Enquanto ia, tive que cumprimentar a senhora que no sábado à noite alimentava os gatos. Pensei que talvez houvesse um plano de velhice decente, se não morresse antes de tédio, de enjôo. Quando você ainda tem um coração, tem que fazer algo para mantê-lo quente. Quando já não o tem mais, friccionar os órgãos genitais é o bastante. Infelizmente a senhora não me olhou como se olharia a um semelhante. Seria cada ser humano uma coisa completamente diferente? Em caso de resposta afirmativa, deixemos de lado os abraços apertados e comecemos os preparativos para o apocalipse.
O telefone tocou na hora mais errada, como sempre. Havia um tempo em que você podia sair assim e jamais te encontrariam, acredite. Era o Gordo.
- Tá em casa não, filho da puta?
- Saí para andar.
- Você precisa esquecer isso.
- Defina "isso".
- Vai passar, cara.
- Acho que eu fico triste justamente por isso. Porque as coisas boas passam e as ruins duram. Não sei.
- Pensando em ir a algum lugar?
- Ultimamente onde quer que eu vá é o mesmo lugar com as mesmas pessoas, é incrível...
- Ih, caralho. Depressão mode on.
- Que barulho é esse? Tem um monte de gente falando...
- Gente não, mulher, meu caro. Digamos que estou cercado por diversas damas muito gentis e solícitas.
- Putas.
- Ora. Elas contam as mentiras certas. As outras mulheres insistem em contar as erradas.
- Só as mulheres mentem?
- Estou falando de mulheres nesse exato momento, imbecil. Quando eu mudar de assunto, eu aviso.
- Vai foder suas damas.
- Ok, me liga antes de decidir fazer qualquer coisa estúpida. Tem umas coisas suas que eu gostaria que ficassem pra mim.
- Não vou te esquecer no meu testamento.
- Ou bilhete suicida.
Fim da conversa. Ele queria me por pra cima, mas só reforçou minhas idéias mais sombrias. Esse é um mundo em que pagamos por mentiras mais agradáveis.
A verdade é essa noite. Para cada alma boa que alimenta os gatos vagabundos, existem centenas que esmagariam seus crânios com prazer. Nos motéis, nos bares, nas igrejas, nas boates, nos canais de esgoto sob nossos pés. Os ratos e as lacraias habitam as entranhas de nossa cidade. E no fim da cidade tem outra cidade, não há saída.
Ok, por que não usar o telefone? Caixa postal. Obviamente no sábado à noite a adorável criatura estava entretida com algum ritual realizado sem as roupas. Deixei uma mensagem dizendo "Por favor". Não sei o que queria dizer.
Sentei num banco e fiquei contando os carros que passavam. Um, dois, cem.
O telefone tocou na hora mais errada, como sempre. Havia um tempo em que você podia sair assim e jamais te encontrariam, acredite. Era o Gordo.
- Tá em casa não, filho da puta?
- Saí para andar.
- Você precisa esquecer isso.
- Defina "isso".
- Vai passar, cara.
- Acho que eu fico triste justamente por isso. Porque as coisas boas passam e as ruins duram. Não sei.
- Pensando em ir a algum lugar?
- Ultimamente onde quer que eu vá é o mesmo lugar com as mesmas pessoas, é incrível...
- Ih, caralho. Depressão mode on.
- Que barulho é esse? Tem um monte de gente falando...
- Gente não, mulher, meu caro. Digamos que estou cercado por diversas damas muito gentis e solícitas.
- Putas.
- Ora. Elas contam as mentiras certas. As outras mulheres insistem em contar as erradas.
- Só as mulheres mentem?
- Estou falando de mulheres nesse exato momento, imbecil. Quando eu mudar de assunto, eu aviso.
- Vai foder suas damas.
- Ok, me liga antes de decidir fazer qualquer coisa estúpida. Tem umas coisas suas que eu gostaria que ficassem pra mim.
- Não vou te esquecer no meu testamento.
- Ou bilhete suicida.
Fim da conversa. Ele queria me por pra cima, mas só reforçou minhas idéias mais sombrias. Esse é um mundo em que pagamos por mentiras mais agradáveis.
A verdade é essa noite. Para cada alma boa que alimenta os gatos vagabundos, existem centenas que esmagariam seus crânios com prazer. Nos motéis, nos bares, nas igrejas, nas boates, nos canais de esgoto sob nossos pés. Os ratos e as lacraias habitam as entranhas de nossa cidade. E no fim da cidade tem outra cidade, não há saída.
Ok, por que não usar o telefone? Caixa postal. Obviamente no sábado à noite a adorável criatura estava entretida com algum ritual realizado sem as roupas. Deixei uma mensagem dizendo "Por favor". Não sei o que queria dizer.
Sentei num banco e fiquei contando os carros que passavam. Um, dois, cem.
2 Comments:
Eu amo essa música, acho uma das canções mais lindas do GBV !
ahhh fiz o comentário no post errado.
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