Monday, March 30, 2009
Friday, March 27, 2009
A-HA 26.03.2009
Se me dissessem nos anos 80 que eu faltaria ao trabalho numa quinta-feira para assistir a um show do A-HA, eu ficaria muito preocupado. Primeiro, porque nas minhas visões de um futuro ideal da época, eu certamente não me via no tipo de emprego que te ocupa numa quinta à noite. E segundo, porque, garoto bobo que eu era, desprezava o pop honesto da banda, tentando eu entrar em sintonia com o "bom gosto" que vinha por Cr$ 20,00 na Revista Bizz. Pop era então para mim uma palavra depreciativa, como se a música que os meus favoritos da época particavam não o fosse. (O U2 viria a confirmar a afinidade, afanando na cara dura o refrão de um hit dos noruegueses, "The Sun Always Shines On TV", no seu single dos anos 2000 "Beautiful Day").
Uma rápida olhada no público do show de ontem já denunciava um inegável aroma de revival no ar. Dois dos amigos que me acompanhavam admitiram o caráter nostálgico que o show representava para eles. Será que eu era o único ali com esperanças de que a banda tocasse algumas das boas canções de seu último álbum, "Analogue", como a balada "Cosy Prisons"?
Acho que sim. Até onde pude identificar, até a banda ignorou seu último álbum, concentrando suas forças numa emulação sonora e visual, na medida do possível, do período em que tiveram mais fama. Um olhar rápido para o palco deixava claro que é mais fácil reproduzir timbres de synths dos anos 80 do que esconder as rugas, mas antes assim do que aquelas clássicas tentativas de bandas decadentes de modernizar seu som.
A banda jogou claramente para a platéia. Todos os hits em arranjos fiéis, bis com o hit máximo, "Take On Me", espaço para isqueiros serem acesos (sim, ainda fazem isso. Na verdade, o telão, no momento de uma balada, talvez "Stay On These Roads", chega mesmo a exibir imagens de isqueiros acesos), poucas músicas novas, espaço para palmas e para participação da platéia, o de sempre. O som estava embolado e dando a impressão de que o vocalista Morten Harket (talvez seja esse o nome dele, nunca se sabe com esses nórdicos) já não tinha aquela voz de seus tempos de garoto (síndrome de ausência de banda de abertura, como observou o perspicaz gênio desconhecido da música pop Marcos Ramos, segundo o qual parece ser tradição o papel de boi de piranha das bandas de abertura, passadores de som não- oficiais. No caso da falta deles, parece que a tradição dos shows no Brasil é a própria atração principal se foder).
A platéia pareceu se divertir, ainda que empolgação mesmo só rolasse nos hits. Até eu, chato de plantão, me peguei percebendo a influência dos caras no pop britânico de Coldplays e Keanes...
Uma rápida olhada no público do show de ontem já denunciava um inegável aroma de revival no ar. Dois dos amigos que me acompanhavam admitiram o caráter nostálgico que o show representava para eles. Será que eu era o único ali com esperanças de que a banda tocasse algumas das boas canções de seu último álbum, "Analogue", como a balada "Cosy Prisons"?
Acho que sim. Até onde pude identificar, até a banda ignorou seu último álbum, concentrando suas forças numa emulação sonora e visual, na medida do possível, do período em que tiveram mais fama. Um olhar rápido para o palco deixava claro que é mais fácil reproduzir timbres de synths dos anos 80 do que esconder as rugas, mas antes assim do que aquelas clássicas tentativas de bandas decadentes de modernizar seu som.
A banda jogou claramente para a platéia. Todos os hits em arranjos fiéis, bis com o hit máximo, "Take On Me", espaço para isqueiros serem acesos (sim, ainda fazem isso. Na verdade, o telão, no momento de uma balada, talvez "Stay On These Roads", chega mesmo a exibir imagens de isqueiros acesos), poucas músicas novas, espaço para palmas e para participação da platéia, o de sempre. O som estava embolado e dando a impressão de que o vocalista Morten Harket (talvez seja esse o nome dele, nunca se sabe com esses nórdicos) já não tinha aquela voz de seus tempos de garoto (síndrome de ausência de banda de abertura, como observou o perspicaz gênio desconhecido da música pop Marcos Ramos, segundo o qual parece ser tradição o papel de boi de piranha das bandas de abertura, passadores de som não- oficiais. No caso da falta deles, parece que a tradição dos shows no Brasil é a própria atração principal se foder).
A platéia pareceu se divertir, ainda que empolgação mesmo só rolasse nos hits. Até eu, chato de plantão, me peguei percebendo a influência dos caras no pop britânico de Coldplays e Keanes...
Thursday, March 26, 2009
Craques das Bolas
As únicas notícias que me interessam sobre futebol são as desse tipo. Um desses ídolos nacionais aí, cujo nome pode ser Adriano, não sei, porque sinceramente ignoro o mundo dos esportes, e cada vez vejo mais razões para isso, deu uma festa de arromba (opa) na sua mansão na Barra da Tijuca (centro acéfalo da zona oeste carioca) cheia de craques das bolas. Craques que gostam tanto de bola que...
O rapaz cuja foto ilustra esse post, atende pelo nome de Patrícia Araújo, e declarou ao jornal Extra de hoje que foi ameaçado caso revelasse o que realmente aconteceu por trás (opa opa) das cortinas da mansão. Entretanto, disse mais do que poderia, afirmando que "na festa havia muito mais homens que mulheres".
Lembrando que o "rei" Pelé já andou declarando haver perdido sua virgindade com um rapaz generoso, e tendo também na memória a aventura do outro craque Ronaldo e sua noitada também na Barra com 3 ou 2 travecos (nesse caso a quantidade exata não faz diferença. Um traveco no motel ou mil dão (opa opa opa) na mesma), acredito que possamos configurar já uma tendência entre nossos (deles) ídolos nacionais da pelota.
O rapaz cuja foto ilustra esse post, atende pelo nome de Patrícia Araújo, e declarou ao jornal Extra de hoje que foi ameaçado caso revelasse o que realmente aconteceu por trás (opa opa) das cortinas da mansão. Entretanto, disse mais do que poderia, afirmando que "na festa havia muito mais homens que mulheres".
Lembrando que o "rei" Pelé já andou declarando haver perdido sua virgindade com um rapaz generoso, e tendo também na memória a aventura do outro craque Ronaldo e sua noitada também na Barra com 3 ou 2 travecos (nesse caso a quantidade exata não faz diferença. Um traveco no motel ou mil dão (opa opa opa) na mesma), acredito que possamos configurar já uma tendência entre nossos (deles) ídolos nacionais da pelota.
Wednesday, March 25, 2009
YYYs Mandando Bem
Já ia esquecendo de dizer que o último disco do Yeah Yeah Yeahs, que vazou há algumas semanas é excelente. A banda se entregou às programações e veio com o melhor lote de canções desde o fraquíssimo e inacreditavelmente elogiado segundo disco. Certamente estará na lista de melhores do final do ano (abaixo do "Years Of Refusal" do Morrissey, claro), supondo, é claro, que eu ainda esteja no Planeta Terra.
Tuesday, March 24, 2009
Spirit
Eu juro que não faço de propósito esse negócio de nadar contra a correnteza da crítica especializada, mas lá vamos nós de novo. Malharam o filme de Frank Miller, chamando-o inclusive de "pior adaptação já feita dos quadrinhos", e eu tenho que dizer: é tudo culpa do Batman.
O filme tem sim seus defeitos, mas longe da montanha de lama que estão jogando em cima dele. Eu diria que um dos principais, não o único, mas um dos principais incômodos que o filme causa nos especatdores pós-Batman Dark Knight éo tom farsesco que adota desde seu início, uma estética camp que remete ao Batman barrigudinho do seriado de TV. Nada de realismo para a geração do cinema videogame, nada de vísceras expostas, nada de filosofia barata que faz espectadores se sentirem orgulhosos de sua suposta inteligência por acompanhar obra tão "intrincada".
Outro incômodo para os que confundem cinema com literatura: o filme tem um roteiro que não se leva a sério em nenhum momento. Escancara a estupidez sadia dos filmes de super-herói. Se concentra no que muita gente esqueceu, o caráter essencialmente visual do cinema. Miller esbanja talento, e até exagera, mas ora bolas, por que não exagerar nos delírios visuais? Quer diálogos? Vá ver uma peça. Quer tramas mirabolantes? Tente um bom romance.
Confesso que me apreciei muito a visão, já presente em Sin City, dos personagens femininos como essenciais à trama e retratados sob uma névoa onírica, que, apesar de fetichista e idealizadora, funciona perfeitamente no cinema (reparem em como a iluminação privilegia ângulos, filtros e cores que sugerem uma natureza quase divina para TODAS as personagens femininas. Legal, coisa de quem gosta de mulher, coisa mais rara do que se pensa) e surge como um exemplo quase único na atual realidade do cinema pop, que parece preferir personagens femininos que se equiparam aos masculinos no fator porrada, mas de resto funcionam como mera decoração.
Vá e veja e tire suas conclusões. Eu gostei.
O filme tem sim seus defeitos, mas longe da montanha de lama que estão jogando em cima dele. Eu diria que um dos principais, não o único, mas um dos principais incômodos que o filme causa nos especatdores pós-Batman Dark Knight éo tom farsesco que adota desde seu início, uma estética camp que remete ao Batman barrigudinho do seriado de TV. Nada de realismo para a geração do cinema videogame, nada de vísceras expostas, nada de filosofia barata que faz espectadores se sentirem orgulhosos de sua suposta inteligência por acompanhar obra tão "intrincada".
Outro incômodo para os que confundem cinema com literatura: o filme tem um roteiro que não se leva a sério em nenhum momento. Escancara a estupidez sadia dos filmes de super-herói. Se concentra no que muita gente esqueceu, o caráter essencialmente visual do cinema. Miller esbanja talento, e até exagera, mas ora bolas, por que não exagerar nos delírios visuais? Quer diálogos? Vá ver uma peça. Quer tramas mirabolantes? Tente um bom romance.
Confesso que me apreciei muito a visão, já presente em Sin City, dos personagens femininos como essenciais à trama e retratados sob uma névoa onírica, que, apesar de fetichista e idealizadora, funciona perfeitamente no cinema (reparem em como a iluminação privilegia ângulos, filtros e cores que sugerem uma natureza quase divina para TODAS as personagens femininas. Legal, coisa de quem gosta de mulher, coisa mais rara do que se pensa) e surge como um exemplo quase único na atual realidade do cinema pop, que parece preferir personagens femininos que se equiparam aos masculinos no fator porrada, mas de resto funcionam como mera decoração.
Vá e veja e tire suas conclusões. Eu gostei.
Gente Lendo
Eu sou o Urtigão, aquele personagem ermitão dos quadrinhos, sempre pronto para disparar sua espingarda em cima dos estranhos. Desconfio seriamente do ser humano como espécie. "My friends don't amount to one hand, one hand", como diria aquela música do Fall.
Ainda assim, fico feliz quando as pessoas comentam aqui. Comentem e discordem, por favor. O importante é ver as idéias girando loucas no ar. É tão solitário quando não há nenhum comentário.
Esse é um blog que dá muito valor às idéias, até mais àquelas que diferem das do autor.
A razão de ser desse espaço não é auto-promoção. Não uso isso tentando comer ninguém. Nem parecer mais inteligente (isso fica até evidente) ou mais qualquer coisa.
Na maior parte do tempo nem eu concordo comigo.
Então gente, continuem comentando, muito obrigado.
P.S.: O Instiga é uma banda bem legal, me chamou a atenção um certo bom humor à la Pavement no som deles (e na música do Brasil geralmente ou descambamos para a tolice pré-adolescente ou para a total ausência de humor - pense em Charlie Brown Jr. e Los Hermanos)
Ainda assim, fico feliz quando as pessoas comentam aqui. Comentem e discordem, por favor. O importante é ver as idéias girando loucas no ar. É tão solitário quando não há nenhum comentário.
Esse é um blog que dá muito valor às idéias, até mais àquelas que diferem das do autor.
A razão de ser desse espaço não é auto-promoção. Não uso isso tentando comer ninguém. Nem parecer mais inteligente (isso fica até evidente) ou mais qualquer coisa.
Na maior parte do tempo nem eu concordo comigo.
Então gente, continuem comentando, muito obrigado.
P.S.: O Instiga é uma banda bem legal, me chamou a atenção um certo bom humor à la Pavement no som deles (e na música do Brasil geralmente ou descambamos para a tolice pré-adolescente ou para a total ausência de humor - pense em Charlie Brown Jr. e Los Hermanos)
Sunday, March 22, 2009
Personal Heroes - André Forastieri
Na verdade não vou criar uma série com personal heroes, porque isso é viadagem demais, mas eu realmente simpatizo com os escritos do Forastieri, desde a época em que ele escrevia na Bizz e arrumava brigas com os bobocas do cenário musical brasileiro que só suportam ouvir elogios.
Em um dos últimos posts de seu blog (www.andfreforastieri.uol.com.br), falando de seu desprezo em relação a Radiohead e Los Hermanos ele soltou uma pérola que me deu vontade de ter escrito:
"Os robôs que tocarão os teclados de “Robots” no show do Kraftwerk têm mais sangue nas veias que Los Hermanos."
Se há algo que incomoda a respeito dessas duas bandas, é, além da unanimidade sem critérios, é a bunda-molice em graus diferentes que vendem com sua postura e seus trabalhos.
Em um dos últimos posts de seu blog (www.andfreforastieri.uol.com.br), falando de seu desprezo em relação a Radiohead e Los Hermanos ele soltou uma pérola que me deu vontade de ter escrito:
"Os robôs que tocarão os teclados de “Robots” no show do Kraftwerk têm mais sangue nas veias que Los Hermanos."
Se há algo que incomoda a respeito dessas duas bandas, é, além da unanimidade sem critérios, é a bunda-molice em graus diferentes que vendem com sua postura e seus trabalhos.
Saturday, March 21, 2009
Just A Fest - 20.03.2009
Exorcisando o extremo mau-gosto que tomou conta da Praça da Apoteose com o show do ridículo Iron Maiden na semana passada, o festival Just A Fest trouxe atrações que foram do relevante ao genial. Los Hermanos, Kraftwerk e Radiohead ( e nada de Vanguart, demonstração certeira de sabedoria dos organizadores de festival), cada um à sua maneira, parecem levar a interessantes conclusões sobre a época que cada grupo expressa.
Os Hermanos são um típico produto brasileiro. Playboys da zona sul do Rio de Janeiro, criadores de música diluída e recheada de clichês de matrizes realmente importantes musicalmente falando, que só funciona diante de mentes ignorantes desconhecedoras dos originais ( a saber, Cake, Weezer, MPB dos anos 70). Caem como uma luva para o gosto sem critérios, pretensamente estiloso, saudosista de uma época que desconhece, levemente neo-hippie e retrógrado do público do chamado rock indie dos anos 2000 no Brasil. O som de seu show tinha os timbres magros de um ensaio de banda iniciante, mas os casais cantando as letras abraçadinhos não pareceram se importar.
O Kraftwerk vem de outra época. Uma época mais pretensiosa e muito mais bem-sucedida em suas pretensões. São os mestres no que fazem, no que inventaram (ou fez, ou inventou, já que o único remanescente da formação original é Ralf Hutter, o que não fez a menor diferença. Substituir um robô por outro não parece uma tarefa complicada). Atingiram a perfeição na forma e função. Constróem um espetáculo sensorial irretocável, no sentido mais literal que a palavra pode ter. Qualquer banda da atualidade, ou mesmo do passado, sofreria com a comparação. O público carioca se ressentiu um pouco da frieza dos alemães (hahahahahahaha) e ficou confuso sobre as horas de fazer u-hu e bater palmas, mas não acho que tenha feito diferença para eles ou para quem apreciava a arte em movimento do grupo mais importante da música popular do século XX.E XXI, XXII, porque a música que fazem ainda continua à frente de nosso tempo e parece estar situada para sempre no futuro.
O Radiohead também construiu sua carreira sobre a ignorância de seu público, de certa forma, mas com muito mais talento e originalidade do que os barsileiros barbudos dos Hermanos. Qualquer pessoa com um pouco mais de conhecimento da música pop, reconhece no suposto trabalho "original" e "inovador" da banda, elementos do U2, Pink Floyd, Rush e uma centena de bandas de rock progressivo. Um amigo me disse recentemente que eles pegariam essas influências prog e levariam para outro lado, aparando as arestas. Eu diria que quando acertam, são uma das melhores bandas da sua geração. Porém, erram muito mais na maior parte do tempo. Em canções de andamento mais acelerado como "15 Step" e "Idiotheque", eu me arriscaria a dizer que compõem a trilha sonora perfeita para os nossos tempos caóticos. A cozinha, nessas músicas, surpreende pela eficácia e criatividade. Contudo, imperam os climas lentos entediantes, com Thom Yorke (cuja voz ao vivo é ainda mais miada) pairando sobre a sua banda com mão de ferro (impressão minha ou mesmo alguns membros da banda mostram sinais de tédio nesses momentos?). E, não, Johnny Greenwood não é genial. Ele é um poseur cheio de maquininhas, o que pode impressionar quem se atrai pelo tipo, mas, como o assunto aqui é música, devemos destacar que quase todos os ruídos produzidos pelo rapaz só acrescentavam uma camada de ruído dispensável em composições que na maior parte do tempo parecem correr desesperedamente atrás de uma melodia que, mais esperta, corre mais veloz, bem à frente. O público não pareceu se importar. Isqueiros foram acesos e bracinhos levantados com o final apoteótico de "Creep", o hit que quase todos esperavam.
Os Hermanos são um típico produto brasileiro. Playboys da zona sul do Rio de Janeiro, criadores de música diluída e recheada de clichês de matrizes realmente importantes musicalmente falando, que só funciona diante de mentes ignorantes desconhecedoras dos originais ( a saber, Cake, Weezer, MPB dos anos 70). Caem como uma luva para o gosto sem critérios, pretensamente estiloso, saudosista de uma época que desconhece, levemente neo-hippie e retrógrado do público do chamado rock indie dos anos 2000 no Brasil. O som de seu show tinha os timbres magros de um ensaio de banda iniciante, mas os casais cantando as letras abraçadinhos não pareceram se importar.
O Kraftwerk vem de outra época. Uma época mais pretensiosa e muito mais bem-sucedida em suas pretensões. São os mestres no que fazem, no que inventaram (ou fez, ou inventou, já que o único remanescente da formação original é Ralf Hutter, o que não fez a menor diferença. Substituir um robô por outro não parece uma tarefa complicada). Atingiram a perfeição na forma e função. Constróem um espetáculo sensorial irretocável, no sentido mais literal que a palavra pode ter. Qualquer banda da atualidade, ou mesmo do passado, sofreria com a comparação. O público carioca se ressentiu um pouco da frieza dos alemães (hahahahahahaha) e ficou confuso sobre as horas de fazer u-hu e bater palmas, mas não acho que tenha feito diferença para eles ou para quem apreciava a arte em movimento do grupo mais importante da música popular do século XX.E XXI, XXII, porque a música que fazem ainda continua à frente de nosso tempo e parece estar situada para sempre no futuro.
O Radiohead também construiu sua carreira sobre a ignorância de seu público, de certa forma, mas com muito mais talento e originalidade do que os barsileiros barbudos dos Hermanos. Qualquer pessoa com um pouco mais de conhecimento da música pop, reconhece no suposto trabalho "original" e "inovador" da banda, elementos do U2, Pink Floyd, Rush e uma centena de bandas de rock progressivo. Um amigo me disse recentemente que eles pegariam essas influências prog e levariam para outro lado, aparando as arestas. Eu diria que quando acertam, são uma das melhores bandas da sua geração. Porém, erram muito mais na maior parte do tempo. Em canções de andamento mais acelerado como "15 Step" e "Idiotheque", eu me arriscaria a dizer que compõem a trilha sonora perfeita para os nossos tempos caóticos. A cozinha, nessas músicas, surpreende pela eficácia e criatividade. Contudo, imperam os climas lentos entediantes, com Thom Yorke (cuja voz ao vivo é ainda mais miada) pairando sobre a sua banda com mão de ferro (impressão minha ou mesmo alguns membros da banda mostram sinais de tédio nesses momentos?). E, não, Johnny Greenwood não é genial. Ele é um poseur cheio de maquininhas, o que pode impressionar quem se atrai pelo tipo, mas, como o assunto aqui é música, devemos destacar que quase todos os ruídos produzidos pelo rapaz só acrescentavam uma camada de ruído dispensável em composições que na maior parte do tempo parecem correr desesperedamente atrás de uma melodia que, mais esperta, corre mais veloz, bem à frente. O público não pareceu se importar. Isqueiros foram acesos e bracinhos levantados com o final apoteótico de "Creep", o hit que quase todos esperavam.
Thursday, March 19, 2009
Keane, Citibank Hall (É Esse O Nome?), 13.03.2009
Razoável. Vi o show deles anterior e o repertório deles era melhor, concentrado no excelente primeiro e no segundo trabalho. A atual turnê promove o terceiro cd da banda, que mirou no oitentismo de Bowie fase "Let's Dance" e algo de Talking Heads (como notou o sábio Marcos Ramos), mas não acertou em cheio em lugar algum.
A maior diferença em relação à turnê anterior diz respeito à formação. Desta vez vieram com um desnecessário baixista e o vocalista empunhou guitarra e violão em momentos do show. Esta segunda mudança pode não acrescentar muito em termos musicais, mas funciona bem por dar ao vocalista alguma ocupação durante os momentos instrumentais, poupando-nos de seu gestual de calouro do Programa Raul Gil e de corridinhas pelo palco. Alguns cantores têm carisma suficiente para segurar a platéia, simplesmente ficando de pé diante do microfone. Não é definitivamente o caso do vocalista do Keane.
Sejamos justos, voz o cara tem. Ainda que invista na escorregadia tradição dos vocalistas gritões do rock britânico, que já nos deu Plant e Mercury (e por que não Dickinson?), a potência vocal dele, somada à força das composições mais antigas do grupo, os coloca alguns andares acima de concorrentes no ramo do pop britânico "bonzinho", como Coldplay e Travis (supondo que o segundo ainda concorra com alguém).
A maior diferença em relação à turnê anterior diz respeito à formação. Desta vez vieram com um desnecessário baixista e o vocalista empunhou guitarra e violão em momentos do show. Esta segunda mudança pode não acrescentar muito em termos musicais, mas funciona bem por dar ao vocalista alguma ocupação durante os momentos instrumentais, poupando-nos de seu gestual de calouro do Programa Raul Gil e de corridinhas pelo palco. Alguns cantores têm carisma suficiente para segurar a platéia, simplesmente ficando de pé diante do microfone. Não é definitivamente o caso do vocalista do Keane.
Sejamos justos, voz o cara tem. Ainda que invista na escorregadia tradição dos vocalistas gritões do rock britânico, que já nos deu Plant e Mercury (e por que não Dickinson?), a potência vocal dele, somada à força das composições mais antigas do grupo, os coloca alguns andares acima de concorrentes no ramo do pop britânico "bonzinho", como Coldplay e Travis (supondo que o segundo ainda concorra com alguém).
Certamente Para A Frente Sob O Céu De Outubro
Ela dirigia e ele estava no banco do carona. Ele tentou puxar conversa, porque entre eles havia um silêncio mais do que desconfortável.
- Esses morros não estão nem aí para nós. Estão aí desde sempre e vão continuar estando muito tempo depois que nós...
Parou no "nós" porque a palavra de repente tinha um gosto horrível e também porque ela não estava prestando a menor atenção. Estavam numa fase curiosa, em que ela suportaria qualquer coisa com ele, contanto que não fosse sexo, enquanto ele só suportava o resto devido ao sexo. Quem os visse assim, jamais poderia supor que tantas vezes já houvessem feito sexo dentro daquele automóvel. Quem os visse assim veria algo pervertido, torto, deformado.
Não sei onde estavam indo. Certamente para a frente, sob o céu de Outubro. Num belo dia de um passado que hoje parecia ficção, haviam se esbarrado e dado um nome pomposo ao esbarrão. O tempo os curou lentamente do equívoco inicial, agora restava isso.
Ela mantinha o carro no centro da pista e o silêncio. De alguma forma, até o silêncio lá fora parecia obra dela. Ela andava malhando e os braços estavam ficando musculosos. Ele só envelhecia e perdia a paciência. Começou a pensar no que aconteceria em caso de acidente. Estavam a uns cento e poucos quilômetros por hora, dependendo do que encontrassem pela frente, poderiam se machucar bastante. A idéia de destroçar aquele corpo ao qual ela dedicava tantos cuidados pareceu a ele deliciosa. Quanto ao próprio corpo, também havia alguma diversão envolvida, um segundo de dor e depois mais nada.
Passaram por um prédio recém-pintado de um azul que lembrava o primeiro carro do pai dele, e se ele houvesse prestado atenção, teria lembrado do medo que sentiu da primeira vez em que esteve dentro de um carro a 80 km/h.
Notou o rosto dela levemente vermelho, até que ela finalmente continuou algum assunto antigo estacionado no meio, ou quem sabe fosse o início de uma nova conversa.
- Vai tomar no cu, Rodrigo! Vai tomar no olho do teu cu!!
Ele não respondeu porque não há muito o que dizer nessas situações, e também porque subitamente lembrou do que havia feito.
- Esses morros não estão nem aí para nós. Estão aí desde sempre e vão continuar estando muito tempo depois que nós...
Parou no "nós" porque a palavra de repente tinha um gosto horrível e também porque ela não estava prestando a menor atenção. Estavam numa fase curiosa, em que ela suportaria qualquer coisa com ele, contanto que não fosse sexo, enquanto ele só suportava o resto devido ao sexo. Quem os visse assim, jamais poderia supor que tantas vezes já houvessem feito sexo dentro daquele automóvel. Quem os visse assim veria algo pervertido, torto, deformado.
Não sei onde estavam indo. Certamente para a frente, sob o céu de Outubro. Num belo dia de um passado que hoje parecia ficção, haviam se esbarrado e dado um nome pomposo ao esbarrão. O tempo os curou lentamente do equívoco inicial, agora restava isso.
Ela mantinha o carro no centro da pista e o silêncio. De alguma forma, até o silêncio lá fora parecia obra dela. Ela andava malhando e os braços estavam ficando musculosos. Ele só envelhecia e perdia a paciência. Começou a pensar no que aconteceria em caso de acidente. Estavam a uns cento e poucos quilômetros por hora, dependendo do que encontrassem pela frente, poderiam se machucar bastante. A idéia de destroçar aquele corpo ao qual ela dedicava tantos cuidados pareceu a ele deliciosa. Quanto ao próprio corpo, também havia alguma diversão envolvida, um segundo de dor e depois mais nada.
Passaram por um prédio recém-pintado de um azul que lembrava o primeiro carro do pai dele, e se ele houvesse prestado atenção, teria lembrado do medo que sentiu da primeira vez em que esteve dentro de um carro a 80 km/h.
Notou o rosto dela levemente vermelho, até que ela finalmente continuou algum assunto antigo estacionado no meio, ou quem sabe fosse o início de uma nova conversa.
- Vai tomar no cu, Rodrigo! Vai tomar no olho do teu cu!!
Ele não respondeu porque não há muito o que dizer nessas situações, e também porque subitamente lembrou do que havia feito.
Expectativas Para O Show Do Radiohead
- Um show melhor do Kraftwerk
- Um show chatíssimo do Loser Manos
- Noventistas imbecis levantando os bracinhos ao som de "Creep", "Fake Plastic Trees" ou "Karma Police"
- Som baixo e abafado
- Público de micareta
- Chuva
- Um show chatíssimo do Loser Manos
- Noventistas imbecis levantando os bracinhos ao som de "Creep", "Fake Plastic Trees" ou "Karma Police"
- Som baixo e abafado
- Público de micareta
- Chuva
Monday, March 16, 2009
Watchmen. Alan Moore Tem Razão
É sabido que o genial autor da graphic novel detesta as adaptações de suas obras para o cinema, alegando que estas são realizadas não por artistas, mas por "contadores". Imagine a tortura do cara, tendo seus trabalhos mais marcantes sendo sucessivamente transformados em filmes (o terrivelmente ruim "Liga Extraordinária" e o mediano "V de Vingança" também são obras suas).
Assistindo a "Watchmen", é impossível não concordar com o mal-humorado Moore. Mais uma vez a originalidade e a força de um trabalho seu são diluídos em nome de mais um sucesso de bilheteria.
Vamos parar com essa estupidez de chamar filmes de super-heróis de filmes de adulto. Qualquer filme em que combatentes do crime vestem uniformes ridículos para combater vilões igualmente mal-vestidos, por princípio é qualquer coisa menos adulto. E que mal há em não ser adulto? E quem disse que ser adulto é garantia de qualidade? Fosse assim, cada filme pornô seria uma obra-prima.
O diretor Zak Snyder até que se livra do vício do excesso de câmeras lentas desnecessárias de seu outro sucesso "300", mas insiste no homo-erotismo mal-disfarçado, via Dr. Manhattan anatomicamente perfeito. Neste seu último, assim como naquele, as personagens femininas continuam em seugundíssimo plano, as duas Espectrais são basicamente namoradinhas de personagens realmente relevantes na trama, sendo a mais jovem (uma sósia perfeita de Lucy Lawless, provavelmente a melhor opção disponível para um futuro filme-sonho de lésbicas do mundo inteiro, a adaptação da série televisiva "Xena") um personagem que tem a desenvoltura de uma boneca inflável, indo da cama de um personagem para outro, sem maiores reações.
Contudo o maior equívoco do diretor não é a mudança do final da história tão comentada pelos nerds dos quadrinhos. O final ficou pior, mas não necessariamente ruim (Quem conhece os quadrinhos e lembra das imagens devastadoras de milhares de seres humanos esmagados por um gigantesco alien teleportado sabe do que estou falando). O filme peca em suas tentativas de soar "adulto". Os questionamentos "filosóficos", que funcionam perfeitamente no mundo pueril dos quadrinhos, na tela soa só tolo. A violência explícita soa como aperitivo para a geração "torture porn", mas não diz nada, nem graficamente. O erotismo dos personagens também é desnecessário e ultrapassa as raias do ridículo com o pior uso registrado do clássico de Leonard Cohen, "Hallelujah" (e olhe que não foram poucos) e uma cena cosntrangedora, que já ficaria vergonhosa numa paródia tipo "Espartalhões" (do tipo ejaculação-explosão).
Para não dizer que as longas 3 horas (ou quase isso) são pura perda de tempo, é necessário destacar a beleza de alguns quadros e o espetacular desempenho de Jackie Earle Haley no papel de Rorschach, construindo um psicopata assustador sem apelar para os tiques bobos e previsíveis que encantaram as multidões com o Coringa pós-Saw de Heath Ledger.
Mais um aspecto me chamou a atenção, mas aí é caso de reler os quadrinhos. Os dilemas e as questões da trama me pareceram excessivemante datados, americanos e oitentistas demais, soando deslocados em dias atuais. Não lembro se isso é característica já da HQ, que li na adolescência.
Acho que perdi até a vontade de assistir o "Spirit".
(Colaboração e co-autoria do post Crissssssssss Ssssssssssssss)
Assistindo a "Watchmen", é impossível não concordar com o mal-humorado Moore. Mais uma vez a originalidade e a força de um trabalho seu são diluídos em nome de mais um sucesso de bilheteria.
Vamos parar com essa estupidez de chamar filmes de super-heróis de filmes de adulto. Qualquer filme em que combatentes do crime vestem uniformes ridículos para combater vilões igualmente mal-vestidos, por princípio é qualquer coisa menos adulto. E que mal há em não ser adulto? E quem disse que ser adulto é garantia de qualidade? Fosse assim, cada filme pornô seria uma obra-prima.
O diretor Zak Snyder até que se livra do vício do excesso de câmeras lentas desnecessárias de seu outro sucesso "300", mas insiste no homo-erotismo mal-disfarçado, via Dr. Manhattan anatomicamente perfeito. Neste seu último, assim como naquele, as personagens femininas continuam em seugundíssimo plano, as duas Espectrais são basicamente namoradinhas de personagens realmente relevantes na trama, sendo a mais jovem (uma sósia perfeita de Lucy Lawless, provavelmente a melhor opção disponível para um futuro filme-sonho de lésbicas do mundo inteiro, a adaptação da série televisiva "Xena") um personagem que tem a desenvoltura de uma boneca inflável, indo da cama de um personagem para outro, sem maiores reações.
Contudo o maior equívoco do diretor não é a mudança do final da história tão comentada pelos nerds dos quadrinhos. O final ficou pior, mas não necessariamente ruim (Quem conhece os quadrinhos e lembra das imagens devastadoras de milhares de seres humanos esmagados por um gigantesco alien teleportado sabe do que estou falando). O filme peca em suas tentativas de soar "adulto". Os questionamentos "filosóficos", que funcionam perfeitamente no mundo pueril dos quadrinhos, na tela soa só tolo. A violência explícita soa como aperitivo para a geração "torture porn", mas não diz nada, nem graficamente. O erotismo dos personagens também é desnecessário e ultrapassa as raias do ridículo com o pior uso registrado do clássico de Leonard Cohen, "Hallelujah" (e olhe que não foram poucos) e uma cena cosntrangedora, que já ficaria vergonhosa numa paródia tipo "Espartalhões" (do tipo ejaculação-explosão).
Para não dizer que as longas 3 horas (ou quase isso) são pura perda de tempo, é necessário destacar a beleza de alguns quadros e o espetacular desempenho de Jackie Earle Haley no papel de Rorschach, construindo um psicopata assustador sem apelar para os tiques bobos e previsíveis que encantaram as multidões com o Coringa pós-Saw de Heath Ledger.
Mais um aspecto me chamou a atenção, mas aí é caso de reler os quadrinhos. Os dilemas e as questões da trama me pareceram excessivemante datados, americanos e oitentistas demais, soando deslocados em dias atuais. Não lembro se isso é característica já da HQ, que li na adolescência.
Acho que perdi até a vontade de assistir o "Spirit".
(Colaboração e co-autoria do post Crissssssssss Ssssssssssssss)
Friday, March 06, 2009
Personal Classics : Billy Bragg - Levi Stubbs' Tears
A música, e falo da arte como um todo, isso mesmo, não só essa canção, não fica muito mais bonita que isso aqui não. Por anos isso foi meu ideal de som de guitarra, fender, reverb (ok, tem um chorus ali de leve também, eram os anos 80).
Guitarra e voz, pandeirola e congas discretas e um doloroso solo de flugelhorn. E muito silêncio, para contar a trágica história de uma moça e seu acidente nas mãos de um amante brutal que "só ria das próprias piadas". Uma pobre criatura cujo único consolo são clássicos sessentistas da soul music dos Four Tops, Norman Whitfield, Barret Strong e...Levi Stubbs.
Um dia seu amado "faz um furo no corpo dela onde não deveria haver um". Costuram ela de volta, mas esquecem seu coração em pedaços no chão. Ela põe a fita dos Four Tops na caixinha.
Peço licença, vou ali chorar.
Polly Jean Harvey & John Parish - "Black Hearted Love"
Ainda não dá para afirmar que a PJ Harvey saiu de vez da pasmaceira sonolenta de seu último trabalho com esse novo single ao lado do sempre esperto John Parish, (até porque ela parece estar na mesma onda na foto da capa, deitada na cama, cadavérica), mas essa música caiu melhor do que tudo que ela andou fazendo nos últimos tempos.
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