Não gosto de pensar no futuro, me parece uma abstração como o passado. Como ter certeza do que aconteceu, se tudo que temos são os pouco confiáveis registros de nossa memória e os esforçados avanços de nossa tecnologia? E o amanhã, que sabemos, não chegará para todos? Trata-se de assunto mais assustador ainda. Melhor nos dedicarmos ao presente.
É ao que me dedicaria se não estivessem fazendo tanto barulho ao redor. As Olímpiadas de 2016 acontecerão na minha cidade. Eu devo ficar feliz por isso? A julgar pelos meus semelhantes e pela alegria injetada neles pelos meios de comunicação mais populares, sim.
Me recuso. Nem sei se estarei vivo nos próximos 7 anos, evito o pensamento. Duvido que a realização do evento traga reais melhorias para essa cidade assustadora (sim, sem paranóia, quantos cidadãos cariocas que hoje sorriem não cairão vítimas da própria cidade em que vivemos até 2016?). E desconfio demais do espírito esportivo.
Atividades físicas são benéficas para o organismo? Provavelmente sim, segundo as palavras dos experts. Esportes são outra coisa.
Potentes mecanismos de domesticação. Escolhem seu time por você. Situam-no à margem dos reais eventos, reduzindo-o a espectador. Alimentam o assombroso espírito de matilha (que assim chamo por falta de termo melhor, já que nenhum grupo de cães teria a voracidade ou crueldade de um grupoi de humanos), nós contra eles, reforçam a doença do patriotismo, jogam luz sobre os inimigos de brincadeira para ocultar os verdadeiros (Quem joga contra você, meu caro flamenguista? O vascaíno, tricolor, botrafoguense? Quem te oprime e te impede de ter uma vida digna? Quem te humilha diariamente, que camisa veste?), estimulam o prazer doentio que parece inerente à natureza humana advindo da contemplação do sofrimento alheio.
Não, não é diversão assistir gente se ferindo. Invente um esporte sem competição e veja quem vai praticá-lo. Não, você não está se divertindo assistindo gente se divertindo. Você está sendo enganado, mais uma vez, sob a mesma lógica vil e meramente comercial dos filmes pornô.
Eu poderia seguir assim indefinidamente, mas deixa pra lá. Curtam 2016, salivem até lá, só não contem comigo e nem esperem satisfação.