Friday, December 29, 2006

Saco De Mentiras Cap. 5

Ela não estava nem um pouco disposta a sair e deixou isso bem claro.
Ele achou que talvez existisse um motivo para ela preferir ficar em casa.
Ela achou que ele merecia um carinho por não ter insisitido em sair. (Isso e sua consciência que doía um pouco por causa do rapaz paulista)
Ele sentiu-a mais próxima, achou que ela queria carinho, isto é, sexo. Não estava particularmente interessado naquela noite, queria estar na sua cama, sozinho, dormindo um sono sem sonhos, mas...
Ela achou entender as investidas dele e as encorajou, não custava nada.
Ele foi em frente, como uma guimba de cigarro jogada do décimo terceiro-andar, ela queria, pensou.
A noite continuou. Só não venha me dizer que foi amor, Clarice.

Saco de Mentiras, cap. 4

A garota que namoro estava a alguns palmos sob a terra. Eu disse antes que o nome dela era Sandra, mas, de certa forma foi uma mentira. É tão difícil dizer qualquer coisa, não? Talvez seja só comigo, então. Essa mulher me dava a impressão de ser milhares e é isso que estou tentando dizer. Ou então tenho vergonha e medo do nome real dela. Você pode dar um nome a um gato, mas não quer dizer que ele tealmente tenha aquele nome. Eu queria dar alguma coisa a ela e estou dando vários nomes. Esses nomes não têm muito significado, são aleatórios. Ela vai ter uma centena de nomes, mas só 1 rosto, 2 seios, 20 dedos, incontáveis fios de cabelo. Essa promessa vou tentar não quebrar.
A garota que namoro estava a alguns palmos sob a terra, dentro de um vagão de metrô, sentada junto à janela, pensando que seria uma excelente idéia se pintassem desenhos coloridos nas paredes das galerias subterrâneas. Certamente as viagens seriam menos tediosas. Mas quem disse que querem nossas vidas menos tediosas? Quem disse que queremos nossas vidas menos tediosas? A resposta dá medo, a gente volta à minha namorada. Enquanto seus projetos de melhorias nos transportes urbanos não se concretizavam, ela fazia o que sempre fazia quando andava de metrô: pensava na morte.
Não, Clarice não era em absoluto uma mulher mórbida. Esses pensamentos só lhe vinham à cabeça quando estava debaixo da terra. As caveirinhas desenhadas nos avisos das paredes, alertando sobre o perigo dos trilhos energizados, também colaboravam. Na mente dela o fedor da morte se assemelhava ao da mistura nojenta dos diversos perfumes e cheiros da multidão de passageiros fechados no vagão com ela.
Ao lado dela um velho de um olho só, engravatado e com uma mala no colo, que ela tentava ignorar. Não conseguia, porque o velho não tirava seu único olho dos seios dela. Parte dela sentia-se satisfeita em provocar olhares desse tipo, mas a outra metade, a que falava mais alto hoje, se indignava. Quem dera a próxima estação fosse no Inferno!
Não era. Uma voz abafada disse algo que ela não entendeu pelo sistema de som do vagão, mas ela logo percebeu que era a estação onde devia saltar, São Francisco Xavier. Levantou-se e dirigiu-se à porta, não sem notar que o velho de um olho só já não olhava para os seus seios, mas sim para as suas nádegas. Teve vontade de xingar o velho, mas pensou com desprezo que homem é assim mesmo. Mesmo os de um olho só.
Clarice sentiu que seu humor melhorava ao subir os degraus em direção à superfície. Lá em cima o sol derretia a cidade. Ela saiu da estação, driblando camelôs, na direção da entrada da igreja de São Francisco Xavier, mas, mal deu dez passos, foi cercada por um homem sorridente, de 1,80m aproximadamente, caucasiano, com rodelas de suor na camisa junto às axilas, e óculos escuros na testa para disfarçar a calvície que se iniciava. Ele trazia um buquê de crisântemos na mão direita e um sorriso pegajoso. Clarice sorriu de volta e pôs os braços ao redor do pescoço dele, beijando em seguida o homem que não era eu numa tarde de sexta-feira.

Até a saída da estação os fatos me chegaram através da boca da própria Clarice. O resto quem me contou foi Félix, amigo meu de infância, que passava por ali saindo do trabalho. Ou passava por ali indo à zona de meretrício localizada na Praça da Bandeira. Eu já desconfiava que Clarice me traía, um corno sempre sabe. Quando meu amigo me contou, espumei de cólera, jurei acabar com ela, mas não sei por quê. Não era isso o que eu realmente sentia, não havia quase nada mais. Por que fingir? Por que eu achava que essa era a reação-padrão de um homem traído? Pela vocação para o drama que corria no sangue da minha família? Quanta mentira, sem necessidade. Eu minto tanto, igualzinho a vocês. Carreguemos nas costas nossos sacos de mentira estrada afora.

Thursday, December 28, 2006

O Mundo Sem James Brown

Não quis escrever no dia em que o cara morreu porque seria óbvio e também porque gosto de escrever sobre as coisas um tempo depois de elas terem acontecido, para digerí-las melhor. Não vou chover no molhado, como já fiz com o Pet Sounds e o Astral Weeks. Vou falar só de um momento de Lost Someone do Live At The Apollo.
Em algum lugar da longuíssima e lindíssima música acima citada ele grita ou canta para a platéia que queria ouvir um Awwwwwww. A platéia, nitidamente cheia de fêmeas alucinadas pelo negão, que no palco talvez fosse insuperável, grita em resposta "AHHHHHHHHHH". Ele, meio puto, meio sedutor, responde que não quer um ahhhhhhhhhh, ele quer um awwwwwwwwwwwww. Elas, é claro, obedecem.
...

Wednesday, December 27, 2006

Saco De Mentiras Cap. 3

- Interrompendo uma discussãozinha familiar? - disse ele. Ainda bem que ele disse. Não era um inseto, era meu amigo Maximiliano. Nome grande e pesado, que ele carregava dobrado em Max. Max tinha olhos azuis surpreendentes, e tudo que fazia era com os olhos. Sorria, gritava, assoviava, contava piadas, cuspia nas pessoas com eles. Max era insuportável. Era meu melhor amigo.
- Que porra de roupa de viado é essa, moleque? - cumprimentou-o meu pai. Max usava calças e jaqueta de couro pretas.
- É um look Elvis no comeback de '68.
Meu pai não ouviu ou fingiu que não. Disse olhando fundo nos meus olhos, que aos seus olhos pareciam dentes cariados.
- Andando com tipos como esse tu nunca vai ser homem! - e saiu em direção ao banheiro.
Max me atirou seus olhos azuis até uma distância segura e pegou-os de volta, antes dizendo:
- Seu pai deveria beber.
- Por que Max?
- Pô, ele tem jeito de bêbado, cara de bêbado, fala como um bêbado. Agir assim sóbrio parece irreal.
- Meu pai não existe.
Não existia, mas passou, fantasma, na direção da cozinha. Max foi atrás.
- O senhor já leu Bukowski, seu...
- Literatura é coisa de viado! - respondeu meu pai sem se virar.
- Acho que ele concordaria com o senhor - e virando para mim com uma piscadela, não disse, os olhos de novo - eu adoro seu pai. A gente devia casar ele com a minha mãe.
- Falando nisso, como vai a sua mãe?
- Quando saí de casa ela estava dando a vomitada matinal. E dizendo "Ontem ele voltou, era ele de novo ontem". Vomitava, falava e vomitava de novo. Não era bonito de se ver não.
- Sua mãe devia parar de beber.
- E seu pai devia ficar de bom-humor.
Dito isto, caímos os dois na gargalhada. Eu rindo com a boca, ele com os olhos, claro.


Ninguém mais lê esse blog mas eu vou continuar com essa história boba.

Você verá isso não importa para onde olhe

Mais do que na saída das clínicas de aborto, é nos supermercados, entre produtos de embalagens coloridas que você vai encontrar as mulheres mais bonitas da cidade. Talvez até do mundo, mas eu não conheço porra nenhuma, então não me arrisco a ter esse ar cosmopolita.
A vida real guarda algumas particularidades que ainda a afazem superar esse simulacro virtual em que as pessoas têm excelente gosto musical, são extremamente descoladas, divertem-se imensamente em viagens para a Região dos Lagos e fodem satisfatoriamente no ritmo dos coelhos.
Tem alguém que não pareça ligeiramente estúpido refletido pela tela de um computador?
Tenho que voltar às mulheres, (estou falando muito disso?Eu sempre falei muito disso), porque senão acabo falando de tesouras ou de música. Quando digo mulher, na verdade quero dizer um monte de coisas. Normalmente estou falando de beleza, objetos de desejo, afeição, essas coisas. As lindíssimas mulheres nos supermercados, tão belas por causa da ruína que trazem consigo. Acho que estou sozinho nessa admiração. Comer pêssegos em calda numa manhã de quarta numa casa absolutamente silenciosa é um milhão de vezes mais atraente do que conversar com mulheres digitais que tentam te convencer que tem uma vida sexual agitadíssima e que adoram sexo anal e beber esperma. Os pêssegos nunca mentem. Eles até apodrecem, mas jamais mentem. Foi um momento de liberação equivalente a encontrar Jesus na fila do bebedouro, quando na minha tenra (eu queria muito usar essa palavra) infância descobri que as pessoas mentem muito sobre suas vidas afetivas e sexuais. Meus amiguinhos não pegavam garotinhas incríveis na casa de suas tias e avós, era mentira. OK.
Nos supermercados cercadas de filhotes e/ou maridos entediados de cara enfezada, minhas rainhas destronadas exalam impotência, frustração, desespero, mas ainda são belas porque são reais. Porque a beleza precisa de um pouco de tragédia. Cansadas, suadas e com os cabelos fora de corte, elas estão próximas do que o ser humano realmente é, distante um universo do ideal antisséptico idealizado por nossas fêmeas. Eu estou terrivelmente cansado desse ideal antisséptico. O ideal antisséptico é mentira.
Vamos lá princesas existam, sofram, não sejam princesas, leiam as mensagens nas rugas na testa, entendam que sexo é uma experiência em essência táctil, não visual. Parecer ainda é melhor que sentir? Nesse momento, já não tenho mais certeza do que estou falando. Melhor parar.
A quem se deu ao trabalho de ler até aqui,minha sugestão é: ouça mais música de olhos fechados. E caso se sinta suficientemente excitado/a faça sexo também de olhos fechados. E caso isso não faça sentido para você, pule debaixo de um trem em movimento de olhos fechados.

Monday, December 25, 2006

Coração Do Patriota

Letra boa é isso.

Coração Do Patriota

Se você quer ver algo patriótico, tem um stripper
Ele não é muito bonito não, mas tem um sorriso tipicamente americano
que enche suas cuecas com todos os dólares solitários
de todos os homens solitários que ninguém mais atura
que esperam nesse bar e gastam todas as suas horas solitárias
eles já estão acabados, ninguém procura por abrigo
quanto mais longe você vai, mais tem que se esconder na escuridão
branco como o verme que rasteja no coração do patriota

É tão vermelho, branco e azul o jeito com que ele roda pelo bar
vendendo seus abraços, como se fosse o Presidente, ou uma estrela caída
ele não liga, baby, se você é eloquente ou sábio
ele só está procurando por homens com o pecado nos olhos
e ele sempre diz a mesma coisa, ele diz
"E aí, como vai baby? Sou seu garanhão, e tudo mais
e por uns trocados vc pode me tocar.
E após umas tequilas eu me transformo em algo sagrado
E esse bar de merda com esses espelhos suados
E seu teto mofado ficam mais cheios de amor
Sim, além da seleção natural. E dólar por dólar, babe,
é uma barganha melhor. Quanto mais vocês pagarem,
mais eu posso quebrá-los todos em pedaços. "
E chovem dólares como cinzas do coração do patriota.

Agora, ele sabe que a diversão deles o mata,
mas pensar em envelhecer, não, isso não o excita
Ele diz "Me dêem todo o seu dinheiro e não me digam o que vocês estão pensando
Eu sou o passado que vocês desperdiçaram, sou o futuro que vocês obliteram"
Oh, vamos lá, vovô. Lembre-me o que comemoramos
O seu coração que finalmente secou ou o fato de ele ter parado de bater enfim?
E como fazer um homem morto gozar?
Você aprende a arte funerária e faz com que eles brilhem
Como o álcool que preserva o coração do patriota.

Nós todos queremos um coração patriota
Dê pra gente um coração patriota

Você pode vê-lo desaparecendo com a aurora numa pilha de washingtons
Sua cabeça gira, ele está feliz por desmaiar de novo
Ele preferiria se desvanecer na estática do que ouvir os violinos
que uivam como velhos amantes que uivam que o amam
Ele preferiria rir sozinho no escuro com as macias mãos do paraíso
pois o deixam sozinho com seu sistema de diversão
Ele faz isso pelo dinheiro, mas dá mais do que recebe
Ele faz isso pelo dinheiro, mas dá mais do que recebe
E só quando ele está nu é que sente seu coração
No puteiro abandonado pelo coração do patriota

Todos queremos um coração patriota
Todos queremos um coração patriota

American Music Club

Enquete

Hein cat? Caros leitores. Quero saber quem são vocês e só há um jeito gostoso de fazer isso. Sejam bonzinhos e respondam a enquete. Quais foram os 3 primeiros discos da sua vida? (Não vale mentir, tipo, 'Ah foi o Construção do Chico Buarque, o Closer do Joy Division e o primeiro do Velvet. Mentir aqui só eu; sejamos sinceros, pelo menos dessa vez. Saiam da porra da sombra, desocupados!!!!)

Esse post pode chamar "Os Pais São Foda"

Continuando a exposição inútil e ególatra de minhas experiências passadas, presentes, futuras e inventadas, que eu sou um mentiroso do caralho. Meus pais, com a consciência pesada apor terem indiretamente assassinado meu primeiro e único bichinho de estimação até então,(viadinho é a puta que te pariu!! É importante para um homem aprender desde pequeno a sentir afeto por coisas frágeis, senão corre o sério risco de ele crescer um babaca que só respeita a força bruta. E acho que ter um animal de estimação é uma boa forma de estimular isso. E foda-se também. Quem não gosta de gatos é imbecil.) decidiram diminuir a minha tristeza me dando uns disquinhos de presente.
Na época eu saía da fase em que achava música um saco, algo que os adultos faziam e inexplicavelmente se divertiam tanto. Estava começando a pegar gosto pela coisa. Ouvia uns discos (vinil. Sou velho) da minha irmã, soul music setentista, e alguns da minha mãe também. Até meu pai tinha discos, e normalmente havia muita música no ambiente da minha velha casa.
Meu pai, provavelmente pressionado pela minha mãe, provavelmente perturbada com o jeito cabisbaixo daquele filho dela, me levou até uma loja, Moto Discos, em Madureira, bairro que funcionava como centro comercial de quase toda a zona oeste naquele paradisíaco período pré-shopping centers. As paredes da loja de discos eram cobertas de disquinhos de vinil, os singles, chamados de compactos na época, e meu pai disse que eu podia escolher três.
Olha a bizarrice das minhas escolhas, que refletia talvez a programação radiofônica da época. Rockwell com "Somebody's Watching Me", um hit oitentista hoje completamente esquecido, com participação do child lover Michael Jackson. Van Halen com "Jump", que vergonha meu Deus!. Completando o pacote vinha o Yes (!!!!!!!! Acho que perder minha gatinha decididamente danificou a minha mente) com "Owner Of A Lonely Heart", hit vagabundo da banda já em franca decadência, famoso por ser uma das músicas pioneiras no uso de sampler.
Hoje não possuo mais nenhum dos três, amigos filhos da puta se encarregaram de tirar esse peso da minha coleção. Muitos discos vieram depois, de vinil, digitais e até esse tipo de música estranha e intangível que são os arquivos digitais. Animais de estimação voltaram ao meu universo, esse ano para surpresa de alguns amigos. Aliás, VOCÊS NÃO ME CONHECEM, tá?
Acabou.

Não faço a menor idéia do título desse post

Cave no quintal da sua casa/Não pare até encontrar/O cadáver escondido/Que toda família tem. São os versos inicias de uma velha canção da minha juventude, que quem sabe seja gravada por algum dos meus exigentes parceiros musicais. Tem refrão e tudo, com ááááá, mas tudo que eu queria dizer nessa música está presente nesses primeiros versos. O acontecido hoje só confirma minha sensação. Numa conversa casual e descompromissada, minha mãe revelou que meu primeiro animal de estimação, que eu julgava ter desaparecido depois de jogada (era uma gata rajadinha, chamada Gatinha mesmo, porque ass tentativas de nomes não foram nada bem-sucedidas. Um dia volto a esse assunto dos gatos e seus verdadeiros nomes) fora no quintal de uma fábrica de móveis, na verdade morreu atropelada, possivelmente na mesma noite em que foi jogada fora, animal inexperiente da verdade das ruas (eita) que era. Parece que meu pai preferiu omitir a informação.
Sempre é bom lembrar que esse incidente da perda da gatinha (que foi jogada fora por minha mãe, pura e simplesmente porque entrou no cio(!!)) acabou me levando ao rock and roll, porque para aplacar a consciência deles, meus pais compraram vários disquinhos para mim na época. Isso foi lá por 1983, leitores, vcs se eram nascidos eram bebês. E eu já sofro, coitadinho, desde aquela época. Vou voltar a isso depois.

Saturday, December 23, 2006

Saco De Mentiras Cap. 2

- Cadê tuas chaves, rapaz?
- Acho que deixei no escritório... - respondi.
- Hmpf!! - suspirou o velho, do jeito que me fazia querer morrer na adolescência. Erao jeito especial dele de demonstrar desprezo pelas faltas, limitações e deslizes de seus semelhantes, um desprezo tão imenso que nem se utilizava de uma palavra inteligível para se expressar, saía como um rosnado repleto de consoantes. Mas quando se tem 25 anos e ainda se está vivo, é necessário muito mais do que o desprezo paterno para nos derrubar. A gente se acostuma, quase gosta. Só mais uma diversão diária, como olhar para a cara de múmia do velho, ou vê-lo tirando a dentadura à noite e colocá-la num copo com água. Olhar para ele e ver a mim mesmo um dia, se acostumando.
Ele voltou à sua cadeira de frente para a TV e pegou o violão no colo, com uma delicadeza insuspeita. Não assistia as imagens do modo convencional, preferia o volume no "mute", enquanto acariciava as cordas do violão. Eu fui até o banheiro urinar. Alguma coisa na TV deve ter acendido o velho, ou talvez sua própria mente começasse a ter pequenos curto-circuitos, porque ouvi sua voz de lá.
- Deus...que?
- Falou alguma coisa, pai? - disse minha cabeça à porta.
- Pedir a Deus pra que porra? Pra que?
Voltei pra sala para tentar entender.
- Quê que o senhor tá falando?
O velho me olhou nos olhos.
- Você acha que Deus atende aos pedidos que a gente faz?
Soltei um sorriso cansado, meio doente.
- Como assim?
O velho exercia um poder inegável sobre mim. Na frente dele eu sempre bancava o idiota, e ele fazia questão de perceber isso e gozar com a situação.
- Imagina dois caras. Os dois...um tão crente quanto o outro...vivendo para a igreja, essas coisas...e imagina que um deles pede a Deus que no dia seguinte faça sol porque...sei lá por quê, ele quer levar o pessoal dele pra praia, algo assim. E que o outro, com a mesma fé, tão crente quanto, peça a Deus ao mesmo tempo que no dia seguinte chova porque...ah não interessa o motivo, vai saber o que se passa na cabeça dessa corja!
- Sei...
- A qual dos dois tu acha que Deus atenderia?
- Boa pergunta. Sei lá, pai. Acho que Deus pensaria em algo.
- 'Cê diz pensar numa maneira de enrolar os dois trouxas?
- Não, pai. Acho que ele ia tentar, tipo, achar um meio de agradar aos dois, pô, afinal ele é Deus!
- Mas tu não sabe nada de nada mesmo hein? Se eu te disse que não tem como agradar aos dois, um quer uma coisa, o outro outra! E a fé é a mesma, caramba! Como é que Deus sai dessa, me diz?
Pensei em dizer que poderia chover durante uma parte do dia, depois fazer sol, ou vice-versa, ou ainda que eles poderiam morar distantes um do outro, isso não ficara claro na história, mas sabia que o velho não queria que seu enigma tivesse resposta. Mesmo os velhos sábios se divertem criando enigmas inúteis para embaralhar as jovens mentes que invejam, imagina meu pai que era um estúpido! É dever do filho matar o pai, de outro jeito a natureza se ofende. Não disse nada, assumi o papel do derrotado. Ou então disse isso:
- É, acho que não tem solução...
- Burro! Tem sim. Sabe o quê que Deus faz? Ele ignora os pedidos, só isso - disse meu pai alterado - , ele não tá nem aí pras orações, promessas, essas bobajadas todas! Hmpf...Deus...E pensar que a tua mãe passou a vida toda pedindo desculpas, implorando, rezando na hora de dormir, de comer, acordar, pra ganhar o quê?
Mais uma pergunta que não pedia resposta, mais até do que a outra. Continuou:
- Pra morrer em cima de uma cama com as tripas podres, de crucifixo na mão...Coitada...Tua mãe era boa, moleque, a melhor que eu conheci!
O velho andou até a janela, era seu discurso para o mundo.
- Veja só como é que a gente, homem, é estrúpido. A gebnte procura sem descansar por uma mulher que seja especial, diferente, que ame a gente...
Eu não procurava por nada parecido. Era só o velho falando e eu ouvia, calado mas discordando em silêncio que é mais seguro. Continuou ele:
-... e só a gente, e que fique com a gente até o fim, e quando encontramos uma, fazemos o que?Casamos com ela, despejamos nela, em mais ninguém, toda a nossa imundície.
- Que isso pai?
- É. Se eu pudesse voltar no tempo, a última coisa que eu ia fazer ia ser casar com a tua mãe. Ia sim amar ela bastante, que isso ela merecia! Mas pra quê casar? Pra quê obrigar ela a suportar a minha nojeira? Foi isso que matou ela! Ah, eu não fui direito com a sua mãe, sabia?
- Não pai, isso não...
- Hmpf...'Cê não sabe de nada! Cadê a tua mulher? Você não conheceu tua mãe como eu conheci! Aqueles coxões, aqueles peitos enormes e duros! Depois que ela te teve, nunca mais foi a mesma, engordou e não parou mais, coitada!
Eu tinha esquecido, a culpa era minha também. O ar ficou quase irrespirável, eu com a minha culpa de ter estragado minha mãe, meu pai com seu remorso de ter envenenado as entranhas dela. Dois miseráveis. Dois homens sem mulher. Mas foi rápido como o fim do mundo costuma ser, segundos...Logo não havia dor na sala, só uma sensação marron esquisita, um sentimento para o qual não inventaram palavra correspondente, ou talvez um inseto tão feio e mau que a natureza tenha querido abortar, estivesse agora cortejando a lâmpada, depois de ter entrado pela janela, sentindo o fedor de seus iguais...

Natal Sobre A Terra

Chove e Papai Noel vai se molhar para caralho. Tentaram me convencer que ele não existia, mas eu não sou trouxa. Na verdade, leitores, ele só ignora alguns. Bem, não quero parecer que estou tristinho. Até porque não estou. Não sou cristão e fui batizado numa religião afro-brasileira. Jesus nasceu em Março. Mas, no duro, acho que seria mais proveitoso para a raça humana se todos tirassem um dia do ano para serem egoístas, estúpidos, brutais e pretensiosos, e no resto do ano confraternizassem, e pendurassem luzinhas colordas em suas casas. Oh, meu velho coração romântico. E ainda que fosse um distribuidor de pronografia ilegal no vale da morte, ou na Baixada Fluminense, eu não me entregaria fácil.
Meu presente de mau velhinho para vocês: um auto natalino.
"Ela era uma senhora de boníssimo coração, sempre disposta a ajudar quem precisasse, sempre com um sorriso no rosto. A idade avançada não havia lhe roubado a agilidade mental, nem tomado seu coração com amargura. Todos na rua em que morava a chamavam de Vovó e todos se sentiam mesmo meio netos dela. Ela foi encontrada com uma tesoura enfiada no olho esquerdo, mas não foi na noite de natal não.
O gatinho mais bonito da ninhada foi adotado por Joaninha, uma doce menininha esperta de 7 anos. Um vizinho filho da puta colocou veneno na comida dele e ela nunca conseguiu dar um nome a ele, o que prejudicou sensivelmente a minha história.
Ricardo e Virgínia eram como metades de uma laranja estúpida. Os mesmos gostos, a mesma altura, os mesmos objetivos na vida. Perfeitos, feitos um para outro como num clichê de filme hollywoodiano. Só que, a despeito de viverem na mesma cidade e frequentarem os mesmos lugares, eles nunca se encontraram.
Acho que vocês já entenderam."
A propósito, evil will prevail, people ain't no good and tra la la happy days.

Thursday, December 21, 2006

Ah, o verão

Ah o verão. Os termômetros marcando 43 graus na sombra. O suor escorrendo pelas costas. As mulheres mais e mais neuróticas com seu peso, seus pelos e sua pele. Rio 40 graus só para quem está a 10 minutos da praia. Rio 40 graus só para quem sai do quarto com ar-condicionado e vai para a sala com ar-condicionado, entra no elevador com...vc já entendeu a idéia.
Antes que me chamem de indie ou gótico, devo lembrar que a despeito das coleções do pavement e do cure, sou velho e morador da Baixada, o que diminiu sensivelmente minhas credenciais indie. Nada contra o céu azul e as mulheres com pouca roupa. Tudo contra o calor absurdo e a cidade super-populada.
Então amiguinhos, não esqueçam. Nada de drogas, música alta, sexo desenfreado e todos esses excessos da juventude. Eu nunca fiz nada disso e talvez isso me desse a terrível sensação de que minha vida tem sido uma piada sem graça. Não faço a mínima idéia do que eu estou falando. No mais, o de sempre, mantenham suas filhas longe de Leandro Ravaglia e Rodrigo Sabatinelli. Ah, e os adolescentes deviam usar burkas até a idade adulta. Baby com toda essa maquiagem vc parece uma menina que encontrou pela primeira vez o estojo de maquiagem da mãe. E os caras que se preocupam com a celulite das meninas querem mesmo é um pênis ereto. APRENDAM COM OS GATOS, seres ignóbeis (vcs, leitores amigos, não são ignóbeis). Saiam da frente do computador, vão lá fora encontrar gente de verdade, o que causa pelo menos amor e ódio DE VERDADE. Estou indo de encontro a...

Wednesday, December 20, 2006

Sabedoria Popular

Por isso que nunca quero me mudar da Baixada Fluminense.
Inscrição na estação ferroviária de Mesquita: "A maconha não mata. A policia é que mata."
Papo numa birosca da rua Mena Barreto, próximo ao cenbtro de Nilópolis: "Bom para dor de dente é dar uma cheirada, cara!"
Tudo isso ao som de um funk, cujo refrão diz: "Mama me olhano!Mama me olhano!"

Tuesday, December 19, 2006

Saco De Mentiras, cap. 1

Voltando do emprego entre rostos de cera apertados no coletivo. Todos os olhos sem foco, vivendo pequenas mortes como animais em gaiolas, estes homens e estas mulheres estão indo para casa. Não me arrisco a olhá-los de frente, no Rio de Janeiro do ano de 1997 é muito perigoso olhar um estranho nos olhos. Aproveito os reflexos nos vidros, que comumente não reagem, se quero estudá-los. No que essa gente pensa, não sei. Mas sei no que eu penso.
Queria ter uma mulher gorda. Pernas e braços grossos, seios grandes e colo macio. Até hoje só tive mulheres magras, porque morro de medo, e o medo é a medida. Os homens sensatos como eu temem as mulheres por elas serem mulheres, e as gordas parecem duas, três vezes mais mulheres. Uma gota de suor escorre pelas minhas costas suadas e eu estou pensando em mulheres.
Um corpo gordo como o de minha mãe. Se ela ainda estivesse viva, eu daria um braço apertado nela quando chegasse em casa. Nada, sei que só vou encontrar meu velho pai no apartamento de janelas e portas cerradas o tempo todo - "a poeira estraga tudo" - a dedilhar seu violão ancião.
Os homens de minha família sobrevivem às mulheres, vem sendo assim há gerações, fácil. Basta sentar-se num lugar confortável, de preferência com um falso olhar compreensivo, e observá-las definhar. Sempre funciona. Tenho usado essa técnica com Sandra há dois longos anos. Da última vez ela jogou café fervendo para todos os lados e eu me senti honrado por estar preservando a tradição da família.
Chegando em casa, no corredor um homem sem uma das mãos - a esquerda, ainda bem para ele, pensei, se ele não for canhoto, é claro - me deu boa-noite sem nem mesmo olhar para mim, mecanicamente. Ele queria mais é que eu me fodesse. Ao dar de cara com a porta trancada, me toquei de que havia esquecido minhas chaves na gaveta de minha mesa no escritório. Depois de sete toques na campainha, meu pai veio atender.

Obrigados

Não sei se se faz isso num blog, mas gostaria de agradecer a todos os que sinceramente tem comentado neste recém-nascido blog e me enchido de satisfação. Mesmo o Sr. Ervilio, um velho impotente beatlemaníaco sexagenário, tem servido de inspiração para minha preguiçosa pena. Não acha que haja mais espaço para a literatura nos dias de hj. I really feel sometimes "we ain't got a hope in hell". Sei lá por que continuar. Vou abrir o jogo e publicar aqui o romance no qual venho trabalhando (trabalhando? Não me faça rir) há quase 10 anos, desde os dias nefastos da faculdade. Gostaria que aqueles que tem se dado ao trabalho de ler meus textos aqui se pronunciassem sobre mais esse monte de palavras. Não sei se devo continuar. O que vocês acham? Leiam o primeiro capítulo.

Monday, December 18, 2006

Não Dia De Chuva

Não dava para ver direito porque chovia e eu sou míope e tirara os óculos. Não dava para ver direito porque isso é uma excelente desculpa para as mais comuns atrocidades. Eu a deixei, linda como sempre, esparramada na cama com uma faca no coração. Foi por isso que escolhi um quarto de cortinas vermelhas, mas só agora que já não vejo quase é que percebo o que eu já planejava antes.
Não há nada o que fazer com o ser amado que não isso. Não é uma escolha terrível, juro. Parar o coração antes que o tremor e o êxtase se transfigurem em farsa. Se eu estivesse errado não choveria assim.
Não fiz nada disso. Não foi daquele jeito que aconteceu. Eu disse a ela, vá procurar um homem saudável, você não vê que eu estou partido ao meio, eu não saberia o que fazer com teu belo corpo de mulher, eu não saberia o que fazer com teu belo corpo de mulher, eu não saberia o que fazer com teu belo corpo de mulher. Eu te dou esse camelo. Esse bote. Esse guarda-chuvas. Você é uma mulher linda e o caminho se abrirá sob seus pés, qualquer que seja. Só aí a matei.
Não é verdade isso tampouco. Se você quer verdade, está procurando no lugar errado. Isso aqui é mentira, se eu parar de escrever a história ela acaba aqui, quer ver? Estamos conversados então, dispa-se, dispa-se dessa tola busca por verossimilhança, solte esses malditos cabelos e sigamos juntos. Será como um beijo, mas sem o beijo. Então eu a gerei, não, mil vezes não, isso não é o Genesis, aquele livro pervertido em que homens dão a luz. Isso é inútil. É como o sol cortejando a lua, isso é uma merda. Odeio fazer isso ao teu lindo seio esquerdo amor.
"Semeai", disse o gafanhoto.
Nada pior que uma vida terrível num mundo maravilhoso.

Sunday, December 17, 2006

Melhores de 2006

É chegada a hora. Diante da melancólica possibilidade de passar a noite de natal sozinho, só me resta a entrega plena à existência nerd. Vamos às listas. Eu preferia fazer a lista de mulheres interessantes que conheci esse ano, mas deixa pra lá. Vou falar de música mesmo que já estou ficando deprê.
Melhores de ano, só internacionais, claro. A música nacional continua estagnada e de água parada se espera veneno, como disse meu dentista, William Blake. Gostaria de convidá-lo, ó visitante amado desse blog, a contribuir com sua lista de melhores do ano. E se sentir que está meio difícil, tudo bem, o ano não precisa ser esse, tipo, 1967 foi um belíssimo ano para a música não?
Vamo lá:
1. "She Wants Revenge" - She Wants Revenge. Eles são feios. Eles são um casal. Eles soam sub-Interpol. Mas, parafraseando a sabedoria funk, quando toca, ninguém fica parado aqui em casa. Tudo bem, eu moro sozinho, mas... Alguém falou em Depeche Mode encontra Joy Division, mas se esse encontro acontecesse não seria bom não. Só perde ponto por ter posto uma magrela na capa do cd, quando todo mundo sabe que mulher não é isso não.
2. "Return To The Cookie Mountain" - TV On The Radio. Só gay até agora. Acho que esse blog devia virar um blog gay. Não, acho que não, de gay já bastam todos os sites e blogs "indie". Apesar do show medíocre do TIM, em estúdio os caras assustam com aquela mistura de gospel, punk, eletrônico e não sei mais o quê.
3. "Grab That Gun" - The Organ. Esse é de 2006? Sei lá, uma pesquisa rápida na net me disse que sim. E tome gay. aqui, só meninas que assistiram "L Word" demais. Mas tiram onda. Em momentos soa como Smiths, na verdade soa como Pretenders, mas eu não posso dizer aqui, sob pena de ferir os coraçõezinhos sensíveis dos louquinhos pelo Morrissey, que o Johnny Marr roubou tudo que pode das linhas de guitarra da formação original dos Pretenders. Do começo ao fim vai gostosinho (minha heterossexualidade está ameaçada).
4. "Clap Your Hands Say Yeah" - Clap Your Hands Say Yeah. Chupação descarada do Talking Heads, mas já que o David Byrne esqueceu como é que se faz música boa, vale pela diversão. O que já vi ao vivo me pareceu sem sal, mas no cd engana.
5. "Impeach My Bush" - Peaches. Ela merece. Ela é escrota. Ela vai te comer, não importa seu sexo. O cd mais rock and roll do ano. E o melhor título também.
6. "The Trials OF Van Occupanther" - Midlake. Belas melodias para aquelas tardes em que você acha que sexo é um negócio meio nojento e pensa em levar sua namorada para jogar pedrinhas no mar e matar ela de tédio com possíveis referências a existencialistas franceses. Que merda. Ms a banda é legal, apesar de dar sono nas meninas.
7. "Powder Burns" - Twilight Singers. Greg Dulli é o cara. Nunca dá mole, mesmo quando toca com o ex-guitarrista da Alanis. Dizem que o Afghan Whigs vai voltar, mas tanto faz, o Twilight Singers já está igualzinho ao Afghan Whigs mesmo!Só que a versão remix de "I'm Ready" feita pelo Lo-Fidelity All Stars ainda é melhor que a original.
8. "Beams" - Presets. Vamos dançar. Mas é para dançar com música boa não é com aquela bosta de Klaxons não. E mais, nunca foram citados pelo Lúcio Ribeiro, o que talvez queira dizer que sejam eles os melhores da lista. Bateria, teclados e mais boiolice. Não tem jeito, o rock é gay.
9. "Under The Iron Sea" - Keane. E tome cacetada na minha cabeça, mas eu adoro essa banda. Esse rapaz Tom canta igual a um jovenzinho eunuco daqueles que a igreja católica apreciava há um tempinho atrás. Ficou ruim para o Coldplay agora.
10. "From The Cliffs" - Guillemots. Se saíram muito melhor nesse EP do que no CD,que é meio confuso e arrastado. "Trains To Brazil", em homenagem ao brasileiro Jean sacudido pela polícia inglesa (vai morar lá, vai) é linda linda e "Made Up Lovesong #43", nem versos como "Love you with sparks and shining dragons" consegue estragar. E ainda tem guitarrista brasileiro na parada. Espero q ue a polícia inglesa não aterrorize esse também.

Gostou não? Me mostra a sua.

Não Volte Para Casa De Pau Duro

Eu nasci em um salão de beleza
Meu pai era cabeleireiro
Minha mãe era uma garota para quem você podia ligar

Quando você ligava, ela sempre estava
Quando você ligava, ela sempre estava
Quando você ligava, ela sempre estava
Quando você ligava, ela sempre estava
Quando você ligava, ela sempre estava

Mas não volte para casa de pau duro
Isso só vai te enlouquecer
Você pode sacudí-lo (ou quebrá-lo) com a sua Motown
Mas é impossível derretê-lo na chuva

É impossível derretê-lo na chuva
É impossível derretê-lo na chuva
É impossível derretê-lo na chuva

Eu olhei por trás de todos esses rostos
Que te põem de joelhos ao sorrir
E os lábios que dizem, venha, prove
E quando você tenta, te obrigam a dizer por favor

Quando você tenta, te obrigam a dizer por favor
Quando você tenta, te obrigam a dizer por favor
Quando você tenta, te obrigam a dizer por favor
Quando você tenta, te obrigam a dizer por favor

Ah, mas não volte para casa de pau duro

Lá vem sua noiva, de véu
Aproxime-se, verme, se tem coragem
Aproxime-se, com seu rabo, macaco
Uma vez sua, ela sempre estará

Uma vez sua, ela sempre estará
Uma vez sua, ela sempre estará
Uma vez sua, ela sempre estará
Uma vez sua, ela sempre estará

Ah, mas não volte para casa de pau duro

Então eu trabalho no mesmo salão de beleza
Atado ao velho baile de máscaras
O batom, a sombra, o silicone
Sigo a profissão de meu pai

Sigo a profissão de meu pai
Sigo a profissão de meu pai
Sigo a profissão de meu pai
Sigo a profissão de meu pai.


LEONARD COHEN

Quando eu escrever assim, aí sim eu começo a usar golas rolê.

Semanas Astrais

Todos os posts agora serão sobre o Astral Weeks.

Astral Weeks - Van Morrison

I'm caught one more time down on Cyprus Avenue. Não tem jeito, vez ou outra eu passeio por lá e pior que nem fico assim tão feliz. Eu sofro. Eu canto junto e estrago a música. Eu tento entender o mistério e falho e me assombro cada vez mais com a força e a beleza desse disco. Van Morrison é o melhor cantor da música pop. Tá, ele vai lá e suga o que pode de Ray Charles. Ok, a soul music sessentista está cheia de vozes angelicais e demoníacas, perfeitas. Mas a questão é essa. A humanidade da voz do irlandês mal-encarado.
Van canta com desespero. Muitas vezes sua voz soa anasalada e estrtidente. Em "Madame George", repleta de goodbyes inevitáveis, trágicos, ele não consegue as notas que pretende. Mas ele tenta heróico no auge dos seus vinte e poucos anos. "And the love that loves to love the love...And the backstreet and the backstreet..." Do que ele está falando meu Deus? "Dry your eye your eye your eye your eye your eye...say goodbye...".
Os primeiros versos do disco não querem dizer nada. "If I ventured in the slipstream/between the viaducts of your dream" são o tipo de verso que fazemos quando a mulher que a gente deseja caminha (paira) por ruas inatingíveis, vestida em roupas impossíveis, hipnotizando até as bombas de gasolina, fazendo flores crescerem pelas rachaduras do asfalto. "Step right up, ballerina". Só que ela escolhe o outro cara.
"I'm nothing but a stranger in this world". O dano já está feito. (Era uma tarde de chuva, juro. Eu tinha um walkman em algum lugar dos anos 90. Estava na Ilha do Fundão, eu vagava por lá naquele tempo. Astral Weeks me possuiu naquele dia e nunca mais saiu. Eu estava triste, eu estava apaixonado por essa menina que mentia compulsivamente e eu mentia que era June e Henry Miller,mas não era, era só tristeza, era só o amor e seu jeito descuidado...)
"Beeeeeesiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiide yooooooooooooooooooooou, darling". Aqui é a perfeição. O instrumental é esparso, incompreensível, harmonia aleatória, erros, acertos. E aquela voz que faz qualquer coisa faz sentido.
"Sweet thing". E flautas fazem sentido. O baixo que desrespeita acintosamente as notas de todas as músicas faz todo o sentido. Isso não é jazz, isso não é folk, isso não é rock and roll de maneira nenhuma, isso é a música ancestral, direto do coração, isso sempre existiu desde que a primeira mulher da caverna deixou, descuidada, um homem das cavernas , dos mais esquisitos e solitários, com o olhar perdido.
"The Way Young Lovers Do". Não consigo pensar em nada mais bonito. Nos metais apaixonados big band, no violão excitado, a voz e avoz e a voz de Van Morrison, e o baixo igualmente delirante. Essa música desafia qualquer descrição, ela não é sobre a paixão de dois corações jovens, ela é essa paixão. Você já sentiu isso, se não sentiu, sua vida foi um fracasso. E como qualquer paixão, ela rapidamente incendeia e some, curta, porque a alegria que ela parece promover na verdade é trágica, porque sabemos que aquele êxtase já começa a acabar desde o primeiro acorde.
E o tempo vai passando nas semanas astrais. "Madame George" adeus adeus, "Ballerina" dance afinal o que se pode fazer? "Slim Slow Slider" é assim: "Everytime I see you I don't know what to do" e um som esquisito que parecem porradas no corpo do violão, enquanto o resto do instrumental parece se afogar lentamente.
Ninguém mais, nem o mestre Van conseguiria igualar essa obra-prima. Se tentasse, ficaria louco. Gênio como é, foi fazer algo mais saudável. Buscou uma musa mais estável, uma banda menos insana e fez o absurdamente bom "Moondance" e continuou até hoje criando música da melhor qualidade.
Se você quer uma crítica boa mesmo sobre esse disco, busque na net a de Lester Bangs. Eu não tenho o distanciamento crítico, eu sou um medíocre apaixonado.

Saturday, December 16, 2006

Já Era

- E aí, que horas são?
- 24 divididas em 2 períodos de 12.
- Boa essa!
- Qual?
- Você não toma jeito!
- Não, não.
- Mas já está quase na hora.
- Não, já passou da hora faz muito tempo.
- Por que você não me avisou?
- Eu esqueci.
- Quê que a gente combinou? Você tomava conta das horas e eu...
- Você por acaso fez a sua parte?
- Claro que fiz!
- Ah, fez...
- E agora?
- Agora já era.
- Talvez não.
- Acho que sim.
- E se a gente continuasse sem ligar para a hora?
- Sem chance.
- Que merda!
-É.
(Silêncio desconfortável)
- Que horas são agora?
- Faz diferença?
- Claro que faz!
- Não era pra ser antes?
- É. Já era.
(Silêncio breve e resignado)
- De repente é até melhor...
- O quê?
- Ser assim.
- Acho que não.
- É, pra falar a verdade eu também acho.
- A gente podia seguir em frente como se nada houvesse acontecido.
- Mas...fora de hora...na hora errada?
- Por que não?
- Não parece certo.
- Certo não é...
- Melhor esperar.
- Esperar o quê?Não me lembro se eu sei o que se espera...
- Sei lá, esperar.
- Vai ficar cada vez mais tarde.
- Cada vez mais distante da hora certa.
- E mais escuro.
- Mais frio.
- Sabe, é melhor nem falar mais...
- É.
-...
-...
(Silêncio incômodo)
- Não consigo.
- O que?
- Ficar sem falar.
- Eu consigo.
- Consegue nada!
- Se você parar, eu posso ficar em silêncio para sempre, que nem uma estátua.
- Sem se mover também?
- Talvez.
- Duvido.
(Silêncio razoavelmente disciplinado)
- Viu?
- Não.
- Como não?
- Eu fechei os olhos, não percebeu não.
- Por que?
- Não queria ver.
- Mas você percebeu o silêncio?
- Não ouvi barulho nenhum.
- É a mesma coisa.
- Não é a mesma coisa.
(Silêncio até certo ponto incômodo)
- Lembra quando te perguntei que horas eram?
- Ahn.
- O quê que você respondeu?
- Que eram 24 horas divididas...
- Isso mesmo. Eu não concordo.
- Ah não?
- Não. Eu acho que cada hora é diferente.
- Nenhuma é igual?
- Nenhuma.
- Então elas nunca se repetem?
- Não. cada hora é uma nova hora que não tem nada a ver com as outras.
- A não ser o fato de que são horas todas elas.
- Sei lá, nem nisso se pode confiar.
- É.
- Então você concorda comigo?
- Não!
- Mas você disse "é".
- "É" não é sim.
- Mas você disse "é" depois de uma afirmação minha!
- Eu não estou prestando atenção.
- Desisto!
- Desisitir é algo que sempre se pode fazer.
- Filosofando agora?
- É só a gente falar algo menos trivial que já dizem que estamos filosofando!
- Tá me chamando de estúpido?
- Eu não disse isso.
- Eu devo ser um estúpido mesmo!
- A possibilidade existe.
- Você nem percebe que isso faz de você no mínimo a companhia de um estúpido.
- Você não me faz companhia.
- Pelo que me consta você não está sozinho.
- Todo mundo está sozinho.
- Quê que deu em você?
- Nojo.
- De quê?
- Quase tudo.
- Coisa óbvia!
- Não acho óbvio!
(Silêncio óbvio)
- Confesso que às vezes também tenho nojo.
- Depois que eu falei, fica fácil né?
- É impossível se comunicar com você.
- É, não é fácil.
- Não sei por quê eu insisto
- Mas quem garante que é possível...
- Você não ouve...
- ...se comunicar com quem quer que seja...
- ...é pura perda de tempo!
- ...é pura perda de tempo!
(Silêncio surpreso)
- Parece que concordamos enfim!
- Preciso dizer uma coisa. Preciso muito.
- Diga.
- Eu te odeio.
- O quê?
- Eu te o-d-e-i-o.
- Ah tá...Tinha entendido outra coisa.
- Entendeu o quê?
- eio...deio...feio...algo assim...
- Eu tinha que dizer...
- Desculpe não ter entendido.
- Que diferença faz?
- Toda. Eu não entendi, é como se você não houvesse dito.

FIM, por ora.
O passado é ficção.

Friday, December 15, 2006

Mulher é concreto, mas cisma que é abstrato.

Eram Dois

Eram dois. Eram dois brincando de ser um. Belos, mas ele belo como um garoto e ela bela como uma menina. Eles tinham esse plano de segurar o mundo todo, cada pedaço de terra e água, e mesmo areia, vento e gás nas palmas abertas de suas mãos. Como todos os que sonham com força demais nem desconfiavam o que fariam se conseguissem o que desejavam, caso se tornasse real. A pergunta aqui é minha, não era deles e pode ser sua: se você junta todo os sonhos você tem uma realidade? Suponho que seja um pouco mais complicado.
Ela é a minha favorita, por isso começo por ele. Ele que seria a regra de onde ela transborda. Ele que não era triste até ficar triste. E a verdadeira tristeza é que eles eram um só num segundo e a natureza exige movimento. Ele a amava com urgência, porque esse é o jeito tolo dos homens e porque pressentia o inevitável. Essas nuvens marrons, esses pássaros negros voando, coisas que ele roubara também. É aqui que eu digo que ele roubava. Mas não roubava nada de uma vez, inteiro, era sempre em pedaços iguais. Era o espaço destinado à geometria em sua vida. Em casa sozinho, congelava cada pedaço e pendurava em algum lugar alto. Ela achava lindo, ele achava a vida. Ele roubou vários pedaços dela por causa daquele pressentimento que falei.
Ela é a minha favorita, por isso a guardo para o fim, ou para perto do fim, que o fim é triste e eu odiaria vê-la triste. Preferia sim arrancar um olho dele. A verdadeira tristeza é que eram dois e não há o que fazer quanto a isso. Se cada gota de chuva é um absurdo de sentidos, que dirá ela que trazia consigo cada dia de chuva. Cada noite e cada tarde também, embora essa divisão só faça sentido para nós, incluindo a ele. Ela roubava as coisas tudo de uma vez, inteiro, porque achava mais fácil guardar uma coisa só. Quando o sol estava forte ela usava tudo que roubava para fazer sombra. Não queria falar mais dela que dele, mas sou homem, é inevitável. Ela o amava sem maus presságios, porque mesmo menina sempre soube que acaba e começa e acaba. E começa.
Eram dois juntos, mas os deuses tiveram inveja. De algum jeito pernicioso, mau e implacável como só Eles podem. O garoto e a menina ouviram a música desde que ela começou lá longe até desabar sobre eles. Quando a música acabasse só haveria um dos dois de cada lado.
Você está invadindo um pesadelo particular
Tenha a gentileza de desaparecer
Era bem mais divertido quando você me queria bem.

Ou então confundi a vida
Com outra coisa mais divertida

É incrível como você pode passar a vida inteira
Passar a vida inteira
Passar a vida inteira
Você é maior que a sua dor
Não importa o quanto doa
Você é maior que a sua dor
Repita todo dia
Você é maior que a sua dor

Repita isso
Até que a dor te derrube
Sob o sol impune do verão do Rio.

E mesmo então
Continue repetindo

Você é maior que a sua dor.

Eu escrevi isso em 2004, enquanto uma doença degenerativa impiedosa transformava meu pai numa máquina que emperrava aos poucos. 16 de Outubro, para ser exato. E não passou por completo.

"Seu Sanduíche Favorito"

Deixe suas expectativas para sua irmã mais nova.
A certeza de que nada vai ser como você espera te deixa livre.

Todo dia o mundo acaba para alguém.

A mão divina pode te alcançar
na primeira mordida do seu sanduíche favorito.

Deixe suas expectativas pr'aquele seu primo estúpido.
O passado e o futuro inatingíveis
Brinquemos com o presente inaceitável.

Todo dia o mundo acaba para alguém.

Mas quem quer ser livre, assim no meio da rua, ao meio-dia?
Ela já causava tumulto suficiente sendo uma bela mulher sozinha numa mesa de bar. Jogou o cigarro confiante em sua pontaria, observando as voltas que ele faria no ar, calculando os movimentos. Fria. Se ela fosse de fato a palavra não causaria o estrago na mente - é, na mente, onde tudo realmente acontece, quem foi o cretino que localizou qualquer coisa no coração? -, não a faria ferver. Os copos de vinho só aumentavam sua sede.
"Será que mamãe teve um orgasmo na noite em que fui concebida?". Pelo menos daquela vez. E continuava ardendo algo familiar, ela não se recuperara ainda de ter nascido. O álcool acelerava tudo, mas a vida levava um segundo eterno ou milhares de horas arrastadas? Tanto faz a resposta, o tempo sempre passa e não há nada que não seja perda de tempo.
"Vou ligar para ele então".
- Oi. - ela disse.
- Oi! Desculpa...Eu...não queria...dizer...
- Queria sim.
- Não queria!
- Disse, é o que fica.
- Desculpa...
- Não importa.
- Quero te ver pra...
- Mesmo? Ok. Vou voltar pra você.
- Ah, meu bem...
- Mentira. Não vou te ver nunca mais.
Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu. Voltou para a mesa, acendeu outro cigarro, deu mais um gole, etc. Mas aqui a história já tinha acabado.
O rapaz piadista olhou para baixo, da varanda do sexto andar, e se você fosse ele, veria uma manhã cinza pelo filtro de seus olhos marrons. Veria também um beija-flor colhido no ímpeto de beijar algo além das folhas úmidas das árvores, um adolescente acompanhando o vôo do pássaro,e uma jovem senhorita de cabelos oxigenados que preferia estar na cama a essa hora.
Aos olhos do rapaz que infelizmente não puxara aos belos olhos verdes de seu pai, nada era belo. Ele contava menos piadas ultimamente e ocupava seus pensamentos com as questões mais variadas sobre um corpo humano em queda livre. Doeria? Teria êxito ao menos nisso, em por fim nesse desperdício? Estariam os espíritas certos e continuaria o sofrimento a despeito dos ossos quebrados?
Ele não estava triste. Não sentia nada além da curiosidade sobre as perguntas que se amontoavam na sua mente. Quando as piadas terminam até para o palhaço, é hora de se preocupar. Subiu lentamente no parapeito, sentindo o vento frio da manhã no seu rosto em sem pensar duas vezes pulou.
Não, ele não pulou não. Poderia ter pulado, talvez tivesse sido melhor se o fizesse, mas não pulou. Pelo sim pelo não, deixou-se levar, o que é sempre mais fácil.

When The Music's Over, yeah

Por princípios e a princípio sou contrário a músicas com mais de, digamos, três minutos. Na quase totalidade dos casos, canções que passam desse limite costumam afundar em exercícios de egolatria, auto-indulgência e empulhação, com solos, mudanças de andamento e/ou acordes previsivelmente imprevisíveis, que os digam os malas progressivos.
Todavia, "When The Music's Over" dos Doors consegue a façanha. Em seus 11 minutos,quase tudo de bom que a banda criou ou explorou no universo pop está presente. Experimental, melancólica, melódica, raivosa,surpreendente, pungente, quantas canções suportam tantos adjetivos sem que sejam meros delírios de um fã sem senso crítico?
Robbie Krieger nos faz esquecer, ou talvez ainda não fosse verdade naqueles tempos, a cretinice que são os solos de guitarra, criando um desvairado exemplo, algo entre escalas inusitadas e notas simplesmente "erradas", com duas guitarras quase gêmeas, encharcadas de um delay fantasmagórico, uma saindo de cada caixa de som (o paraíso era stereo. Só o paraíso over é 5.1).
Jim Morrison nos brinda com uma de suas melhores letras, com frases de efeito como "A música é a sua única amiga até o fim" (e não é mesmo - sem desmerecê-los, charmosíssimos comentadores deste -?), ou ainda "Cancelem minha inscrição para a ressurreição/Enviem minhas credenciais para a casa de detenção/Tenho uns amigos lá dentro", "Queremos o mundo e o queremos agora!". Isso até chegar a berros tão cheios de agonia que nem mil bandas de trash-speed-hardcore-hiper-metal conseguiriam sequer sonhar em igualar.
Ray Manzarek segura a base nos teclados, só para nos lembrar de que há algo de blues na composição. Seus acordes e arpejos nos mostram de qual solo a música dos Doors decolou. Sem falar na sensacional linha de baixo, responsável por um dos momentos mais marcantes e particulares da música pop, em que Morrison canta acompanhado apenas do baixo feito no órgão, rodedao do silêncio mais eloquente possível.
John Densmore passeia no seu kit, dando umas rufadas na caixa que se assemelham a rajadas de metralhadora, certeiras sempre.
Desfecho sublime de um disco que ainda tem "Strange Days", "Moonlight Drive", "Love Me Two Times", "People Are Strange", "You're Lost Little Girl"...

Tartaruga do Egito

Na esquina onde os moleques do meu bairro discretamente fumam maconha, ouvi essa: "Minha patroa tá com uma tartaruga do Egito, casco de mármore, casco de mármore". Gostaria de fazer uma ressalva de que não sou inimigo dos maconheiros em geral, só dos hippies. Na verdade nem deles. Eu tenho um coração bom e uma mente má, ou talvez seja o contrário.
A psicodelia das esquinas. As esquinas psicodélicas.

Paul McCartney Estragou A Day In The Life


Éééééééé. Isso mesmo. "I'd love to turn you on..." com aquele reverb maravilhoso na voz do beatle de óculos, aquela orquestra caindo ladeira abaixo e o que vem depois. "Woke up, fell out of bed..."Ah peraí, pô.

Thursday, December 14, 2006

A sabedoria de Jean Paul Sartre e Robert Crumb

Simone De Beauvoir, esposa do estrábico ventríloquo francês Jean Paul Sartre.
Modelo de Robert Crumb.

Pet Sounds


Todo mundo já sabe da genialidade desse aí do lado. Se você não sabe ainda, deixa pra lá, agora não adianta mais. Vá até a janela do seu apartamento e pule.
Eu escolhi falar nessa coisa linda porque, na minha opinião é o MELHOR de todos os tempos, sem comparação. Contudo, sendo a obra-prima que é, muito pouco resta para ser dito a respeito
desse disco. Em qualquer lista de melhores que você for procurar (e talvez você não devesse ficar por aí fuçando essas listas) e na qual haja um mínimo de coerência e inteligência, certamente esse trabalho do doente mental do Brian Wilson (Dele só. Os outros não gostavam do nome, estranhavam a estrutura das canções, a temática das letras. Bando de pregos. Principalmente o Mike Love. De dois em dias eu acordo com essa vontade incontrolável de dar porrada no filho da puta do Mike Love. Tá, eu sei que ele está velhinho agora, mas foda-se. Escroto filho da puta.) vai estar.
Só me resta falar das sensações e impressões que tenho toda vez que ouço. Toda vez que eu ouço. A introdução de "Wouldn't It Be Nice" é aquele prenúncio do paraíso, tipo a mulher que você ama dizendo "sim". Você quer que aqueles segundos em particular não passem nunca mais, que aqueles segundos durem para sempre, porque dali para frente não é possível ficar melhor. Mas fica. "You Still Believe In Me" e aquele "aaaaaaaaaaaaaaa" em que você vê os anjos cantando e quer chorar junto com ele enquanto ele canta "I want to cry". E eu não consigo ficar sem cantar junto "I could try to be big in the eyes of the world/What matters to me is what I can be to just one giiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrl". O belo e perverso poder das melhores canções de fazer a gente pensar que esse negócio de gostar dos outros é bom. Tá.
Dizem que ele fez jejum, rezou e o caralho a quatro para compor "God Only Knows". Então Deus deve existir mesmo, porque nessa música não tem nada que não seja perfeito. Ela devia ser usada para converter ateus, ou como prova de índice de humanidade: Ouviu e não se emocionou? Não é humano, joga esse merda no moedor de carne.
Está tudo lá. Melodias que te dão uma rasteira, zombando do pop sessentista e suas fórmulas, experimentalismo com talento (viu como dá?),orquestrações catadas do Frank Sinatra e do Phil Spector, amigos que não entendem porra nenhuma do que você quer fazer, o amor que está aqui hoje e amanhã vai embora tão cedo, a babaca da Caroline que corta a porra do cabelo e fode com tudo (algo me diz que ela cortou, fez escova e perdeu uns quilinhos extras também, mas isso é especulação minha).
Ahhhhhhhhhhh. Vou parar aqui antes que caia naquele clichê básico de citar Beatles, como em toda e qualquer crítica desse disco. E isso não é uma crítica, é uma declaração de amor incondicional. Vamos lá, de volta à primeira faixa.

Considerações Sobre A Arte De Ser Foda ou Wild Mood Swings

Eu sei que estou extraordinário nessa foto. Por incrível que possa parecer, foi mais difícil achar o bosque do que confeccionar a roupa. Gostaria de esclarecer que a espada é real e que, uma vez desembainhada, ela tem que ser usada. Faz bem a gente ter uma roupa para quando a gente quer dar a volta por cima. Foda, foda. Eu, eu.

Tolo Sentimental

"The woman I love is not content. The life I made it ain't what I meant". Me sentindo inútil e horroroso na manhã de quinta-feira. Nuvens cruéis encobrem meu morro predileto e a única coisa bonita da minha vida são meus dois gatos, Ceará e Miss Kittin. Tem uma montanha de trabalho me esperando e eu odeio trabalho quase mais que tudo.
Um ex-colega de trabalho racista e babaca uma vez disse que "homem não fica deprimido, homem fica puto". Olha que tipo de gente eu já estou começando a citar.Vamos de Sparklehorse então: cantando de olhinhos apertados "All I want is to be a happy man". Mais uma vez, agora com as mãozinhas para o alto: "All I want is to be a happy man". Bom, bom, não funciona nem um pouco.
A musa virou pó. E não estou falando de mulher aqui ô cacete. Pego no violão e não sai nada, daí a sensação de inutilidade e horror citada lá em cima. Esse post ia ter alguma coisa que não vai ter mais, porque estou cortado em quantas partes?

Wednesday, December 13, 2006

"Maldade"

Maldade

Ela nunca havia usado a palavra atormentado
Olha só o que eu faço com boas garotas
Depois de 13 horas admirando o teto do seu quarto
Olha só o que eu faço com boas garotas
Novas utilidades para a água a 100 C
Olha só que eu faço com boas garotas
Terror multiplicado nos mil olhos da mosca presa à teia

Isso não é divertido
Isso não é novidade
Isso é maldade
Mas como evitar?

A menina que ela foi sumiu na estratosfera
Olha só o que eu faço com boas garotas
Ao invés de flores, tubulações de esgoto
Olha só o que eu faço com boas garotas
Quem está patinando no próprio sangue não vai atrás do Trio Elétrico

Isso não é divertido... etc etc




Cante com uma tesoura enfiada em algum lugar que doa.
O próximo post terá uma estrela pornô japonesa.

Um blog é algo ruim

Dia movimentado. Acho que vou fazer um post por hora e alimentar ensandecidamente minha sanha exibicionista. Acabei de brigar com minha melhor amiga porque ela acha surpreendente essa atitude de ter um blog. Talvez ela ache que eu não devesse escrever. Eu também acho que não deveria, mas viciei nessa merda desde aquela adolescência da qual eu falo um dia. Eu havia prometido pássaros para esse post, mas eles todos morreram, os que não morrreram vão morrer, tenha certeza disso.
Então eu estou sendo muito influenciado pelos meus "novos amiguinhos", como ela disse? Não tem nenhum amiguinho aqui agora. Aliás, ela nem disse amiguinhos, ela citou nomes, mas ainda não cheguei a esse ponto de expor as outras pessoas. Aqui é a minha vitrine, porra, só eu apareço. Quer melhor?
Deixa eu tentar fazer esse post ser algo mais do que um ataque de raiva que não interesse a ninguém senão eu mesmo. Deixe-me ver... Ok. Ouvir Nick Cave & The Bad Seeds de novo com "I'm Gonna Kill That Woman" é a melhor opção para uma mente em curto-circuito. Eu escrevi uma música chamada "Maldade", que foi recebida sem entusiasmo pelo meu sócio no meu obscuro projeto musical pop. É a respeito de meu suposto prazer de torturar psicologicamente as mulheres com quem me envolvo (gosto de falar assim porque faz parecer que foram muitas). Confesso que esqueci que elas prefeririam tortura física. Vou voltar para a cela acolchoada.
O próximo post terá tesouras.

Sonho da madrugada de 13.12.2006

Estamos em guerra. Há tiros de todos os lados e balas brancas cruzam o ar, passando MUITO perto de mim. Estou no meu velho bairro, na casa da minha mãe. Ninguém sabe o porquê da guerra. Aviões passam voando bem baixo e bombardeiam o bairro. Que bom que meus sonhos apocalípticos voltaram.
E pensar que o Kerouac escreveu aquele livrinho picareta com o seus sonhos. E pensar ainda que há jovens em 2006 lendo escritores beat, fumando maconha e tentando soar como o Led Zeppelin. Pensar geralmente leva a isso, essa nada leve sensação de enfado e melancolia. Ainda bem que eu não fico mais melancólico, porque descobri a fórmula secreta da existência feliz e plena (aguardem meu livro de auto-ajuda). Enfadado eu só fico por causa daquela coisa do sol que o cara canta naquela música do Magnetic Fields. Foda-se que as janelas estão fechadas, meu caro, eu quero que você brilhe.
A razão da existência desse blog é que eu REALMENTE acho que mais mulheres deviam sentar periodicamente no meu colo. Afinal women are evil and evil is fun. "I've loved so many times and I've drowned them all", o que afinal de contas é mais polido que cortá-las em pedacinhos.
A palavra do dia é "rofisto"; aquele tipo de cara que está ficando calvo, mas deixa a parte de trás do cabelo grandinha, sabe?
"I'm Gonna Kill That Woman" com Nick Cave & The Bad Seeds, é a pedida de hoje.
O próximo post terá passarinhos.

O primeiro

Estou no escuro, sozinho e pairando sobre as águas. Que coisa. Estou começando um blog a essa altura. Nada mal para quem perdeu a virgindade aos 21 e aprendeu a andar de bicicleta aos 14. Honey, honey, depois de certa idade ser chamado de criança passa a ser elogio, e digo honey aqui por causa dos irmãos Reid, e porque não tem honey nenhuma.
Tenho tido vontade de escrever, apesar da absoluta falta de assunto. A falta de talento é mesmo uma severa limitação. Estou dançando à beira do vulcão extinto, que não sou bobo. Estive pensando nessa música em que chamo essa companheira hipotética para se unir a mim numa cruzada contra "aquela" gente, mas acho que ela vai dizer não. Estarei falando do sonho da última noite no próximo post. A palavra inventada de hoje é Esbolegar; significa torturar lentamente enquanto se canta uma canção singela (veja Laranja Mecânica. Ou não veja. Kubrick is dead).
OK Kids.
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