Alguns Segundos Depois
Ele tinha um dom que ninguém mais possuía, uma espécie de super-poder, aparentemente inútil, mas que podia ser divertido, sendo ele tão estranho. Ele conseguia ver o que acontecia nos livros, nos filmes, depois do "The End". Só funcionava na ficção, a vida real era muito mais complexa e tediosa, na vida real as pessoas peidavam em vagões de metrô lotados, e sua comunicação com as mulheres em geral levava a diálogos como:
- Mas esse troço é ilegível!
- Eu só leio livros ilegíveis. E sinto coisas impossíveis de sentir, e vejo só o que não se vê a olho nu, e ouço o inaudível e tenho sentido o tempo todo esse gosto...
Som de telefone desligando.
Ou ainda:
- Está há muito tempo me esperando?
- Eu estava aqui pensando quanto tempo levaria para morrer se eu pulasse daqui de cima na frente do metrô. Nada sério.
E também:
- Qual é boa de hoje?
- Vou pra casa. Talvez chore entre as 3 e 4 da madrugada. Na hora mais escura o amanhecer parece uma piada estúpida, sabe?
A vontade de vomitar que lhe acometia era mais gostosinha do que a maioria das coisas que havia sentido ultimamente. As pessoas tiram umas fotos meio ridículas, queria gritar, por isso jamais compraria uma câmera digital, reconhecia que sua vida medíocre não merecia registros. Também jamais aprenderia a conduzir um automóvel, isso não faz bem para a cabeça das pessoas. E a sua já estava cheia de gente morta ou que nunca existiu.
A propósito, ele pediu encarecidamente a esse narrador que deixasse bem claro a todos os leitores que as mulheres são seres sublimes, sem nenhum defeito e só merecem louvor. Falou isso com um sorriso meio tolo no rosto, sei lá o que pretendia.
E pensar que um dia ele tinha querido só ser um cara feliz,como se a felicidade não fosse um delírio de um segundo amplificado pela memória doente. Assim como a tristeza.
Eu o aconselhei que tirasse uma foto idiota também. Quem sabe a vida aparecesse como realmente é: nada de ódio, amor, comunicação, tristeza, felicidade, júbilo, magia...só o tédio cinza dos dias contados.
Só a mediocridade mal disfarçada de nossas vidas. (Um dia ele quis dizer como era bonito e escroto que a linda e morna barriga dela fosse forrada de merda e que isso era o mais próximo de uma definição da vida a que ele conseguia chegar. As mentiras, as mentiras). Mas, ok, não se capta isso com as câmeras.
De onde veio essa porra dessa tranquilidade agora? Ah, vai se foder, cara, você não deve ser normal! Não, você nunca foi normal, que sejam registrados os momentos no pátio do colégio. Ali a vida acabou. O que ele via, sentia, tentava tocar em tardes moribundas empapadas de lágrimas era o que havia alguns segundos depois do fim.
Tente você. Eu particularmente não vejo nada.
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- Mas esse troço é ilegível!
- Eu só leio livros ilegíveis. E sinto coisas impossíveis de sentir, e vejo só o que não se vê a olho nu, e ouço o inaudível e tenho sentido o tempo todo esse gosto...
Som de telefone desligando.
Ou ainda:
- Está há muito tempo me esperando?
- Eu estava aqui pensando quanto tempo levaria para morrer se eu pulasse daqui de cima na frente do metrô. Nada sério.
E também:
- Qual é boa de hoje?
- Vou pra casa. Talvez chore entre as 3 e 4 da madrugada. Na hora mais escura o amanhecer parece uma piada estúpida, sabe?
A vontade de vomitar que lhe acometia era mais gostosinha do que a maioria das coisas que havia sentido ultimamente. As pessoas tiram umas fotos meio ridículas, queria gritar, por isso jamais compraria uma câmera digital, reconhecia que sua vida medíocre não merecia registros. Também jamais aprenderia a conduzir um automóvel, isso não faz bem para a cabeça das pessoas. E a sua já estava cheia de gente morta ou que nunca existiu.
A propósito, ele pediu encarecidamente a esse narrador que deixasse bem claro a todos os leitores que as mulheres são seres sublimes, sem nenhum defeito e só merecem louvor. Falou isso com um sorriso meio tolo no rosto, sei lá o que pretendia.
E pensar que um dia ele tinha querido só ser um cara feliz,como se a felicidade não fosse um delírio de um segundo amplificado pela memória doente. Assim como a tristeza.
Eu o aconselhei que tirasse uma foto idiota também. Quem sabe a vida aparecesse como realmente é: nada de ódio, amor, comunicação, tristeza, felicidade, júbilo, magia...só o tédio cinza dos dias contados.
Só a mediocridade mal disfarçada de nossas vidas. (Um dia ele quis dizer como era bonito e escroto que a linda e morna barriga dela fosse forrada de merda e que isso era o mais próximo de uma definição da vida a que ele conseguia chegar. As mentiras, as mentiras). Mas, ok, não se capta isso com as câmeras.
De onde veio essa porra dessa tranquilidade agora? Ah, vai se foder, cara, você não deve ser normal! Não, você nunca foi normal, que sejam registrados os momentos no pátio do colégio. Ali a vida acabou. O que ele via, sentia, tentava tocar em tardes moribundas empapadas de lágrimas era o que havia alguns segundos depois do fim.
Tente você. Eu particularmente não vejo nada.
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1 Comments:
"Tente você. Eu particularmente não vejo nada. " [2]
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