alex, tão nerd de música quanto eu, disputava comigo a descoberta de pérolas musicais. Dessa vez ele me venceu de longe. Nunca mais me recuperei da ferocidade daquele som. Stooges acorda o animal em mim.

- "Love Will Tear Us Apart", Joy Division. Tristes e romãnticos anos 80. Eu e meus colegas de escola que gostavam de música um pouco mais do que deviam, ficávamos imaginando, após lermos críticas a respeito, como seria o som do Joy Division, fortemente tocados pela mística do suicídio do vocalista Ian Curtis. Um dia, um programa da extinta Rede Manchete acabou com a curiosidade: era muito mais poderoso do que podíamos imaginar. Música ideal para se ouvir quando as mulheres não te querem, porque ela faz parecer que ter alguém é um inferno. Moleques feios suburbanos passaram longas tardes em conjecturas sobre os motivos do suicído do pobre Ian. Eu gravei o áudio da TV com meu velho rádio-gravador.

- "Happy When It Rains", The Jesus & mary Chain. Mesma TV Manchete. Eu esperava algo mais barulhento pelo que já havia lido a respeito (não sabia que a fase áurea, por assim dizer, do grupo já havia passado quando do lançamento dessa música que consta do seu criticado segundo LP, "Darklands"). Ainda assim, foi paixão à primeira ouvida, sem discussão. Quando finalmente os vi alguns anos depois ao vivo e voltei para casa ainda ouvindo o solo de guitarra de William Reid nos meus ouvidos (não estou exagerando, apitava mesmo) a paixão se consumou.

- "Smells Like Teen Spirit", Nirvana. Na época eu não conhecia Pixies tão bem a ponto de perceber o roubo descarado, mas percebio o apelo pop e o cheiro de clássico no som daquele "Police mais pesado". Os anos 90 começaram ali.

- "The Ballad Of El Goodo", Big Star. Trilha sonora do meu primeiro pé na bunda. Ah, como eu sofria. Até hoje a introdução me arrepia. A balada perfeita, que abriu de vez meu coração para as outras baladas, e me despiu um pouco da carapuça de roqueiro pós-punk de "bom gosto".

- "Made Of Stone", The Stone Roses. para que os anos 90 começassem, os 80 tinham que acabar. Os Stone Roses pareciam um amálgama perfeito de tudo que o rock inglês havia produzido, com ligeiros acenos ao que o rock inglês ainda haveria de produzir dali por diante. Divisor de águas, jogou os indies nas pistas de dança, e eles não saíram mais de lá, apesar de dançarem horrivelmente mal.

-"Debaser", Pixies. Selvageria, berros, antecedendo o que os anos 90 seriam, só que com cérebro. Pegaria mal citar Buñuel nos anos 90. Eu e aquele meu amigo citado lá em cima, o Alex, tínhamos um projeto musical que nunca foi para a frente, que traria músicas combinando barulho e silêncio e letras beirando a demência. Frank Black saiu na frente e só nos restou ouvir e delirar.

- "Strange Days", The Doors. Nem sei por quê. Eu até gosto mais de outras músicas dos Doors, mas quando entra aquele refrão, isntrumental, introduzido por um yeeeeeeeeee, e a bateria pesa, enquanto guitarra e teclado vão cada um para um lado, me dá uma vontade incontrolável de ser Imperador do Mundo. Uma música dessas redime até alcunhas ridículas como Rei Lagarto. Yeeeeeeeeeeeeeeeeeee!

Agora vai lá e baixa isso.
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