Ficou cansado de procurar, ainda que o fizesse meio sem perceber. Um clic quase inaudível causou a mudança de atitude, se é que era uma mudança de atitude. Se não foi uma mudança de atitude, foi mais como ajeitar o corpo sobre uma cama de pregos, buscando um pouco mais de conforto. Uma jovem de elegância discutível contou uma piada e o pobre homem a levou um pouco a sério demais, como assim? Ele se pegou imaginando as dimensões do bigode do português ou a penugem do papagaio e já não tinha idade para isso, convenhamos.
Ficou cansado de estar cansado, levantou da cama de pregos e mandou o mundo se foder. Como de costume, o mundo repetiu em eco. A vida não é surpreendente, infelizmente. A maior parte dos fenômenos é cíclico e obedece às leis estúpidas da probabilidade, da matemática, abstrações vis. Relógios. Ele se apaixonou uma vez por uma mulher que era igual a um relógio. Ele olhava para ela e sentia cada segundo passando por sua carne, ele envelhecia cada vez que ela dava uma volta, vestida só com as suas roupas de baixo, pela casa.
Ficou parado de frente à janela, esperando. Cansou de esperar. Já ia ficando cansado de estar cansado de novo, quando o telefone tocou, mas ele não atendeu. Quem quer que fosse, ele já sabia o que diria. Palavras falsas de apoio, na verdade conselhos que não havia pedido jamais. Ele não queria mudar. Ele estava exatamente onde queria, com as roupas que queria. Se ele mudasse, os outros venceriam, supondo que essa merda fosse um jogo mesmo, como os mais idiotas gostam de repetir.
Sim, porque os mais idiotas às vezes estão certos. E idiotice é uma questão de perspectiva: eu, ao contar essa história, por exemplo, estou tentado a achar que o idiota é ele. Sempre é ele, mesmo diante do espelho, mesmo debaixo do chuveiro disfarçando as lágrimas, mesmo diante do tédio que gira, gira, gira, gira.
Ficou cansado de estar cansado, levantou da cama de pregos e mandou o mundo se foder. Como de costume, o mundo repetiu em eco. A vida não é surpreendente, infelizmente. A maior parte dos fenômenos é cíclico e obedece às leis estúpidas da probabilidade, da matemática, abstrações vis. Relógios. Ele se apaixonou uma vez por uma mulher que era igual a um relógio. Ele olhava para ela e sentia cada segundo passando por sua carne, ele envelhecia cada vez que ela dava uma volta, vestida só com as suas roupas de baixo, pela casa.
Ficou parado de frente à janela, esperando. Cansou de esperar. Já ia ficando cansado de estar cansado de novo, quando o telefone tocou, mas ele não atendeu. Quem quer que fosse, ele já sabia o que diria. Palavras falsas de apoio, na verdade conselhos que não havia pedido jamais. Ele não queria mudar. Ele estava exatamente onde queria, com as roupas que queria. Se ele mudasse, os outros venceriam, supondo que essa merda fosse um jogo mesmo, como os mais idiotas gostam de repetir.
Sim, porque os mais idiotas às vezes estão certos. E idiotice é uma questão de perspectiva: eu, ao contar essa história, por exemplo, estou tentado a achar que o idiota é ele. Sempre é ele, mesmo diante do espelho, mesmo debaixo do chuveiro disfarçando as lágrimas, mesmo diante do tédio que gira, gira, gira, gira.