Sei Lá Por Que
Acordei e não aconteceu nada, além da óbvia náusea e dos olhos embaçados de sempre. Permanecer deitado ou jogar de novo o velho jogo? Difícil escolha na manhã morna. Preferi não escolher e vejam como a vida é maravilhosa: ao contrário do que poderia supor uma dessas mentes simples que entende o universo por meio de oposições exageradamente limitadas, existe um enorme vão, uma deliciosa fenda, um confortável recanto entre o fazer e o não fazer, entre o sim e o não, e tudo mais. Nessa manhã eu repousava exatamente ali, apesar da náusea e dos olhos embaçados.
Quem me ensinou tudo a respeito foi Angela. Ela costumava me dizer o quanto me odiava um pouco enquanto me abraçava com amor. O quanto gostava de estar suspensa entre os dois sentimentos. Nada a fazer agora que Angela estava gelada, o que não era novidade tampouco. Praticáramos o que chamam de ato sexual, com o cuidado extremo de não corrermos o menor risco de produzirmos algum ser humano. Vocês sabem, com a natureza não se brinca, e é só olhar pela janela para perceber o quanto ela está contra nós. Deus é uma espécie de inseticida.
Angela pode estar dormindo ou ter morrido. O frio de seu corpo, devido ao clima ou à ausência de vida, não é isso o que importa. O que me espanta, e espero que também os interesse, é a sua incrível capacidade, talvez talento, de estar distante. Mesmo nua, deitada ao meu lado, onde está essa mulher? Inatingível, inalcançável.
Eu a deixo, que é sempre melhor deixar que ser deixado. Porque é frustrante a impossibilidade de possuir uma pessoa. Porque eu nunca sei se ela morre toda noite e ressuscita toda manhã ou simplesmente dorme. Porque esse negócio de amor funciona bem só em canções pop de dois minutos. Sei lá por que.
Eu a deixo e eloa nem liga. Ela é como um daqueles dias em que o sol brilha em algum lugar por cima das nuvens e tudo que nos resta é adivinhar o calor, e de repente chove, e de repente neva, se assim permite a geografia. Ela está no meio lá, ela é que está repousada lá, mas só descobri agora. Eu queria, mas acho que SOU uma daquelas mentes simples, etc. Não aprendi nada com Angela.
Quem me ensinou tudo a respeito foi Angela. Ela costumava me dizer o quanto me odiava um pouco enquanto me abraçava com amor. O quanto gostava de estar suspensa entre os dois sentimentos. Nada a fazer agora que Angela estava gelada, o que não era novidade tampouco. Praticáramos o que chamam de ato sexual, com o cuidado extremo de não corrermos o menor risco de produzirmos algum ser humano. Vocês sabem, com a natureza não se brinca, e é só olhar pela janela para perceber o quanto ela está contra nós. Deus é uma espécie de inseticida.
Angela pode estar dormindo ou ter morrido. O frio de seu corpo, devido ao clima ou à ausência de vida, não é isso o que importa. O que me espanta, e espero que também os interesse, é a sua incrível capacidade, talvez talento, de estar distante. Mesmo nua, deitada ao meu lado, onde está essa mulher? Inatingível, inalcançável.
Eu a deixo, que é sempre melhor deixar que ser deixado. Porque é frustrante a impossibilidade de possuir uma pessoa. Porque eu nunca sei se ela morre toda noite e ressuscita toda manhã ou simplesmente dorme. Porque esse negócio de amor funciona bem só em canções pop de dois minutos. Sei lá por que.
Eu a deixo e eloa nem liga. Ela é como um daqueles dias em que o sol brilha em algum lugar por cima das nuvens e tudo que nos resta é adivinhar o calor, e de repente chove, e de repente neva, se assim permite a geografia. Ela está no meio lá, ela é que está repousada lá, mas só descobri agora. Eu queria, mas acho que SOU uma daquelas mentes simples, etc. Não aprendi nada com Angela.
3 Comments:
eu tenho medo dessas angelas da vida...
Tenha não, parece que ela morreu.
Resisti bravamente à tentação de chamar esse texto de Angela Gelada. Sabe como é, Deus inventou a confusão das línguas, mas foi o Diabo quem inventou os trocadilhos.
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