Tuesday, May 20, 2008

Quem Não Gosta De Ramones É Babaca

Assisti ontem ao documentário "End Of The Century" sobre a banda. Na década que esculhambou com tudo de bom que os anos 60 trouxeram para a música pop, uma santíssima trindade nos livrou das trevas do pop pobre e do hard rock burro/progressivo pseudo-inteligente que predominavam: Kraftwerk, Bowie e eles. Eles, feios, nerds, desajustados, pobres, os Ramones.
Até hoje incomodam. A simples menção da banda em alguns círculos leva a alguns narizes torcidos (Convém lembrar que a maioria esmagadora dos músicos brasileiros ainda está imersa nos vícios dos anos 70!), e não estou me referindo a pessoas de idade avançada apenas.
Os Ramones evidenciavam a injustiça das coisas. Isso mesmo. Aquele papo de todo mundo tem algo de bom, que as coisas chegam para todo mundo a seu tempo, tudo mentira. Pois é, alguns de nós são feios, pobres, mal-educados, têm dificuldade de aprendizagem, são tímidos, anti-sociais, são desleixados com sua higiene, TUDO AO MESMO TEMPO! O que não nos impede gritar, gritar por espaço. Ou para incomodar, ou porque gritar às vezes relaxa.
Além de tudo, que audácia, mal sabiam segurar seus instrumentos! Alguém precisava realizar esse procedimento cirúrgico no tal do rock. Os cabelos haviam crescido demais e tapado os ouvidos. As drogas começavam a afetar o senso crítico. Tudo estava ficando muito complicado e chato. E distante. Coisa de estádios e parafernália. Os Ramones foram precisos. Resagataram a música em seu estado puro, bruto, à maneira de James Brown com seu funk primal, eles tocavam "só a parte boa". 1, 2, 3, 4. Que os sintetizadores fossem todos jogados no lixo (e olha a merda: aí vem Radiohead, Flaming Lips e outros, e nos vemos voltando a era dos...não, peraí, isso é outro assunto), quem perdeu 15 anos fazendo exercícios de escala para se tornar virtuoso do instrumento só perdeu seu tempo. Uma guitarra vagabunda e 3 acordes já serviam. Ah sim, um talento melódico invejável ajudava.
Se os Stooges, os Doors e o Velvet golpearam mortalmente o sonho hippie, os Ramones dançaram sobre o túmulo e picharam a lápide (mais tarde os Cramps dançariam de dentro do túmulo, mas isso é outra história ainda). Malcolm McLaren foi lá e roubou a música deles, levou para a Inglaterra e forjou o punk. Nunca venderam discos. Foram desprezados pela MTV. Não ficaram milionários. Pra dizer a verdade, estão quase todos mortos hoje em dia (só restam os bateristas, que engraçado).
Seu fracasso e seu êxito se devem às mesmas coisas. Uma combinação de personagens que parece saída de um roteiro de história em quadrinhos: um guitarrista metódico e controlador, com um conceito visual e musical genial e inovador. Um baixista auto-destrutivo e infantil, mas compositor de mão cheia. Um vocalista frágil psicológica e fisicamente, mas com voz e visual inimitáveis. Quanto aos bateristas, o primeiro foi necessário, o segundo queria diversão e o terceiro não fez diferença.
Ah, mas as músicas são muito parecidas. Sim, assim como as dos Stones. As de John Lee Hooker.
Ou mesmo as de Nick Drake. Repetitivas como o baixo agudo de Peter Hook e as guitarras dedilhadas de Johnny Marr. O nome disso é estilo. Além do mais, uma análise menos superficial, demonstra que há, sim, nuances no som da banda, da podreira do início, ao trabalho com Phil Spector, às tentativas pop de Road To Ruin, também na confusão dos anos 80 e da consagração dos trabalhos dos anos 90.
Se hoje a idéia de misturar power chords com melodia virou piada nas mãos de gente sem talento, que saibamos diferenciar as pérolas dos porcos com eyeliner. Há babacas que gostam dos Ramones? Sim, aos montes. Mas...Você gosta? Não?? Hmpf...

2 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

1, 2, 3, 4!!! Do que eu mais gosto nos Ramones é da base de violinos. Mas os backing vocals também são lindos alternando com os metais.

7:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

Base de violinos?? Tá de sacanagem??

7:43 PM  

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