Friday, December 15, 2006

When The Music's Over, yeah

Por princípios e a princípio sou contrário a músicas com mais de, digamos, três minutos. Na quase totalidade dos casos, canções que passam desse limite costumam afundar em exercícios de egolatria, auto-indulgência e empulhação, com solos, mudanças de andamento e/ou acordes previsivelmente imprevisíveis, que os digam os malas progressivos.
Todavia, "When The Music's Over" dos Doors consegue a façanha. Em seus 11 minutos,quase tudo de bom que a banda criou ou explorou no universo pop está presente. Experimental, melancólica, melódica, raivosa,surpreendente, pungente, quantas canções suportam tantos adjetivos sem que sejam meros delírios de um fã sem senso crítico?
Robbie Krieger nos faz esquecer, ou talvez ainda não fosse verdade naqueles tempos, a cretinice que são os solos de guitarra, criando um desvairado exemplo, algo entre escalas inusitadas e notas simplesmente "erradas", com duas guitarras quase gêmeas, encharcadas de um delay fantasmagórico, uma saindo de cada caixa de som (o paraíso era stereo. Só o paraíso over é 5.1).
Jim Morrison nos brinda com uma de suas melhores letras, com frases de efeito como "A música é a sua única amiga até o fim" (e não é mesmo - sem desmerecê-los, charmosíssimos comentadores deste -?), ou ainda "Cancelem minha inscrição para a ressurreição/Enviem minhas credenciais para a casa de detenção/Tenho uns amigos lá dentro", "Queremos o mundo e o queremos agora!". Isso até chegar a berros tão cheios de agonia que nem mil bandas de trash-speed-hardcore-hiper-metal conseguiriam sequer sonhar em igualar.
Ray Manzarek segura a base nos teclados, só para nos lembrar de que há algo de blues na composição. Seus acordes e arpejos nos mostram de qual solo a música dos Doors decolou. Sem falar na sensacional linha de baixo, responsável por um dos momentos mais marcantes e particulares da música pop, em que Morrison canta acompanhado apenas do baixo feito no órgão, rodedao do silêncio mais eloquente possível.
John Densmore passeia no seu kit, dando umas rufadas na caixa que se assemelham a rajadas de metralhadora, certeiras sempre.
Desfecho sublime de um disco que ainda tem "Strange Days", "Moonlight Drive", "Love Me Two Times", "People Are Strange", "You're Lost Little Girl"...

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