Tuesday, April 07, 2009

Um cara como esse deve existir em algum lugar. Na época da escola uma garotinha feiosa o definiria como nem bonito nem feio, o que parece ser a pior das opções. Ainda no mesmo período, um dia ele conseguiria ter entrado no vestiário feminino num dia de festividade na escola. O lugar estaria vazio, lógico, mas a idéia de tantos corpos que ali teriam se despido, todos os corpos que ele teria desejado ardentemente com o desespero de um cristão ansiando pelo paraíso, o deixava numa espécie nada pura de êxtase. Por esse tipo de episódio, já poderíamos imaginar que tipo de homem ele viria um dia tornar-se.
Um cara como ele deve existir por aí, morando em algum apartamento úmido, com uma janela só, de frente para um viaduto ou uma parede de concreto. Deve estar agora perto do fim da juventude e às portas de algo que nem vale a pena mencionar. Teria tido uma namorada, uma simpática anã corcunda, que usaria sempre um tapa-olho. No dia em que ela comunicaria subitamente sua mudança de planos, ele levaria as mãos à cabeça e descobriria que ela enxergava perfeitamente bem em ambos os olhos. Talvez não fosse nem anã nem corcunda.
Vamos então perdoá-lo de qualquer modo pela frase que diria nessa situação:
- Mulher, bicho mentiroso do caralho!
Um cara como esse deve existir, mas passa desapaercebido na multidão, pela absoluta falta de atrativos. Um dia ele olharia ao redor e não veria mais mundo nenhum. Dizem que essa é a primeira sensação dos recém-mortos. Com o tempo, se acostumaria (quem disse que não há tempo no além-túmulo?), mas desse ponto em diante, supomos que já não seja adequado dizer que ele exista.

1 Comments:

Blogger Marcos AM Ramos said...

Um cara como esse deve existir, e se a existência dele for mesmo conforme descrito neste post, creio ser ele mesmo conivente. Vamos sacudir esse cara e botar ele pra comprar o pão e a mortadela. Eu levo o refri.

2:56 PM  

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