Enfim, O Ano Novo
Quantas tardes de lágrimas, preço alto, duras penas. Enfim, naquela noite ela lhe devolveu o que havia lhe roubado há anos atrás. Não, não vamos chamar isso de roubo, mais um acordo não dito, selado pela solidão, confusão, desespero. Essa foi uma noite só, mas várias, foi a noite de todas aquelas tardes inúteis, ele ainda era jovem, ele não iria morrer ainda. Na praia ele teve esse vislumbre, o mar dançava só para os seus olhos, só na frente dos seus olhos, nenhum mais. O mar lhe presenteava, mas também o enchia da solidão do último membro de uma tribo que nunca existiu.
Ele começou pelos cabelos, mas não estava lá. O que havia era beleza cosmética que é o oposto do que devia se chamar de belo, algo falso, chamuscado, frio, inerte, impessoal, a miragem de uma miragem. E ainda nem havia deitado os olhos no resto. O mistério, por Deus, o mistério, onde andaria? Teria ele simplesmente confundido a oração com a divindade? Mais uma derradeira vez traído por sua vontade maior que tudo de torcer o mundo sob sua lente pessoal , ela sim torta?
Devia ter desconfiado de como a ficção havia soado perfeita mais cedo. A realidade lhe tomaria a alma mais tarde. Pensou em furar aqueles olhos, mas isso só os deixaria mais cegos e não jorraria sangue. As roupas, impecáveis, cobriam um corpo em silêncio. A nudez, por debaixo daquilo tudo devia ser nudez completa, a nudez do vácuo, que repele a vida. Pensar naquela nudez, mesmo agora, só o enchia de silêncio.
Teve medo de estender a mão e atravessar a imagem ao lado. Teve medo de que fosse um pesadelo. Teve medo de que continuasse para sempre. Agora não tinha mais medo, nem vontade de dizer uma palavra sequer.
O ano novo enfim começara.
Ele começou pelos cabelos, mas não estava lá. O que havia era beleza cosmética que é o oposto do que devia se chamar de belo, algo falso, chamuscado, frio, inerte, impessoal, a miragem de uma miragem. E ainda nem havia deitado os olhos no resto. O mistério, por Deus, o mistério, onde andaria? Teria ele simplesmente confundido a oração com a divindade? Mais uma derradeira vez traído por sua vontade maior que tudo de torcer o mundo sob sua lente pessoal , ela sim torta?
Devia ter desconfiado de como a ficção havia soado perfeita mais cedo. A realidade lhe tomaria a alma mais tarde. Pensou em furar aqueles olhos, mas isso só os deixaria mais cegos e não jorraria sangue. As roupas, impecáveis, cobriam um corpo em silêncio. A nudez, por debaixo daquilo tudo devia ser nudez completa, a nudez do vácuo, que repele a vida. Pensar naquela nudez, mesmo agora, só o enchia de silêncio.
Teve medo de estender a mão e atravessar a imagem ao lado. Teve medo de que fosse um pesadelo. Teve medo de que continuasse para sempre. Agora não tinha mais medo, nem vontade de dizer uma palavra sequer.
O ano novo enfim começara.
2 Comments:
Perfeita a sacada de "Teve medo de estender a mão e atravessar a imagem ao lado.", Goddard não diria melhor.
Bom, talvez ele diria melhor. Ele ou o Leonard Cohen.
Eles certamente diriam melhor. Isso é que é foda.
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