Saturday, February 02, 2008

Astral Weeks de Novo

Eu sempre vou voltar à Cyprus Avenue, pelo menos enquanto eu me sentir assim, "nothing but a stranger in this world". E se já dediquei um post a esse disco, devo dedicar uns cem mais ainda e assim não vou alcançar o poder dessa obra tão singular, que nem a seu criador pertnece mais, se é que um dia pertenceu. O gênio Van jamais fez algo parecido, nem tentou, sábio. Seria impossível. Falharia, provavelmente, e se conseguisse repetir a façanha, nossos corações cansados não suportariam.
São poucos acordes que guiam a faixa título, a porta de entrada para o mundo da dor apaixonada do jovem Van (quantos ele tinha na época? 21 anos? É possível? Convém não subestimar a dor de um jovem). São versos completamente sem sentido que abrem o disco "If I ventured in the slipstream between the viaducts of your dream". Não quer dizer nada, mas diz muito. Diz muito da mente atormentada do poeta cheio de um sentimento que ele não pode conter, tão grande que não há onde guardar e possivelmente obsoleto nesse mundo. Até o meio da canção, vc sente a dor, no desespero das sílabas repetidas de modo maníaco, mas é preciso chegar quase ao meio da canção para saber o motivo: her "boy", o mesmo motivo de sempre, e como ela toma conta "dele", do outro. Nascer de novo, num outro mundo, já que esse tem donos de roupas limpas demais.
"Beside You" não tem explicação. Tente tirar os acordes dessa música. Tente entender seu andamento. Tente cantar junto. Quer saber o que é um homem apaixonado? Aquele que se admira diante do ar que sai e entra do corpo de seu objeto (é, objeto) de afeição. De certo modo ele quer fazer o mesmo. "You breathe in, you breath out/You breath in, you breath out/You breath in, you breath out/Then you're high/In your high flynign cloud".
"Sweet Thing". "I'm dynamite and I don't know why". Os iluminados músicos que acompanharam Van aqui se transfiguram em ciganos e a música flutua pelo ar como se viesse de um passado remoto, como se sempre tivesse existido. A confusão só aumenta. São muitas caminhadas pela rua dela. Agora ela já tem "champagne eyes" e "saint-like smile". Dá vontade de dizer "Van, não faz isso. Ponha uma delas num pedestal e nunca mais a toque". Mas não existe coisa mais inútil que falar de razão a alguém nesse estado.
Porra Van Morrison. Ela é jovem demais!! Você tá fodido cara. Bêbado, apaixonado, hipnotizado em Cyprus Avenue.
Vira o lado, porque antigamente era assim. Será que são delírios de um bêbado ou a sorte mudou de lado? Não importa. É lindo. O primeiro beijo, o segundo beijo e os dois amantes sentados na própria estrela. The way young lovers do. The way old lovers should do. Talvez a música de amor perfeita.
É era sonho mesmo. É preciso ir, sabe-se lá onde ele passou a noite (Cyprus Avenue), sonhando com o "love that loves the love that loves the love that loves...". As palavras se confundem na sua boca. "Well I maybe wrong/But something deep in my heart tells me I'm right and I don't think so". Enquanto isso ela dança, ballerina. Dança para longe, "out of reach". Nem o magnífico baixista consegue mais encher a música com vida. A noite está acabando, o disco também, e a manhã não traz promessas de felicidade ou mesmo satisfação. O instrumental da última faixa é esparso, não poderia haver mais uma faixa depois dessa. Sob o sol impiedoso da manhã, ela passeia de cadillac com seu novo garoto. E a última frase do disco é "I don't know what to do".

Nem eu.

1 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

A melhor postagem sobre um álbum. Mais do que comentários, isso foi um depoimento. Lembro que a primeira vez que ouvi este disco, eu também estava com o "Ziggy Stardust". Eu ouvia cada um 5 vezes seguidas mais ou menos, alternando-os. Isso durou algumas semanas. Sei as letras das músicas do "Ziggy Stardust", mas nunca consegui acompanhar o "Astral Weeks", nem decorar as letras, nem entendê-lo direito. "Astral Weeks" pra mim é isso, reticências que a gente tenta descrever mas mal e porcamente consegue se aproximar do que é de fato. Resta apenas ouvir esse disco pra sempre, sempre do começo ao fim.

11:41 AM  

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