Be Bope A Lula
Nem vem me condenar. Com exceção dos cinemas, para onde quer que você olhe, você acha o tal filme "Tropa De Elite". Tanto falaram, e até elogiaram, que a curiosidade bateu forte e quebrei minha promessa de parar com os filmes nacionais até que eles saíssem dos anos 70 (mulher pelada, violência, feiúra, palavrão, assim como mamãe sempre disse). Vamos assistir. Crisssssssssss Sssssssssssssss me olhou com aquele ar de "Vai dar merda!", mas ela também estava na pilha de assistir. Apesar de nossa promessa de boicote, apesar dos atores globais, apesar de mais um filme sobre a "guerra" do Rio de Janeiro, lá fomos nós.
O filme é supostamente baseado em fatos reais, o que por si só não garante nada. Quem quer ver a realidade abre a janela, não vai ver um filme. Os três personagens são três policiais pertencentes à tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro e suas desventuras na nossa guerra. Aí você pensa "Po, interessante, um filme que vai sair daquela lenga lenga de bandido sofrido e polícia malvada". Nada. A complexidade da realidade, a ambiguidade que existe na questão da violência no Rio vai ter que esperar mais um pouquinho para ser retratada decentemente por um filme nacional.
O que temos aqui? Um dos filmes ideologicamente mais perigosos que eu já vi ultimamente. Seus realizadores deviam assistir um pouquinho de "Laranja Mecânica", seguido por aquele excelente filme sobre a guerra (essa sim de verdade) na Palestina, "Paradise Now". Pior: esbarram naquela perigosíssima teoria que joga a responsabilidade sobre o caos social em que nos encontramos sobre as costas dos cidadãos e ninguém mais. Em mais de uma cena, "playboys" são acusados de financiarem o crime com o consumo de drogas, isso, é claro, debaixo de uma porradaria sangrenta digna dos thrillers mais baratos e apelativos de Holywood. Quer dizer que são os playboys que permitem que armamento pesado e as próprias drogas entrem no país, a despeito das autoridades? Ah tá. Então para acabar com a criminalidade a solução parece uma só: vamos assassinar os jovens de classe média alta um por um.
Sobra também para as ONGs que são retratadas como desculpa para os mimados e malvados "playboys" poderem ter acesso às drogas vendidas no morro à vontade. E fica pior. Os bandidos são retratados de modo superficial e extremamente preconceituoso também, já que são quase uma desculpa para as atrocidades cometidas contra eles, sendo mostrados esquematicamente. Mal sabemos seus nomes, o que pensam, suas histórias. (Outro ponto a destacar é a tendência de "nordestinizar" nossos vilões, já que se forem todos pretos, "pega mal...").
Quando você acha que não pode mais piorar, vem uma daquelas sequências de treinamento militar, estilo "só os fortes sobrevivem". Faça-me o favor, vamos assistir "Nascido Para Matar" do Kubrick, mais uma vez, para perceber o ridículo e o absurdo dessa idéia de animalização dos guerreiros e o clichê dessas cenas em filmes de guerra.
Os heróis dos filmes chegam ao ápice do filme agredindo suas companheiras e passando o rodo geral. E a impressão final é a de que enquanto pensarmos com violência, sentirmos com violência e nos divertirmos com violência, agiremos com violência (Não que o filme diga nada parecido com isso, muito pelo contrário). E a "guerra", é claro, deve continuar.
Mas que pelo menos esses filmecos parem.
5 Comments:
caraca, eu li isso outro dia, bizzarrão. por que se tortura indo ver esses filmes???
olha, eu gosto de novela porque é sempre a mesma coisa... eu também gosto de ir ver filmes mais do que recomendados ou harry potter mil vezes.
mas eu também já caí em semelhantes ciladas e assisti "orfeu" com tony garrido. não era fascista, era só ridículo mesmo. e o pior é que eu sabia que ia ser assim.
não adianta, o filme nacional sempre se supera, para pior.
ught.
Até que enfim quebrou o preconceito e viu um filme brasileiro. Tenho uma lista de bons filmes brasileiros que são menos famosos que o Tropa de Elite. Aliás recomendo ler o livro "Elite da Tropa" é bem mais pesado que o filme. O filme ficou bom é inspirado, eu falei, inspirado no livro e só. A boa atuação do Wagner Moura tem que ser comentada. Um cara franzino que em nada lembra um soldado do Bope, se transformou no filme. Gostei do filme pela polêmica causada. Todo mundo sabe que essas coisas acontecem, mas nunca ninguém teve coragem de tornar isso em alguma coisa "bem comercial". Parabéns para o diretor! Kubrick é o caralho!!
Seu Nunes certamente não está familiarizado com a obra de Kubrick. Vamos perdoá-lo. "Todo mundo sabe que essas coisas acontecem?" Que coisas? Reduzir um problema social à responsabilidade individual é uma estratégia criminosa e mentirosa. Wagner Moura estava bem em "Carandiru", mas depois que virou global ficou ruim para ele.
Odeio essas pessoas que se acham o máximo só porque viram Laranja mecânica e não tem um pingo de boa vontade pra prestar atenção nos filmes brasileiros.
Seu Nunes odeie à vontade, faz bem. Mas Kubrick fez o Laranja Mecânica, goste você ou não. Boa vontade não é passar a mão na cabeça só porque é nacional.
Post a Comment
<< Home