Wednesday, January 30, 2008

Auto-retrato



Minha vida toda eu quis ser desenhista, mas sempre fui um fracasso na área. Mal consigo desenhar os bonequinhos mais simples, e esse foi um dos sonhos que atirei longe há bastante tempo. É assim que as coisas são, não que devessem ser, mas, o que você mais teme é o que geralmente acontece. Comecei a escrever meio que para compensar essa limitação, e obviamente não tive sucesso. Me especializei nessa arte morta. Em terra de cego, quem tem um olho é escorraçado, perseguido e queimado em praça pública.

Resolvi fazer um apanhado das opiniões de mulheres de quem gostei ao meu respeito, para tentar criar um belo auto-retrato, mesmo sabendo que isso ia dar merda. Mais um prazer perverso. Essa queda por fazer o que não se faz.

Muito bem, se minha memória não falha, já fui chamado de:

1. Egocêntrico, mas querendo significar egoísta também.

2. Melodramático, excessivamente romântico, no sentido babaca da expressão.

3. Pessimista e descrente (até mamãe, até mamãe!!)

4. Manipulador

5. Frio calculista que usa as pessoas. Peraí, tem um problema conceitual aqui. Ou eu sou excessivamente romântico ou eu uso as pessoas. Será que é possível ambos?

6. Cínico

7. Banana

8. Idealista, também no sentido babaca da expressão

9. Alguém que prefere a arte às pessoas, ou que usa a arte como uma droga.

10. Instável

11. Histérico

12. Confuso

13. Acomodado, preguiçoso e relaxado. (Quem tem tempo para ouvir minhas teorias sobre a inutilidade de se arrumar a cama?)

14. Narcisista (Pô sacanagem, eu evito olhar o espelho. Eu tenho medo de espelhos. Uma vez minha irmã disse que viu nossos avós mortos no espelho da casa e desde então eu passo o mínimo de tempo diante deles, porque tenho certeza que um dia o reflexo vai me trair)

Já dá pra fazer um retrato legal eu acho. Não?

Depois eu escrevo um post sobre as opiniões de meu falecido papai sobre mim. São ainda menos animadoras.

Monday, January 28, 2008

Postagem 181

Arrependei-vos. Eu estava cheirando a minha gata, Miss Kita, surpreso com o cheiro bom que ela tem. É possível que haja mais seres humanos com mau hálito do que gatos fedorentos, seja lá o que isso quier dizer. A confusão toma conta do espaço vazio da minha mente vagabunda. Eu sou honesto, eu detesto trabalho. Eu quero passar o resto da vida deitado no colo de uma mulher, mas não de uma mulher qualquer, uma em especial, uma especial, na sombra, até o fim dos meus dias, que até onde sei deflagrará o fim do universo, para mim. Eu deveria estar dormindo, daí o tom levemente onírico dessas palavras.
Algumas pessoas gostam de ficar bêbadas. O mais perto que já cheguei disso foi quando bebi o quê, uma garrafa de ice de estômago vazio? Sensação horrorosa de enjôo e irrealidade. A pior coisa que pode acontecer com você é começar a achar que as meninas lindas nos seus trajes de verão não são de verdade. Uma vez eu me apaixonei por um fantasma. Ela disse: "O que se faz com as fotografias quando tudo acaba? E as cartas de amor?". Acho que até chorei naquela noite, há muito tempo atrás.
Quer saber o que é liberdade? Leia aquele trecho de poema inglês "The Wanderer" e seja tolo o suficiente para imaginar o tamanho do deserto em que vaga um homem sem ter onde para ir e sem ter para onde voltar. Eu digo homem, porque me parece que as mulheres sempre têm para onde ir, ou para onde voltar. Veja bem, que não estou dizendo que seja mais fácil ser uma mulher. Certamente deve ser tedioso ser mulher, ou homem, ou mesmo girafa.

Tuesday, January 22, 2008

É tudo ficção

Decidi mudar esse post para eu sou um babaca, devido a uma repentina mudança de humor.

Monday, January 21, 2008

Ele a encontrou de novo num dia de sol inclemente e derreteu. Após esperar uma vida inteira de segundos eternos, mesmo na sombra, é isso que acontece. O sorriso dela inundava o início da rua a um quilô metro de distância, mas ele fingiu não ver, porque nunca sabia para onde olhar enquanto alguém vinha em sua direção.
A maior parte de sua vida aquele jovem tinha tido que domesticar seus olhos. Eles insistiam em seguir seu próprio rumo, a despeito da vontade de seu dono. Ele se supunha dono dos seus olhos, ao menos. E era um dia infernal de calor naquela cidade. E se ela viesse de umbigo de fora? Ele sabia da mania dos seus olhos por umbigos desde a mais tenra idade. Olhava os umbigos das meninas, das mães das meninas, às vezes das avós, isso numa época em que nem desconfiava o que se pode fazer com uma mulher, ou o que uma mulher pode fazer com você. Ok, tudo bem, talvez mesmo hoje ele ainda não soubesse bem o que fazer, apesar das décadas passadas.
Ela chegou mais bonita do que antes, o que já era uma espécie de sacrilégio. Ele a encontrara daquela outra vez em um supermercado,e de repente aquelas caixas coloridas de sabão em pó todas já não faziam mais nenhum sentido. É óbvio que ele quis levá-la para casa. Ela veio sorrindo porque estava alguns minutos atrasada. Uma vida inteira atrasada. Ela devia ter estado à frente dele no dia em que ele nasceu: os médicos diriam "Vais morrer, mas antes terás visto isso".
O hálito dela era perfumado. A pele dela era perfumada. Eis o que faria, a raptaria e a colocaria dentro de um frasco e venderia sua essência. As palavras dela dançavam como abelhas. Ela era uma colméia. Ele quis ser um zangão, mesmo um zangão aleijado. E ele que nunca quisera ser nada feminino, até abelha quis ser antes do final daquela tarde. (...)
Ele acordou com o cheiro fortíssimo de gás no apartamento. Tinha esquecido aberto de novo. E de novo tinha tido um daqueles sonhos bregas. Desligou o gás e admirou a rua repleta de mulheres com placas de neon sobre as cabeças, onde se lia "Não me toque". Depois voltou a dormir.
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