Ciranda
O gato listrado estuda a mulher sentada vestida naquela cor causadora de controvérsias, na fronteira entre o azul e o verde. Ele adoraria que a mulher lhe desse algo para comer, qualquer coisa mastigável, que enchesse seu pequeno estômago de gato. Como nada parece vir da jovem senhora que espera o filho sair da aula de natação, só resta ao animalzinho listrado continuar a estudar a mulher e concluir, um tanto precipitadamente, que há uns 15 anos atrás ela deveria ter sido um espécime do sexo feminino bem mais atraente aos olhos. A convivência com os seres humanos não faz mesmo bem aos animais. Mesmo eles acabam virando uns canalhas.
A mulher olha o filho, cheia do único amor que existe. Procura no rapazola gorducho traços do pai da criança e não acha tantos. Tem certeza de que o sorriso é o mesmo, embora não se lembre bem da última vez em que viu o homem sorrindo. "É o preço que se paga", pensa ela, como seria triste não ter o apartamento recém-comprado na parte mais nobre da cidade. Sem contar que havia hora e local certo para mostrar os dentes, só não sabia se havia aprendido isso com seu marido ou se o ensinara. Como sentia-se estúpida quando corria e ria ao mesmo tempo, atrás de um táxi, por exemplo. Se não tivesse já um um marido excelente, um lindo filho e um apartamento que tocava as nuvens, talvez resolvesse que precisava correr mais, exercícios.
O filho estava satisfeito com as formas da mãe. Discordava do gato, sem saber. É certo que não gostava de fazê-lo em público, mas quando não havia ninguém por perto, adorava abraçá-la, sentindo no rosto seus seios fartos. Muito mais macio do que os ossos e pelos do abraço do pai. Com o passar do tempo, o filho e o pai se tocariam cada vez menos, para alívio de ambos.
CONTINUA
A mulher olha o filho, cheia do único amor que existe. Procura no rapazola gorducho traços do pai da criança e não acha tantos. Tem certeza de que o sorriso é o mesmo, embora não se lembre bem da última vez em que viu o homem sorrindo. "É o preço que se paga", pensa ela, como seria triste não ter o apartamento recém-comprado na parte mais nobre da cidade. Sem contar que havia hora e local certo para mostrar os dentes, só não sabia se havia aprendido isso com seu marido ou se o ensinara. Como sentia-se estúpida quando corria e ria ao mesmo tempo, atrás de um táxi, por exemplo. Se não tivesse já um um marido excelente, um lindo filho e um apartamento que tocava as nuvens, talvez resolvesse que precisava correr mais, exercícios.
O filho estava satisfeito com as formas da mãe. Discordava do gato, sem saber. É certo que não gostava de fazê-lo em público, mas quando não havia ninguém por perto, adorava abraçá-la, sentindo no rosto seus seios fartos. Muito mais macio do que os ossos e pelos do abraço do pai. Com o passar do tempo, o filho e o pai se tocariam cada vez menos, para alívio de ambos.
CONTINUA