Foi uma via-crucis convencer minha fiel escudeira Crisssssssss Ssssssssssssss a cruzar a cidade do Rio de Janeiro, moradores da Baixada Fluminense que somos, para ver um filme nacional num cinema da Zona Sul. A aventura envolve sempre cinemas a preço exorbitante, trens, metrôs e o cansaço inevitável das longas viagens. Tudo parece dizer "Morador da Baixada, fique aí com seus filmecos de Hollywood nos cinemas (cinem as?) de shopping. Só os fortes sobrevivem a jornadas pós-túnel . Mas eu pus minha amiga contra a parede, falei do passado louvável do autor do romance no qual o filme era baseado, das críticas positivas, da boa idéia que parecia ser o roteiro. Lá fomos nós.
Não adianta. Os filmes brasileiros, assim como os universitários, não conseguem sair dos anos 70. Pior, eles estão presos num simulacro infernal do que eles acreditam que os anos 70 tenham sido. Concentremos-nos nos filmes, que os universitários é só ignorar. A mãe dessa minha amiga vive dizendo que não vê filme brasileiro porque é só palavrão e putaria. Não é. Mas vai por aí.
Mulher pelada e palavrão são ingredientes essenciais, mas eu acrescentaria à fórmula estereótipos de personagens das camadas pobres da população, perversões sexuais filhotes de quem leu e entendeu errado Nelson Rodrigues, imagens horrorosas, som abafado, atores globais com interpretações dignas de teatrinho de escola de ensino médio, etc etc etc. Os etc. são tantos, mas é que detesto listas.
Esperava mais de "O Cheiro Do Ralo", porque os quadrinhos de Lourenço Mutarelli são fantásticos. Se ele é bom romancista, não sei, não li o livro ainda. Só sei que o papel secundário desempenhado peo autor no filme é talvez a única coisa que o salva de um fracasso completo.
O principal e maior equívoco do filme é a escolha do global S. Mello como protagonista. Esse rapaz nos "presenteia" com uma atuação limitada e superficial, cujos parcos recursos dramáticos limitam -se a dizer todas as falas numa voz gutural e monocórdia. Ah sim , e ele anda de cabeça baixa. Façam-me o favor.
Uma performance digna do protagonista talvez até salvasse o filme, ainda que o restante do elenco se esforce em deixar tudo impraticável, com destaque especial para a jovem que interpreta a noiva do protagonista. Desastre.
Analogias com merda são bem-vindas.