Ele a encontrou de novo num dia de sol inclemente e derreteu. Após esperar uma vida inteira de segundos eternos, mesmo na sombra, é isso que acontece. O sorriso dela inundava o início da rua a um quilô metro de distância, mas ele fingiu não ver, porque nunca sabia para onde olhar enquanto alguém vinha em sua direção.
A maior parte de sua vida aquele jovem tinha tido que domesticar seus olhos. Eles insistiam em seguir seu próprio rumo, a despeito da vontade de seu dono. Ele se supunha dono dos seus olhos, ao menos. E era um dia infernal de calor naquela cidade. E se ela viesse de umbigo de fora? Ele sabia da mania dos seus olhos por umbigos desde a mais tenra idade. Olhava os umbigos das meninas, das mães das meninas, às vezes das avós, isso numa época em que nem desconfiava o que se pode fazer com uma mulher, ou o que uma mulher pode fazer com você. Ok, tudo bem, talvez mesmo hoje ele ainda não soubesse bem o que fazer, apesar das décadas passadas.
Ela chegou mais bonita do que antes, o que já era uma espécie de sacrilégio. Ele a encontrara daquela outra vez em um supermercado,e de repente aquelas caixas coloridas de sabão em pó todas já não faziam mais nenhum sentido. É óbvio que ele quis levá-la para casa. Ela veio sorrindo porque estava alguns minutos atrasada. Uma vida inteira atrasada. Ela devia ter estado à frente dele no dia em que ele nasceu: os médicos diriam "Vais morrer, mas antes terás visto isso".
O hálito dela era perfumado. A pele dela era perfumada. Eis o que faria, a raptaria e a colocaria dentro de um frasco e venderia sua essência. As palavras dela dançavam como abelhas. Ela era uma colméia. Ele quis ser um zangão, mesmo um zangão aleijado. E ele que nunca quisera ser nada feminino, até abelha quis ser antes do final daquela tarde. (...)
Ele acordou com o cheiro fortíssimo de gás no apartamento. Tinha esquecido aberto de novo. E de novo tinha tido um daqueles sonhos bregas. Desligou o gás e admirou a rua repleta de mulheres com placas de neon sobre as cabeças, onde se lia "Não me toque". Depois voltou a dormir.
A maior parte de sua vida aquele jovem tinha tido que domesticar seus olhos. Eles insistiam em seguir seu próprio rumo, a despeito da vontade de seu dono. Ele se supunha dono dos seus olhos, ao menos. E era um dia infernal de calor naquela cidade. E se ela viesse de umbigo de fora? Ele sabia da mania dos seus olhos por umbigos desde a mais tenra idade. Olhava os umbigos das meninas, das mães das meninas, às vezes das avós, isso numa época em que nem desconfiava o que se pode fazer com uma mulher, ou o que uma mulher pode fazer com você. Ok, tudo bem, talvez mesmo hoje ele ainda não soubesse bem o que fazer, apesar das décadas passadas.
Ela chegou mais bonita do que antes, o que já era uma espécie de sacrilégio. Ele a encontrara daquela outra vez em um supermercado,e de repente aquelas caixas coloridas de sabão em pó todas já não faziam mais nenhum sentido. É óbvio que ele quis levá-la para casa. Ela veio sorrindo porque estava alguns minutos atrasada. Uma vida inteira atrasada. Ela devia ter estado à frente dele no dia em que ele nasceu: os médicos diriam "Vais morrer, mas antes terás visto isso".
O hálito dela era perfumado. A pele dela era perfumada. Eis o que faria, a raptaria e a colocaria dentro de um frasco e venderia sua essência. As palavras dela dançavam como abelhas. Ela era uma colméia. Ele quis ser um zangão, mesmo um zangão aleijado. E ele que nunca quisera ser nada feminino, até abelha quis ser antes do final daquela tarde. (...)
Ele acordou com o cheiro fortíssimo de gás no apartamento. Tinha esquecido aberto de novo. E de novo tinha tido um daqueles sonhos bregas. Desligou o gás e admirou a rua repleta de mulheres com placas de neon sobre as cabeças, onde se lia "Não me toque". Depois voltou a dormir.
2 Comments:
Umbigos femininos sempre! Prefiro sem piercings estúpidos que só detonam esse centro do universo..
Esse gás é sinistro hein!
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