Sunday, June 22, 2008

"Songs For Drella" - Lou Reed & John Cale


No ano de 1989 eu comecei a dar atenção a Lou Reed. Meio atrasadinho, mas vocês precisam entender como as coisas aconteciam naquele tempo: tudo que eu conhecia do Velvet era uma cópia de uma cópia de uma fita k7 gravada de uma transmissão radiofônica, a maior parte dos discos da melhor fase da carreira do cara ou não haviam sido lançados no Brasil, ou estavam fora de catálogo, e o que eu havia ouvido do cara solo até então eram coisas mais ou menos de seus discos dos anos 80 como o "Mistrial". Quando finalmente ouvi "New York" (forte candidato a ser postado aqui), percebi a importância daquele cara.
Inclusive percebi agora que algum canalha roubou minha cópia em vinil do disco ao qual dedico esse post, mas tudo bem. Impulsionado pelo magnífico disco de 1989 de Lou Reed e por um especial inacreditável transmitido pela TV Bandeirantes com Lou Reed & John Cale tocando as músicas do "Drella", travei contato com um dos mais interessantes e talvez o último grande trabalho tanto de Lou, quanto de John.
Os dois, segundo consta, estavam brigados desde a saída de Cale do Velvet Underground, supostamente por uma briga pelo amor da musa Nico, a qual Cale saiu ganhando. O Velvet nunca mais foi o mesmo sem Cale e seu experimentalismo. Por ocasião da morte de um dos maiores incentivadores da banda nos anos 60, o artista plástico símbolo da Pop Art, Andy Warhol, Lou e John deixaram as desavenças de lado e decidiram gravar um tributo ao amigo morto.
Tinha tudo para não funcionar. Mais de 20 anos separavam a dupla, a química funcionaria? Além disso, Lou e John haviam seguido caminhos completamente distintos, musicalemnete falando. Enquanto Lou criou uma patente dentro do rock and roll tão original e marcante quanto a de um Keith Richards, John apostou na imprevisibilidade, gravando desde trabalhos mais pop, até experimentos com ruídos e melodias influenciadas pela música erudita.
O álbum abre com o piano minimalista de John, sobre uma letra que nos apresenta ao personagem de Warhol. É incrível como Lou consegue construir letras baseadas na vida e pensamento do artista, e ainda assim não soa didático ou forçado. "Smalltown" é a música.
Seguimos com "Open House", onde a Fender de Lou dialoga incrivelmente bem com o DX7 de John. "Style It Takes" traz o vocal de John numa melodia lindíssima e as guitarras começam a gritar, junto com um piano já histérico em "Work".
"Trouble With The Classicists" é um dos pontos altos do disco. Nela, a guitarra de Lou, distorcida no limite da perfeição, ataca por um lado, enquanto John segura com o piano, criando algo singular e talvez único em termos de beleza e originalidade. Quantas vezes um sóbrio piano fez base para uma guitarra suja, acompanhados por mais nada além do silêncio na música pop? Os versos que ficam na cabeça são "Acho que às vezes você se machuca quando fica tempo demais na escola/Acho que você às vezes se machuca quando tem medo de ser chamado de tolo"
"Starlight" e "Faces And Names" mantém o ritmo, mas é em "Images", que o fantasma do Velvet dá as caras no estúdio. John toca uma viola ensandecida e Lou faz barulho na guitarra. Perfeito. Mais à frente em "It Wasn't Me" e "I Believe", a fórmula do piano e guitarra distorcida atinge mais uma vez a perfeição.
As duas últimas são as mais emocionais, afinal, a vida do personagem vai chegando ao seu fim, junto com o disco. "Forever Changed" é inevitável e lúgubre. "Hello It's Me" pode levar às lágrimas os mais sensíveis, com Lou Reed fazendo um delicado acerto de contas com Warhol e dando seu adeus.
Andy se foi, mas ainda paira sobre nossa mídia pop. Lou e John voltaram com o Velvet, brigaram de novo e seguiram caminhos separados. Mas resta esse belo adeus.
Você consegue enxergar o rosto de Andy Warhol na capa?
Dizem que esse link pode te ajudar:http://www.mediafire.com/?09whzn13cds

1 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

Eu enxerguei o rosto de Warhol na capa, bastou eu me levantar e mudar minha perspectiva.
Preciso ouvir esse disco.
E Reed será sempre o cara que compôs uma das músicas que mais mexe comigo, "Perfect Day".

6:24 PM  

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