Tuesday, December 19, 2006

Saco De Mentiras, cap. 1

Voltando do emprego entre rostos de cera apertados no coletivo. Todos os olhos sem foco, vivendo pequenas mortes como animais em gaiolas, estes homens e estas mulheres estão indo para casa. Não me arrisco a olhá-los de frente, no Rio de Janeiro do ano de 1997 é muito perigoso olhar um estranho nos olhos. Aproveito os reflexos nos vidros, que comumente não reagem, se quero estudá-los. No que essa gente pensa, não sei. Mas sei no que eu penso.
Queria ter uma mulher gorda. Pernas e braços grossos, seios grandes e colo macio. Até hoje só tive mulheres magras, porque morro de medo, e o medo é a medida. Os homens sensatos como eu temem as mulheres por elas serem mulheres, e as gordas parecem duas, três vezes mais mulheres. Uma gota de suor escorre pelas minhas costas suadas e eu estou pensando em mulheres.
Um corpo gordo como o de minha mãe. Se ela ainda estivesse viva, eu daria um braço apertado nela quando chegasse em casa. Nada, sei que só vou encontrar meu velho pai no apartamento de janelas e portas cerradas o tempo todo - "a poeira estraga tudo" - a dedilhar seu violão ancião.
Os homens de minha família sobrevivem às mulheres, vem sendo assim há gerações, fácil. Basta sentar-se num lugar confortável, de preferência com um falso olhar compreensivo, e observá-las definhar. Sempre funciona. Tenho usado essa técnica com Sandra há dois longos anos. Da última vez ela jogou café fervendo para todos os lados e eu me senti honrado por estar preservando a tradição da família.
Chegando em casa, no corredor um homem sem uma das mãos - a esquerda, ainda bem para ele, pensei, se ele não for canhoto, é claro - me deu boa-noite sem nem mesmo olhar para mim, mecanicamente. Ele queria mais é que eu me fodesse. Ao dar de cara com a porta trancada, me toquei de que havia esquecido minhas chaves na gaveta de minha mesa no escritório. Depois de sete toques na campainha, meu pai veio atender.

9 Comments:

Blogger Urso said...

eu estive lá (no rio de janeiro de 1997) e era realmente perigoso olhar um estranho nos olhos...

7:25 AM  
Blogger mario elva said...

Vou considerar esses comentários como positivos e publicar o segundo capítulo. Gostaria de acrescentar que é um romance para moças, mas que sexagenários usuários de próteses penianas como o seu Ervilho e pervertidos sexuais como Leandro Ravaglia e Americano são bem-vindos.

10:10 AM  
Blogger mario elva said...

O Urso Sabe

10:11 AM  
Blogger Leandro Ravaglia said...

Será que essa propaganda toda vai me render encontros com as visitantes de seu blog?

6:48 AM  
Blogger mario elva said...

Cara, as visitantes do meu blog são todas meninas decentes e mulheres indecentes. mantenha-se dentro das suas calças, Ravaglia boy.

7:20 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hahaha, estou esperando o segundo capitulo... e o terceiro, quarto... Preciso publicar logo, quem sabe não consigo um dinheiro pra fugir de casa. Haha

9:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

li..

10:12 AM  
Blogger Marcos AM Ramos said...

Começou bem. Mulheres gordas têm charme e carne para apertar, cara. Desde que não sejam obesas mórbidas, não tenha medo delas. A maioria não adota o canibalismo antes dos 50 anos de idade.

3:49 PM  
Blogger mario elva said...

Não é permitido falar mal de mulheres nesse blog, AM. Só se elas forem magras e altas, porque isso é anti-natural.

6:48 PM  

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