Friday, February 19, 2010

Alegria, Feijão, Bunda

A mulher comia sua refeição com vontade e ele pensava que não devia andar com alguém que gostasse tanto de feijão, parecia uma afronta. Ele odiava feijão. A impossibilidade ficou evidente enquanto percebeu que prestava mais atenção na mosca que esfregava as patas no encosto da cadeira atrás da mulher que nas palavras da mulher. Teve uma idéia para um personagem de um romance que diria isso em algum momento "Sou a voz de minha geração, mas ela não tem o que  dizer". Ele pensou em escrever a história de um cara que conhece a garota dos seus sonhos sob uma noite estrelada e nada acontece, porque isso pareceu  o final mais feliz possível.
Parou de pensar quando a mulher se levantou para ir ao banheiro e pensou que a bunda dela, ao menos, era boa, ou pelo menos o que ele entendia como uma bunda boa. Mesmo ele às vezes parava de pensar. Acontecia quando via o mar e a beleza o embriagava. Acontecia durante algumas músicas. Acontecia durante o bom sexo. Dizem ser não pensar a idéia por trás de alguns exercícios de meditação, mas ele gostava da sensação porque significava se afastar de si mesmo. Pode uma bunda boa consertar um coração partido? Não, a bunda fica longe do coração.
Lá fora algumas pessoas estavam alegres, era uma época do ano em que esse é o costume. Pensou na gente com a qual andou por um tempo, incapaz de ficar feliz por estarem mortos. Comparou com a gente que andou ultimamente, incapaz de ficar feliz sem drogas. Odiou ambos os grupos, percebeu o quão longe estava. Não entendiam que ele dançaria a noite toda, contanto que a música fosse boa e o sorriso da mulher sincero.

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