Aquela Hora Inevitável

Chegou aquela hora inevitável: 2007 foi bom ou não? Sei lá, pra mim no geral foi. Então, vamos ao óbvio: a lista de melhores cds. Vai ser difícil fazer uma, e até mesmo penso em fazer uma mais adequada de melhores músicas do ano. Mas vamos fazer, sabe lá se ainda vão haver cds em 2008. Sem ordem de preferência.

1. "Grinderman" - Grinderman. Nick Cave ressuscitou da tumba bigodudo e nervosão. Esqueça as baladas quase gospel de seus discos dos anos 90. A porrada come feio, com guitarras altíssimas, letras raivosas sobre a dureza de ser feioso e não ter mulher, entre outras coisas, e a certeza de que os Stooges deveriam ter feito isso no seu disco de volta.

2. "Because Of The Times" - Kings Of Leon. Com um pé na sonoridade que eles começaram a desnvolver em seu cd anterior, e outro pé ali em algum lugar dos anos 90, os já não bigodudos rapazes conseguiram reunir o seu mais agradável grupo de canções até o momento. Talvez a banda mais promissora daquela leva doismilista pós-strokes.

3. "Sound Of Silver" - LCD Soundsystem. Apesar das deslocadas apresentações ao vivo e da inexplicável necessidade de afirmar em entrevistas que não se utiliza de elementos digitais no seu som (do que eu duvido e muito), o segundo cd do projeto do seu James Murphy desenvolve as exclentes idéias traçadas em seu cd de estréia. Mais grooves matadores com levadas punks de tão simples e letras espertinhas.

4. "Back TO Black" - Amy Winehouse. Apesar de lançado lá fora no ano passado, só chegou aqui esse ano, então ele entra aqui. E tem que entrar mesmo, porque a tresloucada moça mostrou que ter boas influências não significa copiar descaradamente, como a maioria dos músicos jovens parece pensar. Tem muito de Ronettes ali, black music sessentista em geral, sem dúvida, mas a excelente produção do hypadaço Mark Ronson consegue por os reverbs certos nos pandeirinhos e a música precisava de versos como "He had no time to regret/Kept his dick wet". Isso pra não falar de "Rehab", uma das melhores músicas da década.

5. "Datarock" - Datarock. Como mostraram nos shows do festival Planeta Terra desse ano em SP, a dupla de encapuzados tem muito o que dizer, no superpopulado cenário das bandas que misturam eletrônica e rock. Mais um exemplo de alguém que conseguiu dosar as suas fortes influências de bandas oitentistas como Devo e Talking Heads, mas sem cair na cópia descarada. "Fa Fa Fa" foi até parar no anúncio da Coca-Cola e "Princess" foi um dos destaques do ano, com seu beat roubado de "Close To Me" do Cure e uma letra que leva a estranhas divagações "Princess/You're a princess/You've got an ass of a prince/You've got a prince of an ass"...

6. "Tromatic Refelexxions" - Von Sudenfed. Inusitada parceria entre os caras do Mouse On Mars e Mark E. Smith, que surpreendeu totalmente. Seria essa mistura de beats digitais com o vocal mal-humorado de Mark uma saída promissora para o Fall, que ao longo de sua extensa carreira já demonstra sinais de cansaço? Eu diria que sim.

Vou pensar no resto, mas certamente nada de Arctic Monkeys, Radiohead, Klaxons ou Arcade Fire, todos bem medianos e incensados pela juventude mal-informada.