"Into The Wild"
Acabei de assistir ao "Into The Wild", de Sean Penn. Engraçado que o cara que tenha ficado famoso nos anos 80 como o Mr. Madonna, pavio curto cuja política parecia ser a de socar primeiro e socar depois, chegue a meia-idade filmando a história de um gente boa meio hippie que busca o ideal de isolamento no seio da natureza.
Contudo, só o fato de levar a alguma reflexão após seus minutos finais já é um mérito do filme, sem dúvida. E há outros. A bela trilha de Eddie Vedder, com algumas de suas melhores melodias desde sabe-se lá quando, rende momentos delicados e líricos, somada às estonteantes locações, supostamente no fim-do-mundo do Alaska. Outro ponto forte é a crítica mais do que necessária à ilusão materialista de nossos tempos, afinal o que não se pode comprar talvez seja o mais valioso.
Em determinada passagem, o personagem principal, Alex Supertramp, vaga por entre miseráveis, buscando um abrigo público e o quadro que se forma diante de nossos olhos é o de um mundo em que o lugar reservado a quem não joga de acordo com as regras é o de uma existência sub-animalesca. Basta comparar a dignidade de todos os animais mostrados ao longo do filme e ponderar quem é superior a quem.
A visão da natureza expressada pela película também é adequada, em sua grandiosidade, beleza e indiferença à espécie humana. Em duas cenas o diretor acerta em cheio, em uma mostrando como moscas e chacais talvez estejam muito mais preoaradas para a sobrevivência em situações extremas, e mais à frente, nos mostrando um imponente urso que solenemente ignora a débil figura do protragonista á sua frente. Vistas em sequência, ambas as cenas evidenciam a fragilidade de nossa espécie. As paredes que erguemos refletem nossa inferioridade natural. E são muitas as paredes: Deus, amor, religião, ciência. artes, política. Artifícios desengonçados de um animal doente. Assustado e fraco, por isso tão perigoso.
Outra passagem bastante felizé a em que o protagonista, quase adquirindo uma aura de guru, citações a Jesus inclusive aparecem, diz a outro personagem algo como "É um erro esperar felicidade apenas das relações humanas". Reflexão radical esta, que supõe uma possibilidade de plenitude fora das "paredes". Alex abandona sua carreira, seu nome (Alex é um pseudônimo), sua família, seu carro,queima seu dinheiro e documentos e mergulha no Alaska imaginário. Em diversas sequeências, o filme nos mostra momentos em que o personagem toca de leve a plenitude desejada. Até mesmo sem sexo (ele recusa uma possibilidade romântica em um dos pontos fracos do roteiro, pelos motivos errados. Seria mais inteligente propor um afastamento total dos elos tradicionais de relações humanas causado pela intoxicação do Alaska ideal, mas o diretor prefere optarpor uma solução moral mais simplória para a recusa de Alex), sem sucesso, sem ambição, existe a felicidade.
Entretanto, essa interessante proposta é sabotada ao longo (longo mesmo) de 2:30h de filme, em nome de um raciocínio típico de literatura de auto-ajuda. "Não há felicidade sem troca", diz o personagem na conclusão do capítulo denominado "Conhecimento", invalidando com uma frase todo o percurso do filme. A realização dos momentos solitários não é nada diante da comunhão com os semelhantes? Então é isso? Era só egpísmo e fuga então? Que pena. Pensei que a idéia era a de felicidade sob uma ótica diferente. (Na verdade, a inserção de um dispensável drama banal familiar no passado de Alex já apontava para essa conclusão equivocada). Lamentável o desvio do que poderia ser uam contundente cutucada em determinadas convenções. Melhor seria então, que ele nunca tivesse saído do convívio dos seus semelhantes, certo?
Trata-se portanto de mais um daqueles filmes em que é melhor parar no meio e construir o próprio final, prática aliás muito salutar, que vocês deviam experimentar.
Aliás, ninguém mais em Hollywood conta histórias em ordem cronológica? Maldita praga noventista!
1 Comments:
Não posso deixar de comentar: masculinidade à deriva com essa foto nova do perfil, hein? Cobertinha rosa?
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