Saturday, February 02, 2008

"Last Night I Dreamt..." dos Smiths e Seu Impacto Sobre Os Adolescentes Feios Do Mundo (Ou Blog Is Not That Macho)


Eu era um moleque feio. Feio e pobre. E para piorar a minha situação, eu era feio, pobre e antipático e pouco higiênico. Passava minhas tardes me perguntando porque as mulheres me desprezavam tão absolutamente, não me passava pela cabeça que as razões fossem óbvias. Se eu não houvesse descoberto a música, talvez virasse tarado, ou simplesmente psicopata, não sei.


Havia uma garotinha na escola que gostava de mim, era uma portuguesinha gordinha. Eu não tomava nenhuma atitude porque morria de medo dela. Hoje penso como era ingênuo e burro. Se eu me concentrasse nos belos e redondos peitos que ela tinha, certamente teria me divertido mais e ela também, levando em conta o tanto que se esforçava para ficar do meu lado. Uma vez, ela até mandou um cartãozinho de natal muito singelo, que eu queria ter guardado como souvenir de uma época quase sem escrotidão na minha vida.


Mas não é disso que eu quero falar. Eu quero falar de uma das músicas mais bonitas do mundo: "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me" de Morrissey e Marr. Anos se passaram até que eu conseguisse comprar o disco que tinha essa música. Nenhum dinheiro. Um moleque estúpido, cabeçudo, de pele ruim e dentes podres tinha a merda do disco, sem nem mesmo gostar da banda e eu não. E ainda tinha um agravante, era o disco que selava o fim da banda.


Quer tragédia maior? As mulheres te desprezam, você não consegue se enturmar nem com os nerds e sua banda favorita acaba. Eu pensava muito em suicídio naquela época.Ê juventude!


A música começa nuns acordes de piano sombrios sobre o sol de uma multidão aos berros, que eu gostava de imaginar que eram os uivos das almas danadas do inferno. Quando a banda entra, um som surpreendentemente cheio de elementos, em se tratando de Smiths, junto vem a encachapante letra.


"Noite passada eu sonhei que alguém me amava/Nenhuma esperança ou mal, só outro alarme falso". Eu me divertia com duas possíveis interpretações desses versos. Uma literal, em que o pobre narrador passa por aquela terrível situação bem comum às pessoas solitárias, de sonhar com a realização do amor perfeito só para acordar ainda mais solitário; ou outra mais metafórica, na qual o sonho na verdade descreveria a experiência pré-desilusão.

"Noite passada eu senti/braços verdadeiros ao meu redor". Como isso ressoava em minha alma ansiosa por contato.

"Essa história é velha, eu sei, mas continua". O toque de mestre do equivocado e racista Morrissey, a prova de que imbecis podem ser gênios. Os melhores versos de suas letras são aqueles em que o dramático e o cômico se misturam de tal forma que você já nem sabe mais.

Os poucos acordes da música se repetem, e aquela sequência de acordes me lembra o sucesso do Radiohead, "Creep", de um modo que não sei explicar, sem falar que sem os Smiths, dificilmente teríamos uma banda cantando "I am a weirdo". Ao final cordas extra dramáticas destroem o que sobrou da sensibilidade do ouvinte. E só lhe resta...ouvir uma musiquinha mais alegre depois dessa, senão fica foda!!

2 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

Eu sempre tive certeza de que as vozes no início dessa música eram de almas condenadas sofrendo no inferno por toda a eternidade. Como ele gravou, não sei.

E sim, conheço bem essa sensação desgraçada de sonhar que se está plenamente satisfeito, acompanhado por uma garota que te ama, e de repente acordar na cama olhando para o lado vazio, ou para o teto. Lembro-me bem de um sonho desses quando eu tinha uns doze anos, e passei o dia inteiro sem falar uma palavra sequer, a não ser para responder perguntas banais que me fizeram na escola.

9:46 AM  
Blogger Urso said...

"Eu era um moleque feio. Feio e pobre."
ahuehauehaeuhaeuhaeuhuaehuaehuae!!!
Eu era um jovem urso bonitinho mas isso não tornou as coisas melhores para mim...

5:28 PM  

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