"Inglourious Basterds" - Quentin Tarantino
Crissss Ssssssss, que ainda não viu esse filme, uma vez fez uma inteligentíssima observação sobre a dificuldade que os artistas setentistas tiveram de atravessar a década de 80. Olhando em retrospecto, não há nenhum grande nome da música pop (com exeção talvez do Kraftwerk, mas eles não são humanos mesmo) que não tenha metido o pé na jaca do mau gosto naqueles anos. Atravessar décadas envolve riscos terríveis. Eu por exemplo, perdi quase todos os cabelos do topo da cabeça nessa brincadeira. Tarantino ainda os têm, mas o impacto que sua figura teve no meio cinematográfico nos anos 90 já não é mais o mesmo há tempos. Em parte por causa desse fenômeno das décadas, mas também porque o cineasta optou por destilar seu estilo, para o bem e para o mal.
Sua investida no "blaxploitation" de "Jackie Brown" foi o que primeiro me desapontou. Depois vieram "Kill Bill", seu filme de karate, que é quase bom, peca pelo excesso e pela pretensão do artista em ser o mestre da manipulação e perversão dos clichês. Não, ele não é tão bom quanto pensa.
Há gêneros de filmes que simplesmente abomino. Não vejo filmes que tenham nazistas, nem velho oeste, nem filmes de karate. Geralmente me entediam ao máximo. Mas alimento a esperança, cada vez mais débil, de repetir a poderosa experiência de "Pulp Fiction" ou "Reservoir Dogs", clássicos do diretor.
Ao contrário da crítica, achei um quase retorno à forma seu penúltimo filme, "Death Proof". Parecia que o diretor estava menos preocupado, naquele trabalho, em demonstrar sua maestria. Ledo engano. Lá fui eu ao cinema, quebrando um dos meus dogmas, ver um filme de nazista, só porque era do Tarantino.
O que vi? Tarantino testando nossa paciência com diálogos intermináveis, preciosismo e citações de nerd de cinema, nazistas, nenhuma gostosa, a redescoberta do Bowie da fase "Let's Dance" (a trilha traz a subestimada "Putting Out Fire", já usada nos anos 80 para um clássico da minha adolescência, pelos motivos errados, "A Marca Da Pantera/Cat People"), um sadio desrespeito à história, a boa e velha ultraviolência e uma questão perturbadora, nazistas na posição de vítimas, talvez o aspecto mais interessante do filme: se é nazista, pode tudo? Queimar vivo, porrar até a morte, metralhar multidões desarmadas? Postos na posição de vítimas, os mais clássicos vilões do cinema subvertem uma tradição e levam a pensar sobre a complexidade das ações cruéis do ser humano.
Ok, mas achei o mais chato dos filmes do cara. Ah, e alguém precisa avisar ao Brad Pitt que interpretação é mais do que arrumar um sotaque engraçado.
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