Wednesday, May 23, 2007

Há uma guerra acontecendo no corpo dela. Rosto, cabelos, nuca, ainda são da menina que ela deixou para trás, são uma espécie de souvenir de outro tempo. Já do ponto onde sua blusa se torna mais justa, reforçando a idéia nada vaga de uma cintura, para baixo, ela é definitivamente mulher. Já ouvi dizer que graças à gordura acumulada nessa região, nossas mamães nos cedem a matéria bruta para nossos corpinhos se formarem. Quem quer que tenha dito que essas formas geralmente opulentas servem ao deleite, desconhece a natureza. A mãe natureza é severa e tem pressa, não criou nada para a nossa diversão.
Com o tempo a mulher vence a guerra no corpo dela. Então vêm as fotografias para provar que tudo muda e o quanto isso é triste. Vou tentar fazê-la sorrir, pelo menos hoje. Lá vem ela na minha direção. Ela me escolheu por algum motivo errado, alguma razão desconhecida além do acaso. Ela reserva o cuidado com as escolhas às suas sandálias.
Não se deve comparar nunca, mas em comparação aos outros homens eu tenho boas intenções a respeito dela. Eu pretendo eternizar seu corpo de mulher numa arte morta. Só não sei se conto isso a ela.
- Em 30 anos seremos fantasmas - ela diz antes de dizer oi.
- A seu tempo todos morreram - era uma frase que eu havia escolhido para terminar um romance, caso um dia escrevesse um, mas um conheicdo meu que escrevia poesia, roubou a frase e publicou primeiro. Eu pus veneno de rato na cerveja dele por causa disso.
Ela riu da morbidez de nossas primeiras palavras. Eu também ri, pela metade porque lembrei do poeta. Filho da puta. Se todo mundo fizesse como eu fiz, logo não teríamos mais poetas por perto e as palavras poderiam voar soltas.
-Esse cara usava os poemas como perfume barato.
- Seus amigos são todos uns babacas - ela disse, me chamando de babaca também, eu acho. Gostei não. Vou me vingar comprando sorvetes que a farão ganhar peso. às vezes me parece que tudo é guerra, mas aí me vêm a cabeça aqueles funcionários obtusos com mente de patrão, cujo livro de cabeceira é "A Arte Da Guerra" e eu sacudo fora a idéia.
Ela diz algo que eu não entendo direito, mas nada que prejudique a história. No mais, toda história que se conta é uma mentira, principalmente as baseadas em fatos reais. Não entendo direito justamente porque me perco em pensamentos desse tipo:
- Será que ela existe?
- Será que ela sempre existiu?
E penso nas terríveis implicações que as negativas a essas respostas trariam. Um pouco de sorvete escorre dos seus lábios, e se ela não existe, muito menos o sorvete. Prefiro o mundo com ela e com o sorvete.
Ela fala e dessa vez eu entendo:
- Eu gosto de você. Percebi isso quando senti que queria morrer antes de você.
- Vou ver o que posso fazer a respeito - eu respondi e nem era uma pergunta. Logo depois a história continuou acontecendo.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ei cara, pare de matar suas mulheres. Se você não as quer depois de usar, faça uma doação aos seus amigos! Não ligo que ela tenha me chamado de babaca.

1:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Infame, infame, mas nao vou resistir... ruim com ela pior sem ela! hihihi

8:17 PM  

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