Friday, May 25, 2007

Eu Não Odeio MPB. Eu Acho...

Madrugada de sexta para sábado, a Globo passa um especial em homenagem ao Caetano. Mas por quê? Por que homenageá-lo agora?
Não quero desmerecê-lo. Como compositor, tem momentos excepcionais, tem momentos absurdamente ruins, como qualquer artista de carreira longa. Nem foi a performance dele que me fez ter vontade de escrever aqui, pra falar a verdade. Seu último cd, meio Strokes/Los Hermanos é até simpático, apesar de ruim.
O que me endoideceu foram as outras atrações, novos nomes da MPB. Ai meu Deus. E vamos às perguntas, babando de ódio na madrugada:
- Por que MPB tem que se cantar com sorriso no rosto?
- Por que MPB tem que ter um milhão de instrumentos em arranjos completamente sem alma, dizendo nada?
- Por que MPB tem que ser suingadinha?
- Por que MPB tem que ter cantor histérico neto dos cantores da era de ouro do rádio, ou então cantores com síndrome de João Gilberto, sussurrando e se achando fodão?
- Por que não vamos além de Chico, Gil, Caetano, etc.?
- Por que MPB é tão setentista?
- Por que a Bahia é foda e o Amapá não?
Ai, cacete. Prefiro ouvir Capital Inicial.

Wednesday, May 23, 2007

Há uma guerra acontecendo no corpo dela. Rosto, cabelos, nuca, ainda são da menina que ela deixou para trás, são uma espécie de souvenir de outro tempo. Já do ponto onde sua blusa se torna mais justa, reforçando a idéia nada vaga de uma cintura, para baixo, ela é definitivamente mulher. Já ouvi dizer que graças à gordura acumulada nessa região, nossas mamães nos cedem a matéria bruta para nossos corpinhos se formarem. Quem quer que tenha dito que essas formas geralmente opulentas servem ao deleite, desconhece a natureza. A mãe natureza é severa e tem pressa, não criou nada para a nossa diversão.
Com o tempo a mulher vence a guerra no corpo dela. Então vêm as fotografias para provar que tudo muda e o quanto isso é triste. Vou tentar fazê-la sorrir, pelo menos hoje. Lá vem ela na minha direção. Ela me escolheu por algum motivo errado, alguma razão desconhecida além do acaso. Ela reserva o cuidado com as escolhas às suas sandálias.
Não se deve comparar nunca, mas em comparação aos outros homens eu tenho boas intenções a respeito dela. Eu pretendo eternizar seu corpo de mulher numa arte morta. Só não sei se conto isso a ela.
- Em 30 anos seremos fantasmas - ela diz antes de dizer oi.
- A seu tempo todos morreram - era uma frase que eu havia escolhido para terminar um romance, caso um dia escrevesse um, mas um conheicdo meu que escrevia poesia, roubou a frase e publicou primeiro. Eu pus veneno de rato na cerveja dele por causa disso.
Ela riu da morbidez de nossas primeiras palavras. Eu também ri, pela metade porque lembrei do poeta. Filho da puta. Se todo mundo fizesse como eu fiz, logo não teríamos mais poetas por perto e as palavras poderiam voar soltas.
-Esse cara usava os poemas como perfume barato.
- Seus amigos são todos uns babacas - ela disse, me chamando de babaca também, eu acho. Gostei não. Vou me vingar comprando sorvetes que a farão ganhar peso. às vezes me parece que tudo é guerra, mas aí me vêm a cabeça aqueles funcionários obtusos com mente de patrão, cujo livro de cabeceira é "A Arte Da Guerra" e eu sacudo fora a idéia.
Ela diz algo que eu não entendo direito, mas nada que prejudique a história. No mais, toda história que se conta é uma mentira, principalmente as baseadas em fatos reais. Não entendo direito justamente porque me perco em pensamentos desse tipo:
- Será que ela existe?
- Será que ela sempre existiu?
E penso nas terríveis implicações que as negativas a essas respostas trariam. Um pouco de sorvete escorre dos seus lábios, e se ela não existe, muito menos o sorvete. Prefiro o mundo com ela e com o sorvete.
Ela fala e dessa vez eu entendo:
- Eu gosto de você. Percebi isso quando senti que queria morrer antes de você.
- Vou ver o que posso fazer a respeito - eu respondi e nem era uma pergunta. Logo depois a história continuou acontecendo.

Friday, May 18, 2007

Peixe Solúvel

Toco com bandas que nunca deram em nada desde os quatorze anos. Foi preciso durante um tempo. Quando eu não gostava nem um pouco do rumo que a minha vida estava levando, eu costumava pensar em mim mesmo como o cara que tocava guitarra, e isso me ajudava a me odiar menos. Coisa de adolescente que se achava rejeitado, comum, comum.
Ao longo dos anos 90, finalmente consegui começar a compor umas coisas que já não me envergonhavam tanto, e desde então, venho tocando os mesmos acordes, combinados com letras que falam dessas coisas que vivo falando aqui.
Dentro do que considero meu objetivo primordial com a música, tive êxito. Compus uma meia dúzia de trinta músicas que consigo ouvir com algum prazer, algumas letras das quais me orgulho, alguns arranjos de guitarra chupados do Johnny Marr que me deixam feliz e, mais recentemente, alguns barulhos no computador que me parecem bem "pessoais".
Nos últimos meses tenho me dedicado a gravar as canções que compus durante minha juventude até hoje. Acabei de disponibizá-las no myspace (www.myspace.com/peixesoluvel) e caso interesse a alguém, lá é possível ouvir quatro entre as várias músicas que gravei, talvez as que me divertem mais nos últimos tempos.
Diferentemente do Elva Urf, meu projeto com a Crissssssss Sssssssssss, no qual o conceito é bastante elaborado, no Peixe Solúvel eu não tenho medo do ridículo e faço o que der na telha, de baladões bregas a pura bobeira experimental. É revigorante partir da idéia de fazer simplesmente uma música "mais ou menos" e ser totalmente ditador, sem submeter o trabalho à aprovação alheia.

Thursday, May 17, 2007

Esse não é um blog cristão


Eu nem ia escrever hoje, mas os cristãos, (uma manchete de um jornal fundamentalista ameaçava numa banca hoje "Logo os cristãos serão a maioria"), realmente me deixam nervoso. Excitado. Colérico. Com vontade de vestir uma roupa de Linguarudo (essa fantasia de carnaval não é do seu tempo) e sair por aí cantando versos satânicos, mas não os do Rushdie, que ele é mala e o negócio dele é chatear muçulmanos.

Eu deixei uma piadinha ingênua lá num post do blog de um amigo e não é que uma moçoila leitora dele ficou incomodada?

Por que cristão não pode ter senso de humor? Por que eles passam a vida inteira lendo um livro só e mal? Por que eles têm tanta certeza de que estão certos (acho que nem os católicos em seu auge tinham tanta empáfia)??

Não sou cristão. Não fui batizado em nenhuma igreja. Não acredito que o mito cristão deva ser mais levado a sério que os mitos de Hércules, Ogun, Buda, Iara, Shiva ou lá o que seja. Jesus não era o Messias, pergunta aos judeus que entendem muito mais do assunto, afinal já o esperavam por um há bem mais tempo, aliás, continuam esperando.

Ninguém morreu pelos meus pecados, como quase disse Patti Smith. Não creio em pecados. Adoro a bíblia. Mas a que leio deve ser diferente dessa gente sem graça. Na que leio encontro poesia, filosofia, mistérios, literatura da boa. A Bíblia inventou o maior personagem da literatura ocidental, poxa, Deus!! (Como já dizia Bloom, que ainda insinua que os livros mosaicos foram escritos por uma mulher, se todo velho reacionário fosse assim!).

Não admito esse temor sem humor, essa essência pegajosa e interesseira da fé materialista e rasteira dos ditos evangélicos. Não temos a cura para a gripe, mal entendemos por quê uma flor brota e essa gente supõe ter a resposta para tudo no universo. Não admitem o mistério.

Estamos destruindo nosso planeta muito em parte graças a visão assassina e anti-ecológica do cristianismo que afirma que a natureza foi criada para servir ao homem, veja só. Seria impensável para a maioria das culturas pagãs avacalhar com os animais e com a natureza como os bons cristãos fazem sem pestanejar.

Em homenagem à Giselle, leitora do blog do meu amigo, vai mais uma piadinha cristã. (Fica melhor desenhada).

No alto do calvario, três cruzes. De uma, uma voz grita, "Isso dói muito". De outra, o outro grita "Isso dói demais". Da terceira, um último grito sai assim "Isso é muito bom!!!!".

Sunday, May 13, 2007

Saco quase full

São vários os posts com chapuletadas no Paul McCartney, o que deve dar a errada impressão de que odeio o cara. Muitíssimo pelo contrário. Junto ao marido de Yoko no grupo de iê-iê-iê que eles formaram nos anos 60, esse senhor simplesmente estabeleceu um cânone da música popular. Querendo ou não, ao compor uma musiquinha nos dias que se seguiram ou você está com eles ou contra eles. Os Beatles definiram para o bem e para o mal uma fórmula extremamente rentável e eficiente, basta olhar para as paradas de sucesso (supondo que ainda existam) e ver que os clichês estabelecidos pelos 4 de Liverpool ainda dão dividendos.
Parando por aqui, porque falar de Beatles acaba sendo sempre óbvio, vamos nos dedicar ao mais bochechudo dos quatro. Tem aquela galerinha indie que adora odiar o cara, repetindo para quem quiser ouvir - e ninguém quer - que o Beatle mais genial era o George. Equivocados como sempre, mesmo quando querem fazer piada esses rapazes indie não sabem de nada. Ringo era o campeão de cartas do público feminino.
Paul atravessou a década de 70 com os chatos Wings. Fez algumas belíssimas melodias, mas tb nos submeteu a sessões de tortura como "Live And Let Die" e "C Moon". Nos anos 80 então foi que ele enfiou o pé na jaca de vez, com suas parcerias com Michael Jackson jogando o que pareciam as últimas pás de cal sobre uma carreira que em muitos momentos pôde ser classificada como simplesmente genial. (O cara compôs "Helter Skelter" e "Eleanor Rigby". Tá bom isso pra você?).
Reza a lenda que os trabalhos para o caça-níqueis disfarçado "Anthology", de algum modo atiçaram a velha chama, ou coisa que o valha. Sei lá. Só sei que "Flaming Pie" trazia um McCartney novamente relevante e inspirado, determinando um padrão de qualidade que ele surpreendentemente conseguiu manter com o bom (apesar da musiquinha horrorosa dedicada às vítimas do 11/09) "Driving Rain" e o excelente "Chaos And Creation In The Backyard". Eu já até estava me pegando comprando seus cds (eu sou velho, ainda faço isso) sem pestanejar.
Eis que dá merda de novo. Esse "Memory Almost Full" é ruim, cara.
Os tecladinhos medonhos dos anos 80? Estão lá. melodias sem inspiração em letras bobocas? Po, também. "Dance Tonight" abre o cd com alguma simpatia, mas não diz absolutamente nada. O restante é tão medíocre que não vale nem a pena citar nomes. O melhor momento é mesmo o single "Ever Present Past", com uma guitarrinha de uma nota só surrupiada de "I Am A Tree" do Guided By Voices. Peraí, não era o Robert Pollard quem costumava roubar o Paul?

Friday, May 11, 2007

35 anos de folia

Amanhã, ou por que não, daqui a uma hora e 17 minutos eu completo 17 anos, quer dizer, o dobro disso e mais um ano. Fiquei receoso de teclar 35. Comprei para mim de presente o último cd do Kaiser Chiefs e um par de chinelos. Errei o número dos meus pés, acho que preciso comprar sapatos mais frequentemente. Minha mãe, minha irmã e minha sobrinha devem me visitar amanhã de tarde. Crissssssssss Sssssssssssssss não vem porque teve um caso de morte na família.
Tudo deve ser bem low profile então. Sem fogos de artifício ou gente desagradável encostando muito em mim. Bom. Realmente ficando velho. Outro dia no trem me ocorreu que se morresse amanhã, tudo bem. Isso sem morbidez ou depressão. Estous satisfeito com a vida que tive até aqui e pretendo manter tudo assim calmo e sob controle. Não tenho curiosidade por experiências que não tenha tido, acho que já conheci gente o bastante e defintivamente não tenho necessidade de aventuras.
Eu olho meus dois gatos dormindo no sofá e é impossível não sorrir. A vida é bem pior para a maioria das pessoas que conheço. Um dia acaba igual para todos.

Tuesday, May 08, 2007

Se tem uma coisa que não vai salvar a música pop de seu atual estado de marasmo por excesso de informação, certamente são 4 rapazes empunhando suas guitarras. Todos nós gostamos dos Strokes, mas não há como negar que o rock pós- Strokes é pernicioso, derivativo e reacionário. Garotos juntos (mais juntos do que deviam, com roupas mais coladas no corpo do que deviam) emulando os sons das bandas que tanto amaram em seus quartinhos de adolescente. Coisa de garoto. Coisa de garoto estranho que faz clube onde mulher não entra, e quando entra tem papel definido (canta, posa de sexy, faz pose ou performance no palco. Estou exagerando? Quantos cds dessa nova leva de bandas foi produzido por uma mulher??)
Quando tudo que os garotos querem fazer é soar como suas bandas de garotos favoritos, tudo que resta é olhar para os outros lados. Afinal até o escroto do Paulo na bíblia afirma que "não é bom que o homem fique sozinho". creio eu destacando a importância da troca entre os sexos.
Não acho que seja coincidência que a música mais inventiva feita nos dias de hoje seja feita por grupos que, ou são compostos por mulheres, ou as têm em sua formação. Nunca ouvi uma mulher dizer algo tão estúpido quanto "Essa música feita em computador não é música", ou "Eletrônica é só apertar botões". Quantas mulheres "virtuose" existem? (Tá, algumas, mas são tão poucas que nem se nota.
O assunto vai render mil posts, mas deixa eu voltar à Patti. Patricia Smith, quando surgiu nos anos 70, era mais ET ainda do que hoje. Nos nefastos anos 70 (ligeiramente mais nefastos que os 80 e os 90), com sua superpopulação de sub-Led Zeppelins, quase não se ouvia uma voz feminina no que se chamava de rock. Ainda mais com as palavras que ela tinha a dizer. Qualquer um que já tenha visto uma performance de Patti Smith (e eu praticamente perdi a do Rio - olha a contradição - porque estava dando atenção demais aos rapazes de camisetas bem justinhas do TV On The Radio!! Mea culpa!) sabe que a palavra hipnotizante se aplica. Sua banda é ruim, sempre foi ruim, nunca fez jus ao poder de sua voz e palavras, mas isso nem importa. Ela domina.
E agora um disco de covers. Chegando já à terceira idade, cada vez mais bruxa, mas com mais vitalidade do que mil Fergies de humps criados em laboratório, ela tem muito o que dizer, ainda que pelas bocas dos outros.
Apesar da força de suas composições, Patti teve covers como trunfo em sua carreira, vide suas recriações para "Gloria" de Van Morrison (que ela vira do avesso, adentrando a mente da sua protagonista, um pouco além do tesão incubado do jovem Van) e "So You Want To Be A Rock'n'Roll Star". Nesse trabalho recente só de covers, ela vai além. Ela leva a hendrixiana "Are You Experienced" para um pântano escuro. Da dignidade insuspeita ao hit oitentista "Everybody Wants To Rule The World" dos Tears For Fears (sempre gostei deles,mas por razões meio suspeitas), consegue ser relevante com clássicos como "Soul Kitchen", "White Rabbit" e "Gimme Shelter" (Doors, Jefferson Airplane e Stones, respectivamente) e, pasmem, consegue uma versão surpreendentemente dolorosa e pungente para "Smells Like Teen Spirit",de vocês sabem quem (Quem falar em Cassia Eller, leva um chute no olho!).
Tem que ter muito pra dizer para expressar tanto sem usar uma palavra própria. Faça o seguinte: depois do sensacional cd da Yoko, baixe esse. E deixe passar qualquer banda formada exclusivamente por rapazolas, quer dizer, supondo que você realmente se importe com a música.

Monday, May 07, 2007

Sim, ela é uma bruxa


Sim, ela é uma bruxa. No mesmo sentido que eram chamadas de bruxas as mulheres que eram iniciadas no conhecimento oculto (ou seja, tudo que a Igreja não queria que ninguém soubesse) na época da Inquisição. E entre os beatlemaníacos (que ainda insistem em existir, o que nos leva a pensar, por que não uma caça às bruxas contra eles?) sobram os dispostos a levá-la a primeira fogueira disponível.
Yoko Ono fez uma coisa horrível. Seu filho, Sean, desprovido de talento e chato até a morte. Mas ela também tem em seu currículo uma das ações mais importantes da música pop do século XX, ou seja, a oriental de olhar dissimulado ajudou a minar os Beatles!!! Imagine um mundo em que os Beatles não houvessem se separado. Que pesadelo! Turnês de reunião, álbuns com participação do Arctic Monkeys, shows na praia de Copacabana!!!
Pois nossa heroína pussywhipped o Beatle de óculos redondinhos e ele nunca mais foi o mesmo. Bom para ele, para ela e para todos os que entendem que as coisas andam pra frente. E tem mais, ao cunhar a frase "Imagine there's no heaven - é a frase é dela- ", influenciou John a plagiar "Femme Fatale" e ganhar muito dinheiro com "Imagine".
Sobre sua carreira musical, tenho pouco a dizer, porque sou ignorante a respeito, mas prometo que vou ouvir o que puder. Isso depois de ter ouvido o excelente "Yes I'm A Witch" lançado esse ano, no qual artistas do quilate de Peaches, Cat Power, Le Tigre, Flaming Lips e Spiritualized recriam canções do repertório de Yoko, afirmando de uma vez por todas a importância também musical da inimiga número 1 dos Beatlelados e apontando para a influência decisiva de sua obra sobre trabalhos de bandas como Sonic Youth e os B-52's (que aliás poderiam figurar entre os convidados desse cd).
Vai lá, ao invés de ficar baixando o novo do Paul McCartney (que pelo que eu ouvi é um passo atrás em relação ao excelente "Chaos And Creation In The Backyard", remetendo aos horrendos trabalhos de Paul nos anos 80), dê uma chance à bruxa.

Sunday, May 06, 2007

Errei, porra!

Moças, não tenham filhos. Mas se for inevitável, que sejam menininhas. Criemos uma nova tradição, ao contrário da China, criemos algum tabu para o nascimento de um filho homem. Olhe esse molequinho ali. O nariz dele está escorrendo, ele tem caracas no pescoço, nos pulsos, nas canelas, as unhas e as orelhas estão imundas, ele coça o saco a cada 15 segundos, ele cospe nas menininhas, ele brutaliza os garotinhos mais fracos. E ele vai crescer, crescer, vai ficar imenso e insuportável e nunca, nunca vai parar.
Sua mãe o pôs de castigo essa tarde, mas não vai adiantar. Ele não vai mudar, ele só vai ficar mais eficiente nas canalhices que pratica. Ele se divertiu demais. Foi suspenso da escola por uma semana, porque levou um rato morto na mochila. Em casa, sem ter o que fazer, pulou o muro da vizinha e amarrou bombinhas no rabo do gato da coitada. Aliás, coitado do gato, que morreu de susto.
Não foi a primeira vez. Uma vez, um dos diversos tios que apareciam em sua casa por períodos e sumiam logo, deu-lhe um cachorrinho, que durou o tempo do garoto levá-lo até o banheiro e afogá-lo na privada. A história do gato era só a mais recente e o motivo do seu castigo.
No pequeno quintal da casa, já não havia o que o garoto pudesse matar. A mãe talvez, mas ela era grande e lhe dava comida. Ela ficava para depois então.
Logo deu um jeito. Formigas. Eram muitas e seriam passatempo para a tarde inteira. Começou com a mão, uma, duas, cem. Quem dera sua mãe não tivesse trancado a garrafa de álcool e os fósforos longe dele desde aquela vez em que tentou incendiar a TV. Poderia incendiar o formigueiro, imagina?
Matar com a mão perdeu a graça. Deve ter sido esse o motivo pelo qual o homem inventou a primeira arma. Depois de um tempo, é preciso um grau de sofisticação, um requinte. O menino usou um graveto. Mas era difícil, as danadas corriam, se escondiam, ele não gostava disso. Ele preferia matar as coisas passivas, porque parecia a ele que o que não se defendia tinha mais é que morrer mesmo.
Mais uma escapuliu para dentro de um ralo.
- Errei, porra!
Outra se moveu rapidamente pela grama e seus olhos a perderam.
- Errei, porra!
Você pode passar a tarde inteira matando formigas, ou tentando matá-las, é um fato. E se escolher as formiguinhas pretas, aquelas inofensivas que nem picam nem nada, sua diversão é completamente inofensiva, pelo menos para você.
A tarde numa rua de subúrbio é hipnotizante. Os pais no trabalho, as crianças na escola, o sol rachando o asfalto, as mães definhando, os velhos morrendo, e um silêncio pesado. Não é outono, mas as folhas desabam das árvores, mas não tem vento para levá-las a lugar algum. A impressão geral é de que o universo é estático. Quente. Morto e quente, se isso é possível. Vazio e cinza. A vida só volta à noite, mas volta desdentada. Suor e sangue trazem de volta a umidade dessas ruas, mas amanhã vai tudo ser deserto de novo.
- Errei, porra! Errei, porra! Errei, porra! Errei porra!
Seria assim até a noite, mas teve um outro barulho. Enorme, monstruoso, do tipo que até o moleque respeitava. Uma freada de um veículo grande. Chegando perto. Perto mesmo. O muro de tijolos se desfez em pó, um caminhão do Ponto Frio entrou com um estrondo, continuou sua marcha através do muro, quebrou a parede da casa do moleque, pegou em cheio a mulher que lia a bíblia na mesa no meio da cozinha. Para ela agora haveria duas opções: céu ou inferno. O segundo ela já conhecia bem.
O moleque ficou olhando quieto por um instante. Depois enfiou o dedo no nariz e tirou uma meleca, que prontamente enfiou na boca. Logo uma pequena multidão começou a se aglomerar em direção a sua casa. Onde estava essa gente toda?
Dizem que de cima das nuvens, uma voz crescida, imensa e insuportável remungou entediada:
- Errei, porra!

Saturday, May 05, 2007

90's

Devia ter passado o sábado corrigindo provas, são muitas, em pilha sobre o que eu chamo de mesa de bagunça, como se isso fizesse com que a bagunça pudesse se concentrar unicamente naquele local da casa. Mas não, preferi fazer qualquer coisa que eu quisesse. Tente qualquer dia desses, é revigorante. Faça o que quiser fazer.
Foi o que fiz. Durante a manhã e tarde fiquei arranjando e gravando umas músicas que meus parceiros musicais de meus dois projetos (eu suponho que eles existam, é uma espécie prórpia de superstição) não gostam. Sem dúvida, a parte ruim de tocar com outras pessoas é ter que submeter suas idéias à aprovação alheia. Isso esbarra em opiniões, visões do mundo, estreiteza de pensamento, maluquice também. Fiquei então brincando sozinho com meus barulhos.
Quando me cansei disso, me peguei com vontade de assistir a bandas noventistas. DVDs. Engraçado que durante os anos 90 eu vivesse querendo ouvir as bandas dos anos 80, e agora tenho essa recaída noventista. Acho que estou sempre dez anos atrasado.
Hoje percebemos (quem mais percebe?), que a música pop noventista representou o fim de uma era, e, engraçado como as características dessa mudança já estavam presentes na música que se produzia naquele período. Sei lá, talvez não. Não se deve confiar nesses olhares em retrospectiva.
Eu pretendia ser mais específico e falar de algumas bandas em especial, dos shows que assisti, etc., mas em algum momento eu perdi o rumo. Agora já não estou falando de nada de novo, estou jogando as palavras ao acaso.
A moral da história é esse é um blog confuso, mas "do what you will, this world's fiction". Blake.

Thursday, May 03, 2007

Morra morra morra morra. Tá morro.

- Já reparou como ninguém mais visita teu blog?
- Eu não diria isso. O Urso visita,a Crissssssss Sssssssssssss visita...
- Amigas de longa data não contam. Elas fazem por pena. è nítido que teu barco tá fundando, cara.
- Exagero. É normal que as coisas fiquem assim mesmo depois do boom da novidade...
- Bunda novidade?
- Você me entendeu. No começo as pessoas ficavam curiosas pra ver que tipo de merda você estava escrevendo. Depois que elas descobriram que você é um velho chato que vive reclamando de tudo, é óbvio que o saco delas estourou.
- Sai pra lá. Não estou nem um pouco preocupado com o saco de quem lê meus textos aqui. Aliás, confesso quer até prefiro que nem tenham saco.
- Mas tá difícil...daquele texto dos tomates pra frente só teve merda. Acho que você perdeu sua veia...
-Quem perde a veia é enfermeiro nervoso. Vá fazer a barba, seu ridículo. Você acha que deixando a barba crescer alguém vai te respeitar?
- Eu deixo a barba crescer porque é a única coisa que um homem pode fazer hoje em dia que uma mulher não faça melhor.
- Ah tá. Steinbeck escreveu isso e nem foi num livro tão legal!
- Antes plagiar textos bons que escrever textos ruins.
- Essa doeu.

Wednesday, May 02, 2007

Considerações

Vamos lá, não escrevo há quase um mês por pura falta de assunto. Para quebrar o silêncio lá vai um post bem "blog", ou seja, pessoal, mal-escrito e irrelevante. Estava eu em minha poltrona e o telefone toca, é Crisssssss Sssssssssss, dizendo que eu deveria ligar a TV no canal 2 para alimentar um pouco meu ódio.
Martha V. Uma tal com uma blusa do Radiohead toca lá uma música que, como sua t-shirt já indicava, tem alguns clichês do que se convencionou chamar de som da banda de Oxford (eu do meu lado tenho minhas dúvidas de que o Radiohead tenha de fato, criado um som particular. Sempre achei que eles faziam um amálgama de várias coisas boas do rock inglês, mesmo depois da suposta guinada absurda pós-Kid A). Até aí, nada mal. Uma banda nacional que ao menos copia algo de interessante já é alguma coisa. (Outros parênteses: o Moptop DEVE apodrecer na câmara mais profunda e tenebrosa do inferno!). Aí veio o refrão.
"Não quero ir, não vou ficar. Eu quero é amar". Ceará, meu gatinho, cujo único defeito é gostar do Raconteurs, vomitou na mesma hora uma gosma amarela no chão de ladrilhos. Porra, cara. Nem uma banda de pagode mandaria tão mal, peraí, uma banda de pagode paulista talvez mandasse sim.
A questão é: tem uma ala imbecil de admiradores da música que tende a super-valorizar a letra em detrimento da música, contudo não é disso que estou falando. É óbvio que música é música, ou seja, em se tratando dela, os aspectos musicais devem ser considerados como vitais, e os demais apenas acessórios. Mas tenhamos bom senso. Não quero ir, não vou ficar? Eu quero é amar? Porra, nenhuma música sobrevive a isso.
É possível sim, uma música boa ter uma letra mais ou menos. Mas com uma merda dessas, nem caixa de areia dá jeito. Vou pegar uns capnzinhos para o Ceará mastigar, seu pequeno estômago de gato não merece isso.
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