Thursday, June 10, 2010

Ficando Velho No Rock'n'Roll

A terceira idade no rock'n'roll é um fenômeno relativamente recente, por razões óbvias, sendo o ritmo jovem, com data de nascimento em algum lugar dos anos 50. Coube aos eternamente transgressores, ao menos no que se refere ao mito, Rolling Stones, derrubar mais uma regra do mundo pop, talvez pelo puro acidente de terem sobrevivido e não saberem fazer outra coisa.
Muito se especulou na década de 90 sobre o quanto haveria de ridículo na performance dos sexagenários ao som do rock'n'roll, como se uma pessoa de idade avançada não pudesse sentir falta de "satisfação". Como se o rebolado de Mick Jagger não houvesse sido desde sempre cômico, ou Keith Richards não fosse feio desde jovem.
A década viu outros artistas importantes lidar com o peso dos anos, cada um a seu modo. Neil Young cantou "Keep on rocking in the free world" e contemporâneos seus como Dylan e Van Morrison assim o fizeram. A despeito de suas diferenças de estilo, uma tendência parece uní-los: um olhar carinhoso sobre as próprias raízes, como que a afirmação do clichê da volta à infância na velhice.
Dylan foi um artista inquieto por décadas. Seustrabalhos do final dos anos 60, meado dos 70 e mesmo os mal-afamados álbuns oitentistas desafiam qualquer tipo de classificação fácil. Van Morrison e seu amálgama de soul, funk, jazz e folk celta também deu trabalho aos rotuladores, assim como Neil Young, que até de música eletrônica com vocoder à la Kraftwerk atacou (vide o incompreendido "Trans").
No entanto, a primeira audição dos últimos trabalhos destes artistas revela pouca conformidade com a inquietação e a busca pelo novo, ao apostarem na reverência, ora ao próprio trabalho, ora aos gêneros mais tradicionais. Dylan com seus blues e rockabillies recentes, poderia estar em algum lugar dos anos 50 pré-rock'n'roll. O mesmo pode ser dito sobre Van, cujo trabalho há mais de uma década, pelo menos, segue numa sonoridade mais próxima do jazz tradicional e do chamado cancioneiro popular tradicional norte-americano dos anos 40 e 50 (tristemente abandonando os acentos funk/soul que tantas obras-primas nos trouxeram, tais como "Period Of Transition" e "Moondance"). Mesma coisa com Neil Young, cada vez mais fincando o pé no rock'n'roll clássico e no folk/country.
A ausência de inovação certamente não equivale à queda de qualidade na obra deles, falamos aqui de mestres. Da mesma forma, o simples esforço pela inovação não é garantia de bons resultados. Entretanto, num cenário no qual a juventude pouco faz além de eternos revivals pouco inspirados e artistas inquietos por natureza parecem se recolher a um canto quente para morrer em paz, prevalece a sensação de estagnação e imobilidade em nosso tempo, em termos de música pop.

2 Comments:

Blogger Ana Cavalcantti said...

"...talvez pelo puro acidente de terem sobrevivido e não saberem fazer outra coisa."

Essa foi boa !!!!! rs

7:13 AM  
Blogger Ana Cavalcantti said...

Não dá pra te seguir, nem pra te cadastrar pra receber por email , faça algma coisa rs

7:15 AM  

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