Monday, June 30, 2008

Blur - "Think Tank"

Por todos os anos 90, a mídia explorou aquela briguinha ridícula pública entre Oasis e Blur, emulando a outra briga falsa entre bandas inglesas, Beatles X Stones, que rolava nos anos 60. Entretanto, se fosse tolo o suficiente para entrar nessa naquele período, talvez eu tivesse optado pelo Oasis, que apesar de ser composto por dois autênticos babacas ingleses da pior espécie, na minha opinião sempre teve as melhores composições. Os fãs do Blur em geral eram aqueles que põem o estilo acima das composições, aqueles que preferem uma música ruim, mal composta, mal tocada, mal cantada, mas que soe estilosa.
Para minha grande surpresa, de onde menos se esperava saíram belíssimos coelhos. Em 2003, a banda estava prestes a desabar, com a saída seu guitarrista Graham Coxxon. A opinião geral era de que a banda não resistiria, no entanto, "Think Tank" veio e bombardeou os incautos, como eu.
A frase de abertura da primeira canção já entrega "Não tenho nada a temer". Então, já que o estilo da banda certamente sofreria com a ausência de Graham e sua guitarra, por que não expandir os limites da sonoridade da banda de uma vez? E foi justamente onde eles acertaram. "Ambulance", a faixa inicial é um excelente cartão de apresentação. Loops e ruídos desembocam num groove poderoso que quando começa a engatar, só para nos chatear, termina.
A faixa seguinte é a belíssima e melódica "Out Of Time", que deixa aparente que o tempo passado pelo vocalista Damon Albarn entre comunidades de músicos no Marrocos não foi exatamente de férias. A balada consegue unir delicadeza com violões dedilhados e sons nada britânicos, criando algo difícil de definir. Algo belo sem dúvida. Seria ela própria a "lovesong to set us free"?.
"Crazy Beat", produzida por Fatboy Slim, parece um aceno aos fãs do Gorillaz, já então um projeto extremamente bem-sucedido de Albarn. "Good Song" é só boa, mas também guarda suas surpresas no quesito groove.
"On The Way TO Club" tem um baixo atmosférico que nos interrompe e nos joga num buraco antes que entremos no clube. Albarn resignado e irônico canta "Eu só queria, querida, estar com você/É assim que se faz música/Meus olhos não são azuis/ não há o que eu possa fazer". "Brothers And Sisters" já nos permite dançar, mas lembrando que somos todos "uns toamdores de drogas".
Há espaço para ainda mais beleza, sempre com um toque experimental magnificamente colocado em faixas como "Battery In Your Leg", "Sweet Song" e até mesmo em "Morocan Peoples Revolutionary Bowls Club". Até punk rock surge em "We've Got A File On You".
Após o disco a banda terminou e Albarn até fez coisas legais, como o The Good, The Bad and The Queen e o segundo dos Gorilaz. Contudo, o BLur despediu-se em alto estilo, com um elegantíssimo epitáfio.
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Sunday, June 29, 2008

Motomix 2008

E lá fui eu para São Paulo de novo. Terra da garoa e das garotas feias. Do trânsito caótico e avenidas sobrepostas. Tudo pelo rock and roll, ou como quiserem chamar. Mas às vezes é bom sair da toca, nem que seja para sentir saudade dela.
Eu nunca vou entender os paulistas, ainda que seja cria daquela cidade. Festival gratuito, com bandas interessantes num lugar legal - Ibirapuera - e...público minguado. Tudo bem que não havia nenhum nome super--famoso na escalação do festival, mas, experimente escalar qualquer atração gratuita no Rio, e certamente a galera vai lá conferir. Mas os paulistas, bem, os paulistas se paramentam dos pés à cabeça para andar de patins ou jogar hóquei num sábado à noite.
A primeira banda que eu vi foi um trio moderninho, parece que formado por gente "da moda" lá de SP, Stop Play Moon. A que tocou anteriormente eu perdi. O Stop... segue a linha eletro, aos moldes de tantas bandas "moderninhas" da atualidade. Em se tratando de Brasil, terra em que a maior parte dos músicos ainda está nos anos 70, algo com boas influências do pop produzido hoje em dia no mundo já é alguma coisa, mas os decalques de Golfrapp e a inexperiência da vocalista, ridno sozinha, parecendo sem graça, por boa parte do show mostram que ainda há um caminho que a banda deve percorrer.
Fujiya e Miyagi: tocaram a faixa de abertura do segundo disco do Neu! com um pouquinho de swing pelo seu set todo. Haja paciência. Repetição não é estilo, poode ser simplesmente chatice.
Ah se não fosse o Go!Team. Uma das bandas mais interessantes e originais da atualidade fez um dos melhores shows do ano. Com uma formação que lembra uma equipe de super-heróis de quadrinhos, eles são simplesmente irresistíveis. Barulho, groove, o melhor naipe de metais sampleados do mundo e a vocalista mais sensual e aloprada dos últimos tempos. Show perfeito, que deixou a situação difícil para a banda que veio depois.
O Metric veio com sua vocalista de perninhas de fora, mas não conseguiu disfarçar a aura de sessionmen que os músicos exalam. Atiram para muitos lados, rocks pós-strokes, disco sub-Blondie,hard rock fuleiro, Garbage, Goldfrapp, Madonna. Acabam acertando num pop sem rosto. Se eu fosse a vocalista, pegava o meu synth e ia brincar sozinha.

Wednesday, June 25, 2008

"Other Voices" - The Doors

Há quem diga que Jim Morrison era a alma dos Doors. Há até os que, convencidos pelo pouco conhecimento da banda e pelas capas de algumas coletâneas vagabundas, ou ainda seduzido pelo equivocado filme de Oliver Stone, pensam ser o vocalista a banda em si (Sobre os que pensam que Val Kilmer era o vocalista dos Doors é melhor nem falar...). Não há maior equívoco do que esquecer a importância dos três músicos que compunham o grupo junto com Morrison.
Algumas das melhores canções dos Doors, como "Light My Fire", "Touch Me" e "Love Her Madly" são de autoria do guitarrista Robbie Krieger. O órgão de Ray Manzarek é marca registrada da banda , causando inclusive ódio em muitos que se incomodam com a sonoridade extremamente original da banda, ainda hoje. A bateria de Ray Densmore, preenchendo espaços e cumprindo o difícil papel de acompanhar a fúria psicodélica gerada por seus amigos sempre se destaca também.
Eu sou mais do que suspeito para falar de Doors. Considero o grupo o melhor da melhor época da música pop (Sim, como banda, na minha opinião, são superiores a Beatles, Stones ou quem mais se possa pensar em termos de anos 60). Tire suas conclusões no "xamânico" link abaixo: http://rapidshare.com/files/82324568/Other_Voices_1971_By_Obviando_el_Sistema.rar

Monday, June 23, 2008

"Dust" - Screaming Trees

A chamada geração grunge teve seus heróis, o hard rock bem disfarçado do Alice In Chains, o Pixies para as massas do Nirvana, o hard rock mal disfarçado do Pearl Jam, o metal do Soundgarden. Talvez tenha sido melhor até, não certamente para eles que deixaram de ganhar uns trocados, mas para a músic, que a banda que talvez tivesse o melhor vocalista e as melhores composições, ficasse de fora do oba-oba.
Conhecidos no Brasil principalmente pelo hit "Nearly Lost You", bombado pela MTV Brasil nos anos 90, a banda dos irmãos Conner com o multi-homem Mark Lanegan (que já tocu com meio mundo, com a Isobel do Belle & Sebastian, PJ Harvey, Queens Of The Stoneage, Twilight Singers e com o Guttertwins, isso que eu saiba) e ainda o baterista Barrett Martins (esse não teve tanta sorte e acabou tocando com o Nando Reis. Coitado) merece atenção, principalmente em seu último trabalho, "Dust".
Consta que foi um parto complicado, com brigas internas, Lanegan tomando herpína a cada 5 segundos (entre o segundo e o quarto segundo eram outras drogas) e stress com o pordutor. A primeira versão do álbum foi quase toda pro lixo e o produtor Don Fleming (do cultuado Gumball) caiu fora.
O que chegou até nós foi um excelente e doloroso trabalho, assombrado pelos "Dying Days" dos anos finais do grunge. "Halo Of Ashes" carrega na psicodelia, e daí para frente, o disco segue irrepreensível. Gary Lee Conner arrasa com guitarras, violões e até uma coral sitar e a voz bêbada de Lanegan costura tudo com a elegância e a dor necessárias.
Nunca antes a banda havia acertado tanto como no clima delicado de "Look At You" ou no ar pesado de "Dying Days". E o ápice da banda é a dobradinha "Sworn And Broken" que é lindamente agraciada com um solo de órgão à la Ray Manzarek e "Witness" com seu riff dilacerante e versos impossíveis de esquecer como "Qual é o meu Deus? Aquele com testemunhas".
Uma pérola perdida dos anos 90. (Eu podia fazer um trocadilho com empoeirado, ou com pó e os hábitos do Lanegan, mas deixa isso pra lá)
Estranho, que você clica nesse link aqui e... http://rapidshare.com/files/34504527/Dust.rar

"True Colors" A Turnê

Cindy Lauper está correndo o mundo com sua nova turnê "True Colors". Até aí, nada em especial certo? (A não ser que você fique arrepiada/o ao ouvir "Time After Time"). Errado. Sua nova turnê é a primeira turnê de apoio oficial à causa das meninas que gostam de meninas, ou mulheres que gostam de mulheres, ou meninas que gostam de mulheres, etc.
Fazem parte da turnê, além da Lauper, The B-52's, Tegan And Sara, Indigo Girls e Regina Spektor, entre outras. Ou seja, não é o lugar ideal para "pegar mulé", a não ser, é claro, que você seja uma.
Você já tinha reparado que a música "True Colors" era gay? ("I see your true colors shining through/I see your true colors and that's whay I looove you...)

Sunday, June 22, 2008

R.E.M. - Document

Para alguém que conheceu o R.E.M. já como superbanda após o mega-hit "Losing My Religion" e se familiarizou com as macaquices do Michael Stipe, é difícil imaginar que um dia eles foram uma obscura banda americana. E mais, que nessa fase de osbcuridade, em uma gravadora independente, lançaram trabalhos que influenciaram toda uma geração de bandas americanas, com um som fortemente calcado no country rock dos Byrds e de Neil Young, mas com personalidade suficiente para transformar as influências num estilo pessoal.
Eis um disco como eles jamais conseguirão fazer novamente, por mais que o recente "Accelerate" se esforce em soar guitarreiro e barulhento. Era o fim do mundo e eles não sabiam.
"Finest Worksong" já dá a pista de que estamos diante de um clássico. Guitarras perfeitas, batida segura, baixo na medida e a voz marcante de Michael Stipe cantando sobre algo que provavelmente nem ele sabia muito bem do que se tratava. Convém lembrar que naquela época, a banda era notória por suas atitudes anti-mainstream, como não dublar músicas nos clips, escrever letras truncadas e complexas, e Stipe em alguns shows passava a maior parte do tempo de costas para a platéia, apontando para um telão onde surgiam imagens desconexas e frases dúbias.
Não há um momento de fraqueza nesse álbum. No seu lançamento, Stipe referia-se a esse como o álbum mais "macho" da banda. As guitarras acertam sempre, os riffs de "Welcome To The Occupation" e "Disturbance At The Heron House" demonstram toda a bagagem de Peter Buck (seus dedilhados remetem ao que de melhor o rock produziu, de Roger McGuinn a Tom Verlaine, passando por Stooges, Velvet e Ramones) e a interação com o baixo produz momentos de perfeição pop.
A perfeição pop que gerou as duas melhores canções do grupo, talvez, "It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)" - que fecha os shows da banda até hoje - e "The One I Love", seu primeiro e tímido hit, no Brasil inclusive, e que era um indicador das dimensões que a banda viria a tomar, para o bem e para o mal, nos anos 90.
O documento de uma banda em seu auge, praticamente invencível.
Inclusive, tem até um link que...http://www.mediafire.com/?0wnn239n91z

Baixaria


Freebass. Este é o nome do novo projeto do gênio baixista do finado - segundo ele - New Order. E se sgure na cadeira. O projeto, além dele traz nada menos que TRÊS baixistas! E não é isso ainda que vai te fazer cair da cadeira e sim, QUEM são os outros baixistas. Pois bem, Andy Rourke, daquela banda do Morrissey (hehehe) e Mani dos Stone Roses! É possível? Seu sub-woofer vai aguentar essa baixaria?
Além dessa pequena constelação, Hook andou dizendo que nomes como Billy Corgan, Ian Brown e o vocalista do Bloc Party devem fazer particpações vocais. Esperemos.

"Songs For Drella" - Lou Reed & John Cale


No ano de 1989 eu comecei a dar atenção a Lou Reed. Meio atrasadinho, mas vocês precisam entender como as coisas aconteciam naquele tempo: tudo que eu conhecia do Velvet era uma cópia de uma cópia de uma fita k7 gravada de uma transmissão radiofônica, a maior parte dos discos da melhor fase da carreira do cara ou não haviam sido lançados no Brasil, ou estavam fora de catálogo, e o que eu havia ouvido do cara solo até então eram coisas mais ou menos de seus discos dos anos 80 como o "Mistrial". Quando finalmente ouvi "New York" (forte candidato a ser postado aqui), percebi a importância daquele cara.
Inclusive percebi agora que algum canalha roubou minha cópia em vinil do disco ao qual dedico esse post, mas tudo bem. Impulsionado pelo magnífico disco de 1989 de Lou Reed e por um especial inacreditável transmitido pela TV Bandeirantes com Lou Reed & John Cale tocando as músicas do "Drella", travei contato com um dos mais interessantes e talvez o último grande trabalho tanto de Lou, quanto de John.
Os dois, segundo consta, estavam brigados desde a saída de Cale do Velvet Underground, supostamente por uma briga pelo amor da musa Nico, a qual Cale saiu ganhando. O Velvet nunca mais foi o mesmo sem Cale e seu experimentalismo. Por ocasião da morte de um dos maiores incentivadores da banda nos anos 60, o artista plástico símbolo da Pop Art, Andy Warhol, Lou e John deixaram as desavenças de lado e decidiram gravar um tributo ao amigo morto.
Tinha tudo para não funcionar. Mais de 20 anos separavam a dupla, a química funcionaria? Além disso, Lou e John haviam seguido caminhos completamente distintos, musicalemnete falando. Enquanto Lou criou uma patente dentro do rock and roll tão original e marcante quanto a de um Keith Richards, John apostou na imprevisibilidade, gravando desde trabalhos mais pop, até experimentos com ruídos e melodias influenciadas pela música erudita.
O álbum abre com o piano minimalista de John, sobre uma letra que nos apresenta ao personagem de Warhol. É incrível como Lou consegue construir letras baseadas na vida e pensamento do artista, e ainda assim não soa didático ou forçado. "Smalltown" é a música.
Seguimos com "Open House", onde a Fender de Lou dialoga incrivelmente bem com o DX7 de John. "Style It Takes" traz o vocal de John numa melodia lindíssima e as guitarras começam a gritar, junto com um piano já histérico em "Work".
"Trouble With The Classicists" é um dos pontos altos do disco. Nela, a guitarra de Lou, distorcida no limite da perfeição, ataca por um lado, enquanto John segura com o piano, criando algo singular e talvez único em termos de beleza e originalidade. Quantas vezes um sóbrio piano fez base para uma guitarra suja, acompanhados por mais nada além do silêncio na música pop? Os versos que ficam na cabeça são "Acho que às vezes você se machuca quando fica tempo demais na escola/Acho que você às vezes se machuca quando tem medo de ser chamado de tolo"
"Starlight" e "Faces And Names" mantém o ritmo, mas é em "Images", que o fantasma do Velvet dá as caras no estúdio. John toca uma viola ensandecida e Lou faz barulho na guitarra. Perfeito. Mais à frente em "It Wasn't Me" e "I Believe", a fórmula do piano e guitarra distorcida atinge mais uma vez a perfeição.
As duas últimas são as mais emocionais, afinal, a vida do personagem vai chegando ao seu fim, junto com o disco. "Forever Changed" é inevitável e lúgubre. "Hello It's Me" pode levar às lágrimas os mais sensíveis, com Lou Reed fazendo um delicado acerto de contas com Warhol e dando seu adeus.
Andy se foi, mas ainda paira sobre nossa mídia pop. Lou e John voltaram com o Velvet, brigaram de novo e seguiram caminhos separados. Mas resta esse belo adeus.
Você consegue enxergar o rosto de Andy Warhol na capa?
Dizem que esse link pode te ajudar:http://www.mediafire.com/?09whzn13cds

Saturday, June 21, 2008

Vai Uma Franja Aí?

Como bom nerd que sou, fui eu atrás da nova série do criador de Lost, J.J. Abrams. "Franja" (não seria legal se fosse traduzida assim para o português?) é uma mistura do já citado seriado sobre ilha, com pitadas de Arquivo X e até um pouco de 24 Horas. Esss prímeiro capítulo "vazou" na net, sendo que a série, propriamente dita, só estréia em Setembro.
Pois é bom que esse tempo seja usado para aprimorar o conceito da mesma. O que tivemos aqui foi uma repetição absurda de clichês (perseguições de carro, culto desmedido à supremacia militar-tecnológica-operacional do FBI e CIA, "química" dos protagonistas baseada em irritação-atração, mocinho que na verdade é bandido, conspiração internacional, etc.). A série, a julgar por esse piloto, não vai trazer absolutamente nada de novo ao universo das novelinhas televisivas que os nerds de blog tanto adoram. Se 24 Horas misturou ritmo de reality show à ficção, Lost inovou com suas brincadeiras temporais e Arquivo X atualizou o Além da Imaginação, pode-se dizer que a Franja simplesmente se utilizou do legado dessas séries sem acrescentar absolutamente nada. E além de tudo, uma protagonista feia e antipática.
Tudo bem que a boa série Heroes também começou pessimamente. Mas tô sentindo no ar uma grande possibilidade dessa série ir para o mesmo saco onde foram jogadas nulidades como Daybreak e Jericho (essa uma boa idéia plenamente desperdiçada).

Friday, June 20, 2008

Ele quem? Precisou olhar na carteira de identidade para ter certeza, mas mesmo assim não teve. Lembrou do que diziam sobre Da Vinci e sua capacidade de enxergar beleza embrionária em rachaduras na parede. Hoje ele se sentia daquele jeito, mas ao contrário, olhava para as coisas e previa seu fim, via o que elas um dia deixariam de ser. Via como o gato vagabundo da esquina seria atropelado por um insensível caminhão de lixo, como o bebê berrando num carrinho empurrado por uma jovem senhora levemente despenteada estouraria os miolos, via as folhas no chão do próximo outono. Fazia isso sem tristeza, sem alarde, como se escovasse os dentes.
Ele ia ao encontro da mulher cujo tempo andava ocupando. Ela andava apaixonada por ele, mas só nos meses ímpares. Nos pares o odiava. Ele não sentia nada, exceto uma dor preguiçosa logo depois que ejaculava. Ao menos era homem e gozava sempre, sem esforço, depois caía no sono. Quando dormia, sonhava com a pré-história, mas a seu jeito. Imaginava o pavor das noites e a imensidão de campos verdes antes da civilização. Estranhamente, não havia selvas ou florestas fechadas em seus sonhos pré-históricos, só campos verdes sem fim. Eu digo estranhamente, mas ele diria que é completamente normal.
Quando chegaram, ele e ela, ao lugar marcado, sentaram à beira de um lago sujo, no qual os peixes devoravam-se uns aos outros. Se tivessem escolha, talvez fossem mais educados, mas não era o caso. Ele sentiu os ombros mornos dela e previu que morreria lentamente, não que desejasse. A idéia foi dela: "Por que não jogamos no lago, dentro de um saco de supermercado?". Ele estava cansado, tanto fazia. Talvez para sempre, só o lodo saberia a resposta.
Ao se separarem, ficou olhando enquanto ela se afastava. Sentiria falta da sua bunda e do seu cheiro. Dos seus ataques de riso e de fúria. Quando chegou até a esquina, ela desapareceu, sem um ruído sequer. Não era certo gente desaparecer assim daquele jeito, que decepção o jeito que as coisas acontecem na chamada realidade. A realidade sempre o decepcionava, a ponto de, se esperasse flores, vinham protozoários, parafusos. Polígonos. Que se danasse a realidade. Da próxima vez que ela se infiltrasse em seus sonhos, ele a dinamitaria. Do café da manhã em diante a ignoraria. À meia-noite lhe cravaria uma faca no coração, se tivesse um, a realidade.
No caminho para casa, compraria as cortinas para o boxe, que havia prometido a si mesmo já há meses. Tinha visto uma especial que lhe agradava, uma que misturava peixinhos e planetas, estrelas e estrelas-do-mar. Um homem precisa de pequenas coisas para ser feliz. Por descuido ou azar, sempre acabava com mulheres que almejavam coisas grandes demais. Não está escrito nas revistas femininas, mas a morte se esconde nas coisas grandes.
Alguém lhe perguntou as horas, ele disse propositalmente as horas erradas, quem quer aa hora certa, compra um relógio. A interrupção o fez esquecer no que estava pensando, o que lhe deu um pouco de raiva, mas foi até bom.

Wednesday, June 18, 2008

Novix

Que má vontade da crítica com o novo dos Guillemots. Só porque tem faixas que parecem George Michael...Não me abala. O que me abala mesmo é ter que reconhecer que meus heróis, River Cuomo ( aquele cd de sobras já deixava um cheiro ruim no ar) lançou um cd muito mediano, com algumas faixas francamente ridículas, com o Weezer, e outro ídolo particular, Ron Sexsmith, encheu seu cd de arranjos de metais desnecessários em músicas mornas.
O último Portishead dividiu a crítica. Essa gente nunca deve ter ouvido o Portishead. Se existe alguma coerência no trabalho deles, é justamente a de sempre mostrarem novos caminhos. Não me lembro de ninguém soando como Silver Apples, ou começando uma balada à la Nick Drake para desembocar num beat à la Kraftwerk em Autobahn, como els fizeram em esu último álbum. Só achei mesmo a capa horrorosa.
Bem mesmo fez o Jakob Dylan, com músicas melhores no seu "Seeing Things" do que nos últimos 3 cds de seu pai. Sim, falei isso mesmo.

Chega

Definitivamente, a música pop não precisa mais de:
- Bandas inglesas com vocalistas cantando em falsete sobre o quanto são solitários.
- Folk de melodias vagabundas e letras idiotas cantadas por rapazes barbudos ou meninas "fofinhas".
- Qualquer banda de heavy metal. Qualquer mesmo.
- Bandas nacionais que resgatem as raízes de qualquer gênero esquecido (Existe uma lógica nisso, gêneros não são esquecidos à toa, deixem as raízes debaixo da terra)
- Bandas norte-americanas que tenham mebros tatuados ou que usem moicano.
- Musas da MPB

E tenho dito.

Tuesday, June 17, 2008

Falando em Plágio...

Ao falarmos em plágio, não podemos nunca esquecer dele, o Renatão, que, se aproveitando da ignorância do público de música pop no Brasil nos anos 80, metia a mão sem dó em clássicos do rock e tirava onda de gênio. Funcionou, tanto que tem gente que acha que ele é gênio até hoje. (Pra quem quer tirar a prova, ouça "A Means To An End" do Joy Division e em seguida "Ainda É Cedo" da Religião Urbana. Após esse experimento, engate em "I Don't Care" dos Ramones, seguida por "Que País É Esse". Só não vá rodar nada ao contrário, pelo amor de Deus!).
Fica aqui uma singela homenagem à picaretagem na música pop.

"Don't Plagiarize Or take On Loan"


Dizem que esse negócio de originalidade na arte é coisa nova, que para os clássicos, bom mesmo era aquele que imitava os cânones com perfeição. Eu sei lá, eu não tô falando de arte mesmo (ou estou?), meu negócio é música pop.
Nos nossos tempos em que os moleques montam bandas de rock que já tem estilo antes mesmo da primeira música ser composta, e o maior terror é o de parecer esquisitão, originalidade é algo que, ainda que ninguém assuma em público, pode ser problemático e até deve ser evitado. O cara vai e faz música original e aí? Vai se vestir como? Vai atingir qual target? Que risco.
Portanto, nada mais natural que os artistas que mais se destaquem nesse iníco de milênio sejam uns picaretas. Até porque hoje a picaretagem está ao alcance das mãos como nunca antes. Qualquer um com um pc caidinho já tem um sampler nas mãos e toda a história da música à sua disposição para usar como bem entender.
Qual foi a última coisa original que você ouviu? Um disco do Scott Walker de 1977? Pois é. Não se trata de afirmar categroicamente que todo revival é ruim. Até os anos 90, os revivals sempre foram prática comum no mundo pop, mas a chupação descarada já é outra coisa. As melhores bandas dos anos 80 foram buscar influência nos anos 60? Sim, mas conseguiram construir sua identidade em cima de uma ótica oitentsta sobre os sixties. Da mesma forma, para o bem e para o mal, os anos 90 resgataram os cacoetes dos anos 70. Mas e os 00's?
Strokes chupando os timbres das bandas mais reles do new wave, com um pouquinho de pós punk? Zilhões de bandinhas com aquelas guitarrinhas mal-gravadas, chupadas do Gang Of Four, mas sem a genialidade daqueles? Ou as bandinhas de eletro, fazendo tecnopop disfarçado? A lista é interminável.
Mas tudo bem. Originalidade pode ser sinônimo de chatice também (tente ouvir 3 discos dos Residents em seguida!) e uma boa picaretagem pode ser até divertida. Mas pelo menos disfarça, pô! Diversos compassos com a mesma linha melódica descamba para o mau-caratismo puro e simples. Ainda que acidentalmente, plágio é feio e é até crime.
O assunto veio à minha cabeça ao ouvir os novos trabalhos de Albert Hammond Jr. e do CSS. O strokista que, numa faixa de seu álbumj de estréia já havia metido a mão na melodia de "Love Vigilantes" do New Order numa música sua, agora resolveu "homenagear" o Snow Patrol numa faixa de seu novo trabalho. Sei lá o nome da música dele, ou da do Snow Patrol, me deu preguiça olhar.
O CSS com seu novo single, cujo nome também não me ocorre agora, também pegou emprestado do Neil Young e sua linda "Lotta Love". Dá para cantar inteira a parte do "If you are out there waiting..." de Neil sobre parte da música que o CSS lançou recentemente. E aí acaba que o ouvinte desavisado se pega achando uma melodia novalegalzinha, sem saber que é legalzinha sim, mas não é nova.
De repente isso é até papo de velho que não entende os novos tempos, mas não vai surgir nenhum moleque ou moleca desrespeitando completamente o passado e criando o novo? (Certamente a Mallu Magalhães não o fará. Aliás, uma amiga minha decifrou o "fenômeno Mallu". Segundo ela, os críticos trintões que a endeusam estão é todos com vontade de comer a menininha que é a "fofura em pessoa", num possível resgate de suas adolescências de indies nerds. Não duvido).
Vou ali ouvir Scott Walker de novo.
Qualquer um que se considere um "vencedor", enxerga a vida sob a lente simplista de um moleque jogando bolas de gude no quintal de casa.

Friday, June 06, 2008

Bibleland

Em 2012, a Alemanha ganhará um parque temático baseado nas escrituras sagradas. Dentre as atrações, os projetos incluem uma réplica da arca de Noé no tamanho natural, e atrações aquáticas baseadas no dilúvio e baseadas no Céu e Inferno.
Não, eu não farei nenhum comentário.
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