Tuesday, November 27, 2007

Chris Bell - I Am The Cosmos


Um bom disco tem que ter uma boa capa. Pelo menos era assim naqueles tempos em que a música tinha uma cara, algo que aos poucos (ou nem tão aos poucos assim) desaparece na era das músicas tratadas como arquivos sem face rodando num shuffle infinito de um mp3 player de 1000 gigas. Mas no meu tempo era assim. Na minha adolescência, me lembro de delirar com meus amigos de escola só de olhar para a capa do "London Calling" do Clash, ou de sentir o peso emocional de "Closer" do Joy Division, até porque era tudo a que tínhamos acesso, muitas vezes os discos demoravam até 10 anos para chegarem ao Brasil.
A capa de "I Am The Cosmos" não só traz uma lindíssima foto, como também expressa perfeitamente o tipo de pessoa que realizou aquele álbum. Melancólico, desajustado, solitário e com um eterno sentimento de deslocamento da época e do meio em que vivia, Chris Bell morreu num acidente de carro antes mesmo de ver esse disco pronto. Ele vinha da experiência desastrosa de dividir um disco excepcional com o amigo Alex Chilton, na banda Big Star, e simplesmente ter sido um fracasso absoluto de vendas. Era inglês demais para os ouvidos americanos. Sutil demais para a década dos exageros do Led Zeppelin.
Bandas como Posies, Teenage Fanclub, Wilco e R.E.M. devem muito ao que esse cara fez, tanto como Big Star quanto aqui nessa reunião de seus trabalhos-solo. Quer dizer, nem é necessário explicar qual é a do som, mas seria aquela interpretação americana do padrão desenvolvido pelos Beatles ao longo dos anos 60. "I Am The Cosmos" e "Better Save Yourself" têm um romantismo desesperado quase religioso. "Look Up" traz alguma esperança, mas "There Is A Light" arrasa nossos corações de novo. "You And Your Sister", com participação de Alex Chilton, é bela nas 3 versões presentes nessa edição. E "Though I Know She Lies" tem uma ponte que pode levar ás lágrimas os mais desavisados.
Não, você não vai dançar ouvindo isso, apesar de faixas como "I Got Kinda Lost" e"Make A Scene" sejam rápidas e raivosas. Nem sempre é hora de dançar.

2 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

Muito bom. É, com certeza nem sempre é hora de dançar, mas pra compor assim só já tendo dançado bem feio nesta vida...

4:44 PM  
Anonymous Humberto Roque said...

Cara, parabéns pelo texto e por captar exatamente a emoção perdida de antigamente quando a gente tinha que penar para conseguir um disco.
Conhecia apenas o trabalho do Big Star, mas o álbum I am the Cosmos do Chris Bell foi a melhor descoberta que fiz este ano, a cada vez que ouço, descubro algo de novo e surpreendente, um daqueles discos pra se ouvir com calma, prestando atenção à cada detalhe, realmente uma inspiração.

11:18 PM  

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