Sócrates do Funk

O filósofo a quem servirei de Platão, era parecido com a figura aí de cima. Bonezinho, sobrancelha raspada, só mais negro. Subiu no ônibus com uma garrafa de cerveja aberta na mão, e de cara, arrumou uma confusão com a trocadora, querendo trocar 50 reais e alegando que a pobre mulher no exercício de seu tedioso ofício havia tentado lhe subtrair 10 reais.
Por todo o tempo o da viagem ele continuou contando sua história, entre ameaças à integridade física da trocadora, ou foi o que parecia, já que eu estava de fones de ouvido e não tinha interesse no discurso do indivíduo, em minha ignorância, já que pérolas da sabedoria estavam prestes a sair de sua boca.
Em algum momento entre ir lá encher o saco da cobradora e levantar a camisa para mostrar orgulhoso supostas marcas de bala pelo seu corpo, ele decidiu dividir com os passageiros do ônibus seus ensinamentos, e isso coincidiu com uma música silenciosa em meu ipod, o que permitiu que eu tivesse a sorte de ouvir.
Quem tem ouvidos que ouça.
"Eu não gosto de mulher não. Eu gosto é de dinheiro. Com dinheiro eu faço o que eu quero".
Discorram, amigos leitores. Eu fiquei sem palavras.

P.S.: Antes de qualquer coisa, quero sublinhar que sou preto e pobre, ou seja, tenho a liberdade de chamar outros pretos e pobres de filhos da puta sem me sentir politicamente incorreto, o que é altamente libertador.