Tuesday, April 28, 2009

Agora Vai Hein

Só queria esclarecer que no episódio da gripe suína, obviamente estou do lado da gripe. Só queria ser otimista o suficiente para acreditar que dessa vez boa parte da raça humana vai pro saco mesmo.

Sunday, April 26, 2009

Coisas

- Eu também tenho uma mentira para contar - disse ele.
Ela olhou surpresa. Ele não mentia, que ela soubesse. E se mentia sem que ela percebesse, talvez mentisse muito melhor que ela, o que parecia imperdoável. Finalmente falou:
- Pode falar. Seria a hora perfeita, não?
- Já falei. Não te contarei a mentira. Só quero que você prove um pouco do próprio veneno, tendo certeza de que foi enganada por um bom tempo. Quanto à mentira em si, tanto faz. Você não ia querer saber, acho mesmo até que é bem mais feliz sem que conheça essa verdade.
- Foda-se você e seus ataques! - disse ela.
Ele não estava tendo um ataque. Ele estava se sentindo homem de novo depois de tanto tempo, iritando a mulher. Deve ter sido um dia assim com Adão e Eva. Saiu do apartamento antes que ela começasse a quebrar coisas ou falar coisas quebradas. O foda-se dela lembrou um poema que havia ouvido que era algo tipo "Foda-se, pareceu dizer ela/e foi se foder", que talvez fosse daquele poeta curitibano, mas quem lembra poemas ou nomes de poetas hoje em dia que não esteja querendo comer alguém? Sentiu uma leve vergonha do tempo que perdeu com coisas inúteis. Existem coisas úteis. Mas existem pessoas úteis?
Mas existem pessoas úteis? Qual a utilidade do seu corpo cada dia mais pesado e feio? Sua figura desengonçada só acrescentava feiúra à sua cidade já tão feia com ou sem ele. Por que não ligar para a prostituta nesse exato momento?
- Paloma?
Nome de pomba. O poético é que essa jamais voaria.
- Quer me contar uma mentira? A mulher linda do outro lado da linha não entendeu porra nenhuma, mas riu da pergunta sem sentido.
- Que é, seu doido?
Atualmente era sua mulher predileta no mundo, a puta. Dizia até que ele tinha mãos macias, mas não esqueçamos a clientela costumeira da pobre mulher, nem a avidez da mesma pelas duas notas amassadas que ele deixava distraído sobre a mesa toda vez. O problema com as outras todas não era as mentiras, mas as mentiras erradas que contavam. Paloma contava as mentiras certas. E sempre cheirava muito bem, a despeito de viver num barril de merda.
- Não, o quarto 201 não, mataram minha amiga lá. - Não foi o que ela disse uma vez?
- Hoje não quero sexo.
- Não quer me comer por que, Alberto? Eu tô feia?
- Não, nada disso, você está mais magra inclusive - Mentira. Estava mais gorda, mas mais gorda tinha mais bunda e com mais bunda seu corpo ficava mais perfeito do que o habitual.
Olhou para ela e notou os olhos da menina que ela um dia deve ter sido.
- Hoje só vamos deitar abraçados e esperar que essa noite imbecil seja a última de todas.
- Última?
- Nada, Paloma, estou meio bobo hoje.
Deitaram sob um cobertor encardido, nus. Ela falou algo sobre a sujeira nas paredes, mas se fôssemos parar e reparar na sujeira, nos suicidaríamos, todos, às 6 da manhã de um dia qualquer.
- Ouviu um barulho? - disse Paloma
- Não. Não ouvi nada.

Wednesday, April 15, 2009

Salvo

Eu ia fazer uma postagem otimista, mas estou na merda de novo, então, ainda bem que apaguei.

Monday, April 13, 2009

Mais Um Post Pessoal

Já tentou escrever um post entre as lágrimas? Não é bom não. No geral, chorar é uma merda. É uma demonstração de fraqueza imperdoável num mundo grotesco, cínico e indiferente. Reduz um homem a um troço disforme desprezível. Às vezes entendo as mulheres e sua aversão aos homens ditos sensíveis. Não passam de uns fracos.
É engraçado como você pode passar grandes períodos de sua vida sob algum tipo de ilusão de felicicidade e contentamento (experimente ouvir aquela música do Spiritualized que tem os belíssimos versos "I think I'm flying - You're probably just falling", ou algo assim) e até esquecer que gosto tem as próprias lágrimas, mas não se iluda, a vida, destino, ou qualquer nome que você queira dar sempre se apressam a mostrar como as coisas são de verdade.
"We're all of us in a gutter" disse Oscar Wilde, que menciono aqui sem tradução, porque como qualquer imbecil que se sente um merda costuma fazer, mas eu diria que alguns ainda estão mais pertinho das merdas mais fedorentas.
Motivos? Nenhum câncer ou coisa realmente séria. Coisas banais. Insatisfação pessoal, certeza da impossibilidade das coisas mais interessantes da vida, dias nublados à frente. Os dias que passam se arrastando, rumo àquele pesadelo recorrente, no qual encontram seu cadáver quase uma semana depois da sua morte, já em adiantado estado de decomposição num apartamento qualquer.
O próximo post tentará convencê-los de que ainda é mais confortável não crer em Deus.

Tuesday, April 07, 2009

"Mulher mulher, do barro em que vc foi geradaaaaa"

Assim falou o carcereiro do presídio feminino:

“Já trabalhei dez anos em presídio masculino e cinco em presídio feminino. Vou dizer: prefiro cuidar de 100 homens extremamente perigosos do que cuidar de uma mulher só. É que os homens em geral, por mais truculentos que sejam, quando você chama ele na responsa, o cara acaba admitindo o erro, abaixa a cabeça e fala “Sim, senhor”. Já a mulher nunca admite. A mulher tem estágios. No primeiro ela chora. Quando não funciona, ela passa pro segundo que é discutir com você. Quando também não funciona, ela vai pro terceiro estágio que é o de ficar agressiva. Quando nenhum deles funciona, ela então apela pro quarto estágio que é o da auto-mutilação. Ela se corta, bate a cabeça contra a parede, o escambau. Mas ela nunca admite que tá errada”.

A propósito, antes de você me rotular de machista, saiba que li mais livros feministas que você (OK, vc certamente pegou mais mulher que eu, mas esse post não é sobre isso) e vá se catar com sua patrulha ideológica.

Pluft

Hmmm. Deixa eu ver. O Depeche Mode lançou um cd com uma capa tão obscenamente oitentista que ainda não tive coragem de ouvir. O cd novo da PJ Harvey é bom quando ela não canta igual a uma gazela sendo estrangulada acompanhada por um ukulele. O The Horrors se reinventou mais gótico e impenetrável. O Neil Young parece finalmente ter composto umas musquinhas boas depois de muito tempo.
Quanto ao resto, continuo pensando um pouco numa topada que dei na mesinha da cabeceira que faz meu dedo mindinho doer, mas nada que se compare ao Jesus de Mel Gibson.
Um cara como esse deve existir em algum lugar. Na época da escola uma garotinha feiosa o definiria como nem bonito nem feio, o que parece ser a pior das opções. Ainda no mesmo período, um dia ele conseguiria ter entrado no vestiário feminino num dia de festividade na escola. O lugar estaria vazio, lógico, mas a idéia de tantos corpos que ali teriam se despido, todos os corpos que ele teria desejado ardentemente com o desespero de um cristão ansiando pelo paraíso, o deixava numa espécie nada pura de êxtase. Por esse tipo de episódio, já poderíamos imaginar que tipo de homem ele viria um dia tornar-se.
Um cara como ele deve existir por aí, morando em algum apartamento úmido, com uma janela só, de frente para um viaduto ou uma parede de concreto. Deve estar agora perto do fim da juventude e às portas de algo que nem vale a pena mencionar. Teria tido uma namorada, uma simpática anã corcunda, que usaria sempre um tapa-olho. No dia em que ela comunicaria subitamente sua mudança de planos, ele levaria as mãos à cabeça e descobriria que ela enxergava perfeitamente bem em ambos os olhos. Talvez não fosse nem anã nem corcunda.
Vamos então perdoá-lo de qualquer modo pela frase que diria nessa situação:
- Mulher, bicho mentiroso do caralho!
Um cara como esse deve existir, mas passa desapaercebido na multidão, pela absoluta falta de atrativos. Um dia ele olharia ao redor e não veria mais mundo nenhum. Dizem que essa é a primeira sensação dos recém-mortos. Com o tempo, se acostumaria (quem disse que não há tempo no além-túmulo?), mas desse ponto em diante, supomos que já não seja adequado dizer que ele exista.

Friday, April 03, 2009

Post Extremamente Depressivo e Pessoal


Definitivamente eu odeio esses blogs cheios de posts extremamente particulares, que só servem de propaganda pessoal. Geralmente escritos por pessoas infelizes atrás de propaganda pessoal, esses blogs geralmente têm um tom adolescente lamuriento, cheio de auto-piedade e recalque. Por isso, pulem esse post, porque ele vai nessa linha.
Esse é um post escrito numa tarde cinza, de cima da minha cama enquanto acalento alguns pensamentos suicidas, ou seja, um dia típico de 1989. Só que 20 anos depois. Aos 36 anos de idade, estou nos primeiros passos da inevitável decadência física, em um emprego que me consome toda a energia e me frustra imensamente, minha carreira musical (hahahaha) não deu em nada e jamais dará, principalmente agora que estou a cada dia mais velho e cansado, tenho uns 5 amigos ou menos numa estimativa otimista e não me lembro da última vez que vi uma mulher nua ao vivo. Pior, não me recordo da última vez em que uma fez menção de me beijar na boca.
Se levasse a sério a ideia estúpida de que a vida é um jogo, poderia me ancaixar no time dos losers. Mas não quero me encaixar em nenhum time, nunca fui bom nisso.
Penso nos meus ídolos, tão fora de moda quanto eu, Henry Miller, escrevendo suas obras-primas sobre o efeito de uma grande depressão aos 35, ou Leonard Cohen lançando seu primeiro disco aos 32 (antes ou depois de ser chupado por Janis Joplin, que "preferia homens bonitos, mas para ele faria uma exceção"?). A idade chegou e eu jamais farei nada tão brilhante quanto eles. Se penso em outros ídolos como Brian Wilson e Van Morrison, que redefiniram a música pop aos vinte e poucos anos, aí é que a crise bate forte mesmo.
Boa hora para um suicídio. Não tenho fé em nada. Não espero nada das pessoas. Acho que o futuro não promete nada alem do inevitável. Ok, sem lenga lenga, então por que não me mato logo? Digamos que a experiência demonstrou que o ato envolve algumas questões desagradáveis, a saber, a possibilidade de fazer a coisa mal-feita e foder o resto de minha vida de vez. Magoar minha mãe, talvez a única pessoa que sinta algo por mim parecido com o que chamam de amor. A possibilidade dos putos dos espiritualistas estarem certos e eu me foder bonito na vida pós-morte (não acredito nem duvido da possibilidade. Na verdade, creio sempre na pior das hipóteses). E também a possibilidade, ainda que pequena, de que a melhor fase da minha vida comece amanhã. Vai saber...
Meus caros leitores, silenciosos e indiferentes, me dêem uma força: de que vale a vida? Vamos lá, sejam bonzinhos e tentem me convencer de que há algo realmente válido e prazeiroso em acordar a cada manhã morna. Estou enjoado, cansado, triste, desanimado e outras cositas más. Estou até usando expressões em espanhol, o que certamente é um indicador de minha miséria espiritual. Me convençam, se puderem, estou esperando.

P.S. Não, não vou me matar, isso é certo. Mas também, não sinto como se fosse realmente viver os próximos dias.
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