Canções Como Balinhas
Tem um lado de bom nesssa nossa época de mp3 e esfacelamento das velhas estruturas de consumo e do modo de se ouvir música. De certa forma temos a volta da canção isolada e o fim dos álbuns de conceito (não necessariamente os conceituais, que, a propósito, merecem, mereciam já ter morrido desde sempre), o retorno à supremacia do single, a despeito da sanha assassina monetarista das gravadoras que fizeram o que puderam para enterrar o coitado.
Algumas canções, mais do que álbuns inteiros, eternizaram determinados momentos de minha vida. Vamos a eles.
- "This Night Has Opened My Eyes", The Smiths. Eu era um adolescente feio, emburrado e cabisbaixo, achando que o mundo desabava sobre a minha cabeça (que presunção, como se ele não desabasse um pouco sobre todos), até que essa música, ê obviedade, abriu meus olhos. Os dedilhados do seu lindíssimo arranjo de guitarra me fizeram pensar que talvez tocar guitarra pudesse me dar tanta algeria quanto cantar. Acho que sou o único fã dos Smiths que curte mais Marr do que Morrissey.
- "The Way Young Lovers Do", Van Morrison. Já falei do Astral Weeks aqui, mas só para reforçar, a mesma história de novo. Quando se está amando, ou quando se acha que se está amando, ou ainda quando se acha que se devia se estar amando (dá pra seguir indefinidamente assim), geralmente o ridículo domina. Melhor, o ridículo dança ao redor. Fiz muita coisa babaca nos anos 90 (não me arrependo dos grunge years...talvez só um pouquinho, eu era jovem, tinha o melhor álibi), mas numa tarde de nuvens muito pretas, na realidade paralela daquela Ilha do Fundão, quase me redimi. Van Morrison com nsua voz sempre no limitedo desespero me jogou no chão e não tenho certeza de que tenha me levantado depois daquele dia. Se algum dia compuser algo tão bonito, me suicido em seguida.
- "Down In The Street", The Stooges. De volta à adolescência e ao som abafado e cheio de chiados das velhas fias K7. Esse amigo meu, Alex, tão nerd de música quanto eu, disputava comigo a descoberta de pérolas musicais. Dessa vez ele me venceu de longe. Nunca mais me recuperei da ferocidade daquele som. Stooges acorda o animal em mim.
- "Love Will Tear Us Apart", Joy Division. Tristes e romãnticos anos 80. Eu e meus colegas de escola que gostavam de música um pouco mais do que deviam, ficávamos imaginando, após lermos críticas a respeito, como seria o som do Joy Division, fortemente tocados pela mística do suicídio do vocalista Ian Curtis. Um dia, um programa da extinta Rede Manchete acabou com a curiosidade: era muito mais poderoso do que podíamos imaginar. Música ideal para se ouvir quando as mulheres não te querem, porque ela faz parecer que ter alguém é um inferno. Moleques feios suburbanos passaram longas tardes em conjecturas sobre os motivos do suicído do pobre Ian. Eu gravei o áudio da TV com meu velho rádio-gravador.
- "Happy When It Rains", The Jesus & mary Chain. Mesma TV Manchete. Eu esperava algo mais barulhento pelo que já havia lido a respeito (não sabia que a fase áurea, por assim dizer, do grupo já havia passado quando do lançamento dessa música que consta do seu criticado segundo LP, "Darklands"). Ainda assim, foi paixão à primeira ouvida, sem discussão. Quando finalmente os vi alguns anos depois ao vivo e voltei para casa ainda ouvindo o solo de guitarra de William Reid nos meus ouvidos (não estou exagerando, apitava mesmo) a paixão se consumou.
- "Smells Like Teen Spirit", Nirvana. Na época eu não conhecia Pixies tão bem a ponto de perceber o roubo descarado, mas percebio o apelo pop e o cheiro de clássico no som daquele "Police mais pesado". Os anos 90 começaram ali.
- "The Ballad Of El Goodo", Big Star. Trilha sonora do meu primeiro pé na bunda. Ah, como eu sofria. Até hoje a introdução me arrepia. A balada perfeita, que abriu de vez meu coração para as outras baladas, e me despiu um pouco da carapuça de roqueiro pós-punk de "bom gosto".
- "Made Of Stone", The Stone Roses. para que os anos 90 começassem, os 80 tinham que acabar. Os Stone Roses pareciam um amálgama perfeito de tudo que o rock inglês havia produzido, com ligeiros acenos ao que o rock inglês ainda haveria de produzir dali por diante. Divisor de águas, jogou os indies nas pistas de dança, e eles não saíram mais de lá, apesar de dançarem horrivelmente mal.
-"Debaser", Pixies. Selvageria, berros, antecedendo o que os anos 90 seriam, só que com cérebro. Pegaria mal citar Buñuel nos anos 90. Eu e aquele meu amigo citado lá em cima, o Alex, tínhamos um projeto musical que nunca foi para a frente, que traria músicas combinando barulho e silêncio e letras beirando a demência. Frank Black saiu na frente e só nos restou ouvir e delirar.
- "Strange Days", The Doors. Nem sei por quê. Eu até gosto mais de outras músicas dos Doors, mas quando entra aquele refrão, isntrumental, introduzido por um yeeeeeeeeee, e a bateria pesa, enquanto guitarra e teclado vão cada um para um lado, me dá uma vontade incontrolável de ser Imperador do Mundo. Uma música dessas redime até alcunhas ridículas como Rei Lagarto. Yeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Agora vai lá e baixa isso.
Algumas canções, mais do que álbuns inteiros, eternizaram determinados momentos de minha vida. Vamos a eles.
- "This Night Has Opened My Eyes", The Smiths. Eu era um adolescente feio, emburrado e cabisbaixo, achando que o mundo desabava sobre a minha cabeça (que presunção, como se ele não desabasse um pouco sobre todos), até que essa música, ê obviedade, abriu meus olhos. Os dedilhados do seu lindíssimo arranjo de guitarra me fizeram pensar que talvez tocar guitarra pudesse me dar tanta algeria quanto cantar. Acho que sou o único fã dos Smiths que curte mais Marr do que Morrissey.
- "The Way Young Lovers Do", Van Morrison. Já falei do Astral Weeks aqui, mas só para reforçar, a mesma história de novo. Quando se está amando, ou quando se acha que se está amando, ou ainda quando se acha que se devia se estar amando (dá pra seguir indefinidamente assim), geralmente o ridículo domina. Melhor, o ridículo dança ao redor. Fiz muita coisa babaca nos anos 90 (não me arrependo dos grunge years...talvez só um pouquinho, eu era jovem, tinha o melhor álibi), mas numa tarde de nuvens muito pretas, na realidade paralela daquela Ilha do Fundão, quase me redimi. Van Morrison com nsua voz sempre no limitedo desespero me jogou no chão e não tenho certeza de que tenha me levantado depois daquele dia. Se algum dia compuser algo tão bonito, me suicido em seguida.
- "Down In The Street", The Stooges. De volta à adolescência e ao som abafado e cheio de chiados das velhas fias K7. Esse amigo meu, Alex, tão nerd de música quanto eu, disputava comigo a descoberta de pérolas musicais. Dessa vez ele me venceu de longe. Nunca mais me recuperei da ferocidade daquele som. Stooges acorda o animal em mim.
- "Love Will Tear Us Apart", Joy Division. Tristes e romãnticos anos 80. Eu e meus colegas de escola que gostavam de música um pouco mais do que deviam, ficávamos imaginando, após lermos críticas a respeito, como seria o som do Joy Division, fortemente tocados pela mística do suicídio do vocalista Ian Curtis. Um dia, um programa da extinta Rede Manchete acabou com a curiosidade: era muito mais poderoso do que podíamos imaginar. Música ideal para se ouvir quando as mulheres não te querem, porque ela faz parecer que ter alguém é um inferno. Moleques feios suburbanos passaram longas tardes em conjecturas sobre os motivos do suicído do pobre Ian. Eu gravei o áudio da TV com meu velho rádio-gravador.
- "Happy When It Rains", The Jesus & mary Chain. Mesma TV Manchete. Eu esperava algo mais barulhento pelo que já havia lido a respeito (não sabia que a fase áurea, por assim dizer, do grupo já havia passado quando do lançamento dessa música que consta do seu criticado segundo LP, "Darklands"). Ainda assim, foi paixão à primeira ouvida, sem discussão. Quando finalmente os vi alguns anos depois ao vivo e voltei para casa ainda ouvindo o solo de guitarra de William Reid nos meus ouvidos (não estou exagerando, apitava mesmo) a paixão se consumou.
- "Smells Like Teen Spirit", Nirvana. Na época eu não conhecia Pixies tão bem a ponto de perceber o roubo descarado, mas percebio o apelo pop e o cheiro de clássico no som daquele "Police mais pesado". Os anos 90 começaram ali.
- "The Ballad Of El Goodo", Big Star. Trilha sonora do meu primeiro pé na bunda. Ah, como eu sofria. Até hoje a introdução me arrepia. A balada perfeita, que abriu de vez meu coração para as outras baladas, e me despiu um pouco da carapuça de roqueiro pós-punk de "bom gosto".
- "Made Of Stone", The Stone Roses. para que os anos 90 começassem, os 80 tinham que acabar. Os Stone Roses pareciam um amálgama perfeito de tudo que o rock inglês havia produzido, com ligeiros acenos ao que o rock inglês ainda haveria de produzir dali por diante. Divisor de águas, jogou os indies nas pistas de dança, e eles não saíram mais de lá, apesar de dançarem horrivelmente mal.
-"Debaser", Pixies. Selvageria, berros, antecedendo o que os anos 90 seriam, só que com cérebro. Pegaria mal citar Buñuel nos anos 90. Eu e aquele meu amigo citado lá em cima, o Alex, tínhamos um projeto musical que nunca foi para a frente, que traria músicas combinando barulho e silêncio e letras beirando a demência. Frank Black saiu na frente e só nos restou ouvir e delirar.
- "Strange Days", The Doors. Nem sei por quê. Eu até gosto mais de outras músicas dos Doors, mas quando entra aquele refrão, isntrumental, introduzido por um yeeeeeeeeee, e a bateria pesa, enquanto guitarra e teclado vão cada um para um lado, me dá uma vontade incontrolável de ser Imperador do Mundo. Uma música dessas redime até alcunhas ridículas como Rei Lagarto. Yeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Agora vai lá e baixa isso.
5 Comments:
É, gosto é aquela coisa, cada um tem o seu MESMO. Depois de ouvir "The Way Young Lovers Do", acho que não vou nem perder tempo baixando o resto (isto é, das que eu não conheço). Sem a menor sombra de dúvida foi um dos piores arranjos que eu já ouvi na minha vida (by far). O resultado final é muito, muito ruim. Imagino que deva datar da época de Soft Parade, quando a grandiloqüência babaca era a moda. Quem sabe se houvesse alguma versão violão e voz, ou pelo menos sem aquele monte de instrumentos que mais lembram barulho de trânsito engarrafado, a melodia pudesse ser melhor apreciada. Eu me pergunto se o seu momento (quando da primeira audição) não influenciou o julgamento...
Lício, meu caro, não vou te chamar pra briga porque sempre fui ruim de braço, hahaha. Papai do céu ainda vai te castigar por isso.
Mesmo conhecendo só metade dessa lista, não tenho como negar que o nível é altíssimo!!!
"The Way Young Lovers Do" será sempre uma das mais tocantes músicas do Astral Weeks, mas eu também preciso destacar "Beside You", clássico sempre!!!
Aí vai a minha lista, mesmo incompleta e cheia de negligências:
-Stand By Me
Ouvi com 7,8 anos de idade, quando assisti o filme "Conta Comigo". O filme e a música nunca saíram da minha cabeça, e o nó na garganta, idem.
-Be My Baby
Ouvi numa propaganda da Levi's Jeans, eu devia ter por volta de 10, 11 anos de idade. Da propaganda, só ficaram uns flashes e eu nunca tive uma calça da Levi's. Mas a música, em compensação...
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